Monstruosamente péssimo. Quando eu pensava que nada podia ser mais hediondo do que Uma Casa Cheia, surge aqui uma espécie de anti-cristo do cinema de animação para me crucificar durante mais de uma hora e meia. Não teve sequer a romana decência de me dar a beber vinagre da ponta de uma lança: lançou foi um enfarte de flatulências verdes e viscosas na minha direção. Cheirou tão mal e de forma tão espetacularmente arrebatadora que quem me visse na contra-luz do banco de trás julgaria estar a testemunhar uma recriação humana da Pietà de Miguel Ângelo.
Não é metáfora: é realidade. E sem recurso à escolha de comprimido azul ou vermelho, tentarei dar-te a melhor descrição possível daquilo que é, sem dúvida, a pior experiência cinematográfica que tive esta década.
O diálogo é lúdrico. Não culpabilizo os nossos atores da versão portuguesa (Rita Redshoes, Fernando Luís, Fernando Ribeiro [Moonspell] e Isaac Carvalho): são todos capazes de mais e melhor, mas o facto é que, mesmo não conhecendo a versão original, a tradução também não ajudou. Lanço aqui um repto a quem as faz: se está mesmo muito mau, porque não alterar? Que se lixem os gajos da versão original, é o vosso trabalho que está em causa.
A falta de emoção e movimentos praticamente inexistentes na animação faz dela, possivelmente, a pior que alguma vez vi: isto vindo de alguém que, apesar de estar longe de ser o maior connoisseur de desenhos animados deste estabelecimento, não deixa de ver 3 ou 4 séries de animação por ano e a sua quota parte de Pixar, Disney e, principalmente, Estúdios Ghibli. Aqui se nota a discrepância entre o trabalho efetuado por Holger Tappe (realizador) e sua equipa técnica, e pelos nossos atores: estive dependente das suas vozes para perceber o que as personagens estavam a sentir.
Epá, quase me esquecia de te apresentar as personagens! Como poderia eu ter falhado de forma tão redundante? Talvez, apenas talvez, porque o filme o faça também. Sendo sincero, fiquei com a ideia de que teria havido um erro no início da projeção. Como poderia um filme começar de forma tão estapafúrdia? Com morceguinhos fofos (qualquer semelhança com os Minions é “PURA” coincidência) a tocarem uma sonata no piano? Apresentando a jovem adolescente como uma atrapalhadinha, apaixonada pelo gajo de cabelo à Harry Styles? E o puto inteligente ao ser colocado de cabeça na sanita por um grandalhão que mal articula 3 sílabas? E o pai como um gajo que se peida sempre que está nervoso?
Vá, trocando por miúdos, o Drácula quer pinar a mãe Wishbone, por isso transforma a família toda nos monstros da Universal: vampira, Frankenstein, lobiputo e múmia. Pelo meio aparece uma bruxa meio russa, um múmio com um sotaque super racista e uma hippie que não fuma nada mas está sempre em altas.
Sim, senhoras e senhores, isto não é um sonho: este tipo de filmes ainda estreia em 2017. Não, senhoras e senhores, o Adam Sandler não o escreveu: embora não me espantasse.
Falta de originalidade é o mote. Combinando uma estrutura narrativa cansada, um desenvolvimento de personagens idiótico, atitudes completamente desprovidas de sentido e um intenso recurso à “reciclagem” de ideias provenientes de filmes de animação bem sucedidos (Hotel Transilvânia e Gru – O Maldisposto são as mais notórias vítimas deste furto), este é um filme em que eu não consigo, de boa consciência, aconselhar: a adultos ou a crianças.
É um desperdício de tempo e dinheiro? É.
É através de conteúdo deste tipo que se começa a estupidificar a mente da juventude? É.
Faz um favor a ti próprio: faz pipocas em casa, compra umas coca-colas para os miúdos beberem, desliga as luzes e vê uma animação merecedora da atenção deles. Vê a Princesa Mononoke ou Zootópolis. Vê o Divertida-mente ou Kubo e as Duas Cordas.
Faz um favor a ti próprio: evita Um Susto de Família.