Pablo Escobar e o Cartel de Medellín encerram em si uma mística que tem gerado documentários, séries de televisão, música e filmes. A personagem Escobar divide as pessoas e na Colômbia há ainda muitas feridas por sarar, quando passam quase 25 anos depois da morte do narcotraficante, em Dezembro de 1993.
Para alguns dos seus sicários, ainda hoje ele é como um deus, ao qual obedeciam cegamente, por mais selvagens que fossem as suas ordens. Para quem vivia na miséria na Medellín do início da década de 80, foi um benfeitor, que construiu casas para quem vivia na rua e deu dinheiro para quem lutava por sobreviver dia-a-dia. Para outros Escobar era um psicopata assassino, um narcotraficante que mergulhou a sociedade colombiana numa autêntica guerra civil durante os últimos anos da sua vida.
A escolha do título deste filme foi por isso muito feliz. Pablo Escobar é uma figura complexa e que raramente deixa alguém indiferente. É amado ou odiado. Apesar de manter relações extra-conjugais, amava sinceramente a sua mulher e o seu apego à família acabou por ser responsável pela seu fim.
Baseado no livro com o mesmo nome, escrito pela jornalista Virginia Vallejo, Amar Pablo, Odiar Escobar conta a história do relacionamento entre o barão da droga e a mais famosa apresentadora de televisão da Colômbia. O que começa como um relacionamento idílico, transforma-se num pesadelo, à medida que Escobar passa do homem mais poderoso da Colômbia e um dos homens mais ricos do mundo, para um homem acossado e paranóico, rodeado por inimigos por todos os lados.
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Para quem já viu as primeiras 2 temporadas da formidável série Narcos no Netflix, o filme reserva ainda algumas pequenas surpresas nesta história dramática. No filme não há qualquer reserva em mostrar a brutalidade com que Escobar geria o Cartel e a eficácia da sua organização. Há também algumas caras conhecidas no filme, que vão deixar os fãs de Narcos satisfeitos. Como em tantos casos, a realidade é muito mais surreal do que a ficção. O funcionamento do Cartel de Medellín e as atrocidades que foram feitas por todos os intervenientes na guerra contra o narcotráfico dificilmente podiam ter sido imaginadas por um argumentista.
Penélope Cruz e Javier Bardem são os actores que dão vida aos protagonistas desta história, o último tendo também a responsabilidade de produtor. A actuação do também casal na vida real é de grande qualidade. Cruz é perfeita na representação de uma mulher habituada a ser o centro das atenções, cortejada por todos os homens, habituada a uma vida de luxo, que atinge novos patamares quando inicia o relacionamento com Escobar. Barden aparece fisicamente transformado no filme e os seus olhos reflectem uma indiferença perante o sofrimento alheio que me fez lembrar o seu papel fenomenal em Este País Não É Para Velhos. Os dois actores são fenomenais na transformação das suas personagens, de duas figuras imponentes, poderosas e carismáticas, num homem e numa mulher perseguidos, paranóicos e histéricos, à medida que descem ao inferno ao qual, em última análise, foram conduzidos pelas suas próprias decisões.
Amar Pablo, Odiar Escobar é um filme dirigido de forma competente, com uma história que flui naturalmente, sem nunca parecer fora de controlo e com actuações de grande qualidade. É um dos filmes a não perder este verão.