Há cerca de três meses eu fui, cheio de boa vontade e entusiasmo, ver Batman v Super-Homem: O Despertar da Justiça aos cinemas, e depois foi o que foi.
Desde essa altura já pensei várias vezes se teria sido demasiado duro com o filme, se teria sido injusto. Cada crítica reflecte apenas uma opinião que surge de um estado emocional específico e num momento específico, e já me aconteceu mais do que uma vez gostar mais de um filme quando o volto a rever em casa, nas calmas.
Portanto quando se começou a aproximar a data de lançamento da Edição Ultimate Blu-Ray do Batman v Super-Homem: O Despertar da Justiça, com mais 30 minutos de cenas novas, voltei a ficar curioso por rever o filme. Vá, se calhar o filme não seria assim tão mau como eu me lembrava, e era possível que estes 30 minutos extra dessem uma nova perspectiva ao filme. Depois comecei a ver toda a gente na Internet, que já tinha visto a Edição Ultimate, a dizer que agora sim, o filme era bom, que esta era a versão que deveria ter estado nos cinemas, que o Zack Snyder afinal era mesmo genial.
Isso deixou-me entusiasmado! Porque eu queria que este filme fosse bom! Eu estava perfeitamente disposto a mudar de opinião em relação ao filme, e voltei a encher-me de boa vontade e entusiasmo para ver Batman v Super-Homem: O Despertar da Justiça como se fosse a primeira vez. Eu estava pronto para acreditar que o filme tinha sido estilhaçado na montagem, por causa da interferência dos estúdios malvados, e que agora o Zack Snyder tinha a oportunidade perfeita para mostrar ao mundo o filme que ele tinha em mente desde o início!
(SUSPIRO)
Para ser absolutamente honesto, esta versão do filme é de facto melhor do que a versão do cinema. Uma das minhas principais críticas era de que o ritmo estava completamente desorganizado, e que o filme estava a tentar fazer demasiada coisa em pouco tempo. Estes 30 minutos extra notam-se, e permitem ao filme respirar melhor. As cenas são mais lentas, o ritmo é mais compassado, temos mais tempo para absorver a informação que nos é dada. Isto faz maravilhas ao tom do filme, que consegue ser tão introspectivo e angustiado como provavelmente pretendia ser desde o início. É também particularmente bom para capitalizar numa das maiores qualidades da versão do cinema que são os visuais. Com mais tempo em várias das cenas mais importantes, temos realmente oportunidade de apreciar a excelente composição, cinematografia e emoção construídas.
Por outro lado este tempo extra e o ritmo mais lento deixam-nos mais tempo para nos apercebermos ainda com mais clareza dos erros que estavam na versão do cinema e que persistem neste filme. Quando eu me queixava de “Mas então o Super-Homem está a lutar contra o Batman porque não gosta dele? É mesmo só essa a motivação dele?” o que eu queria era uma motivação mais credível e satisfatória e não apenas mais cenas a mostrar porque é que o Super-Homem não gosta do Batman.
Quando eu me queixava de “A Lois Lane é uma personagem inútil que tem toda uma investigação jornalística confusa que no fim é irrelevante” o que eu queria era uma personagem menos donzela-em-perigo cujas acções tivessem impacto na narrativa, e não uma personagem com uma investigação jornalística ligeiramente menos confusa mas que continua absolutamente irrelevante para o enredo.
Quando eu me queixava de que “O plano do Lex Luthor é convoluto e não faz sentido” o que eu queria era uma resolução mais satisfatória no fim, e não mais cenas a mostrar mais pormenores desse plano convoluto que no fim continua sem fazer sentido. Qual é o objectivo de construir toda uma campanha para denegrir a imagem do Super-Homem e manipular durante meses o Batman para o levar a tentar matar o Super-Homem, se depois no fim o objectivo é libertar o Doomsday independentemente do resultado?
Ou seja, é verdade que as cenas extra do filme revelam mais da história de cada personagem e ajuda a justificar melhor as suas motivações, mas não servem em nada para tornar essas motivações mais interessantes. As cenas extra não servem em nada para resolver os problemas que o filme tinha originalmente.
este tempo extra deixa-nos mais tempo para nos apercebermos ainda com mais clareza dos erros que estavam na versão do cinema.
Adicionalmente, com uma oportunidade fantástica como esta para resolver variadíssimos problemas de montagem, Zack Snyder volta a insistir em manter inalteradas várias cenas e momentos narrativos que simplesmente não funcionam.
O Flash continua a fazer o seu aviso prematuro dentro do sonho do Batman, o Super-Homem continua a ir para o topo da montanha fazer birra e ter uma conversa artificialmente profunda com o fantasma do seu pai, a Mulher-Maravilha continua literalmente a ver o enredo principal desenrolar-se nas notícias até finalmente decidir intervir sem nenhum tipo de build-up, a apresentação dos outros heróis que aparecerão noutros filmes continua constrangedoramente longa, a cena da “Martha” continua tão desconfortavelmente inepta como da primeira vez que a vi, a Lois Lane continua inexplicavelmente a atirar a lança de kryptonite para dentro de água.
A cena final de pancadaria continua explosivamente satisfatória, mas agora ao fim de duas horas e meia já parece demasiado longa e cansativa. O Batman é ainda mais notoriamente inútil, e a Mulher Maravilha puxa poderes e habilidades do rabo com a esperança que compreendamos o que é que são e como funcionam.
Mais uma vez, é uma pena.
Foi pena da primeira vez porque o filme acabou como uma salganhada narrativa de boas ideias mal executadas e apressadas, e da segunda vez foi desperdiçada uma oportunidade de ouro para resolver esses problemas.
Em vez de uma revisão de uma obra que a redimisse e mostrasse a verdadeira visão do seu realizador, temos apenas um acrescentar de cenas que contribuem pouco para o filme e que redunda num cash-grab para arrancar ainda mais dinheiro dos fãs que tinham esperanças de ver alguma coisa boa na segunda tentativa, e que nos faz questionar se houve alguma visão do realizador para começar.