Woody Allen brinda todos os seus filmes com um toque pessoal narrativamente empolgante. Café Society, um romance absorvido pelo glamour de Hollywood da década de 1930, não só reitera a eficiência narrativa do realizador como a imerge num filme visualmente brilhante.
O esplendor fotográfico é da autoria de Vittorio Storaro, três vezes vencedor de um Oscar na categoria de Melhor Fotografia com os filmes Apocalypse Now (1979), Reds (1981) e O Último Imperador (1987). A atmosfera é pincelada de tons quentes e pastel, numa explosão de planos insignemente estudados. Uma belíssima experiência visual. A saborosa visão de Allen emoldurada na subtileza do olhar de Storaro.
A par da preciosa cinematografia, Café Society é o primeiro filme de Woody Allen a ser filmado com câmaras digitais, tendo o realizador priorizado o uso de película até à data. É curioso como o primeiro filme de Allen a dissociar-se da película é ambientado nos anos ’30. Uma relação paradoxalmente encantadora. O revisitar de uma época antiga através de uma interpretação contemporânea.
Café Society é um (quase) melodrama combinando os excessos de Hollywood com a riqueza de Nova Iorque. Uma história aprimorada por figurinos estupendos e sustentada pelas melodias do jazz da década de 1930. É um romance vitimado por dilemas sentimentais. Uma teia amorosa injetada com as habituais hesitações cruzadas entre personagens a que o realizador não foge por saber dominar com tamanha destreza. É também uma visão dicotómica entre as inquietações do universo das estrelas e as preocupações da classe média/baixa. Assim como em A Rosa Púrpura do Cairo (1985), estes dois mundos aparentemente distantes fundem-se através do romance entre Vonnie e Booby, interpretados por Kristen Stewart e Jesse Eisenberg, respectivamente.
Kristen Stewart ergue-se em esplendor numa interpretação ténue em emoção e dramatismo. Vonnie é uma jovem encurralada numa dualidade amorosa entre um produtor de Hollywood, Steve Carell, e o seu sobrinho Booby. A visão de Woody Allen conseguiu abjugar qualquer associação ao papel juvenil ao qual Stewart permaneceu vinculada, o da saga Crepúsculo. A atriz é o trunfo de Café Society.
Café Society é o primeiro filme de Woody Allen a ser filmado com câmaras digitais.
Woody Allen nem sempre consegue surpreender com Café Society, embora colmate essa carência com a elegância das típicas neuroses e dilemas existenciais identitários das suas personagens. Fá-lo, como lhe é habitual, num registo irónico mergulhado em crítica à superficialidade da dita sociedade de café, sustentada de aparências e alimentada a mexericos. Apesar de Café Society não ser um êxito, nem narrativamente tão requintado como o são Annie Hall (1977), Manhattan (1979), A Rosa Púrpura do Cairo (1985) ou até Meia Noite em Paris (2011), reconhece-se na sua essência a grandiosidade do realizador.
Já Booby asseverava: “A vida é uma comédia escrita por um humorista sádico”. Assim são os filmes de Woody Allen. Assim é Café Society.