As icónicas cenas de Pamela Anderson a correr em câmara lenta pela praia são uma recordação vívida da série televisiva norte-americana Marés Vivas. Assim como Farrah Fawcett, conhecida pelo seu papel em Os Anjos de Charlie, se tornou um ícone sexual feminino da década de 1970, também Anderson ganhou destaque nessa área nos anos 1990 com a personagem C. J. Parker.
Baywatch: Marés Vivas, com realização de Seth Gordon, é inspirado na série de sucesso iniciada em 1989. Com o filme renascem as personagens Mitch Buchanan (Dwayne Johnson), Matt Brody (Zan Efron), Summer Quinn (Alexandra Daddario), C. J. Parker (Kelly Rohrbach) e Stephanie Holden (Ilfenesh Hadera) no contexto dos anos 2000. Porém, fica suspensa a questão sobre o real objectivo de Baywatch: Marés Vivas. Terá pretendido o realizador manter-se fiel à série original ou, por outro lado, enveredar por uma recriação cómica de Marés Vivas? Independentemente da resposta, o desfile de músculos e caras bonitas permaneceu imaculado.
A série que antes acompanhava o dia-a-dia dos nadadores salvadores das lotadas praias de Los Angeles, na Califórnia, muda-se agora para Emerald Bay, na Flórida. Dwayne “The Rock” Johnson é Mitch, personagem a que David Hasselhoff deu corpo de 1989 a 1999. Regressam os salvamentos heróicos e uma equipa renovada pronta a proteger a sua praia. No filme de Gordon, proteger a praia implicará desmantelar uma organização criminosa envolvida em tráfico de droga.
Baywatch: Marés Vivas é um filme animado e aposta numa excelente dose de corridas em câmara lenta. Não alcança, contudo, o charme da série dos anos 1990. Aliás, o pouco charme que tem é rapidamente aniquilado com cenas inúteis para o decorrer da acção. Não contribuem com nada, excepto atrasá-la ou forçar uma gargalhada – sem sucesso – no espectador, não estivessem ridiculamente fora de contexto. Seja John Bass com o pénis preso numa espreguiçadeira, Zan Efron a examinar os genitais de um cadáver ou a crença de que a satisfação de determinadas necessidades fisiológicas é um requisito para a comédia, o humor do filme vai esmorecendo. São gags ocasionais como os apelidos que Mitch atribui a Matt que oferecem os momentos de genuíno entretenimento.
Por outro lado, a medíocre pós-produção de que é vítima pende entre o hilariante e o ridículo. Tendo em consideração a heroicidade cómica e os salvamentos inusitados da equipa, pressupõe-se que essa falha não seja realmente uma falha. Mas apesar da pobre utilização de técnicas digitais não descredibilizar o filme, há algo de desconfortável nos planos em green screen e na pós-produção de diversas cenas. Além de dificultar a imersão na história, retira-lhe vivacidade. É disto exemplo o iate a arder em pleno oceano, com partículas de fogo a lutar com Dwayne Johnson pelo protagonismo do filme.
O reboot de Marés Vivas é substancialmente mais divertido nos quase dois minutos de trailer do que nas quase duas horas de filme. É uma comédia de verão que pouco tem para oferecer. Além dos corpos esculturais, biquínis justos e decotados, e gags inesperados, Baywatch: Marés Vivas não soube aproveitar a maré.