Até hoje sempre existiram longas-metragens que pecam em variados aspectos durante o decorrer da sua produção, mas que, incrivelmente, chegam até ao público para nos relembrar o quão lastimável se tornou a indústria cinematográfica.
Como Enterrar a tua Ex, de Joe Dante, é terrível, começando pelo argumento vazio em conteúdo e claramente apologista da moda zombie, e terminando na concepção do próprio filme. Dante, a quem se atribui o mérito de Gremlins – O Pequeno Monstro, datado de 1984, e mais recentemente, em 2003, de Looney Tunes: De Novo em Acção, frusta-nos com a sua nova produção: a estória do romance obsessivo entre Max, apaixonado por filmes de terror, e Evelyn, uma ambientalista.
Os problemas entre ambos começam a fervilhar quando a decisão de viverem juntos se torna insustentável para Max. Evelyn revela-se cada vez mais ciumenta, controladora e obstinada, incentivando o rapaz a colocar um ponto final na relação. Contudo, no dia em que Max toma tal decisão, Evelyn é atropelada por um autocarro e morre. O jovem não se conforma com a situação, e antes que decida seguir em frente, passa os dias fechado em casa. Será em Olivia, um rapariga alegre e enérgica, que ele encontrará a pessoa ideal para voltar a amar e partilhar a sua paixão por filmes de terror. O que Max não previa, é que Evelyn regressaria à vida, como zombie, para imortalizar o namoro que ambos prometeram ser eterno.
Comprova-se a pouca eficiência na escrita do argumento, se atentarmos no motivo pelo qual Evelyn regressou à vida. Tal acontecimento é justificado, na tentativa falhada de exaltar um resquício de criatividade, por uma estatueta de diabo em forma de génio, que Max recebe na loja onde trabalha – um estabelecimento onde se vendem artigos relacionados com o Dia das Bruxas. Nesse mesmo objecto, vem especificada a sua capacidade de conceder qualquer desejo, embora o faça da forma mais assustadora possível. Sem acreditar, Max acaba por jurar amor eterno a Evelyn perto da estatueta. Pressupõe-se, portanto, que a namorada se tornou um zombie devido ao desejo que ambos demonstraram querer ver concretizado. Uma metáfora banal para: «tem cuidado com aquilo que desejas».
Sem comentários a quão sexista o filme se vai revelando, e como objectifica a mulher, desde o primeiro minuto. Basta ponderar acerca da atitude de Max, desdobrando-se cuidadosamente entre duas relações, não abdicando de nenhuma em prol ou detrimento da outra, e como as duas raparigas, vítimas do engodo (ou não), são completamente apaixonadas por ele, e se rebaixam a qualquer atitude. No entanto, na tentativa de disfarçar a ideia de estarmos perante um enredo machista, Max é retratado como um homem submisso.
Em adição, os actores não se prestam a mais emoção do que a exigida para o aval da produção. Estão de tal forma impregnados de apatia, que não se sente qualquer pingo de comoção. Anton Yelchin, no papel de Max, parece confuso a maior parte do tempo, não fazendo ideia da interpretação apropriada para cada momento do filme. Decide, então, optar pela coerência: representar exactamente da mesma maneira em todas as situações, quer se sinta veementemente incomodado pelo comportamento da namorada, quer veja o irmão morto no chão da sua sala, quer esteja entusiasmado a beijar uma rapariga, etc.
Alexandra Daddario, por sua vez, optou por mostrar o seu enorme e bonito sorriso em quase todas as cenas em que Olivia dá o ar da sua graça, se não todas. O papel que lhe foi atribuído, infelizmente, não se revela mais produtivo que isso. Assim, por ali se passeia, com a atitude típica da rapariga indecisa: «Beija-me!… Espera, é melhor pararmos. Ou então não… beija-me outra vez. Mas talvez seja melhor eu ir embora» e por aí adiante.
Travis (Oliver Cooper) é necessário no enredo, pois alguém teria de ser comido, literalmente, por Evelyn, interpretada por Ashley Greene, a actriz da saga Crepúsculo, agora corrompida para a concorrência zombie.
Para quem gosta de filmes de terror, Como Enterrar a Ex não é aconselhado. Para quem não aprecia filmes de terror, este também não é o filme indicado.