Muito de vez em quando há um filme que redefine o seu género. X-Men, o filme de 2000 do Byan Singer, começou a leva de filmes de super-heróis que conhecemos até hoje. Deadpool provou que é possível fazer-se uma adaptação 100% fiel à personagem, com humor negro e violência a rodos e mesmo assim fazer um filme que beira a perfeição.
Deadpool é o produto de verdadeiros fãs, fãs que entendem a personagem e que sabem trabalha-la como ninguém. É também o produto de total liberdade por parte do estúdio que os deixou fazer literalmente o que quisessem. O produto final é um ode à banda desenhada e a maneira perfeita de respeitar os fãs. É um filme de fãs para fãs.
O filme não quebra apenas a quarta parede mas quebra o paradigma dos filmes de super-heróis. Muito mais do que a história em si, o tom do filme veio redefinir o género. As piadas são muitas, tanto no contexto da história, como fora dela e são nessas vezes que a quebra da quarta parede é mais evidente. Deadpool não tem pudor em gozar com tudo e mais alguma coisa ou fazer referências arrojadas (veja-se a cena final). Tudo funciona e será um marco na indústria. A forma despretensiosa com que o filme foi feito caiu na perfeição na personagem. O arrojar é muito semelhante ao dos Guardiões da Galáxia, mas em Deadpool o deboche é total. Tudo é permitido. Tudo.
O filme está bem estruturado e o facto de ter tido um orçamento ínfimo é usado com mestria nas piadas. A história é contida mas conta o essencial sobre o assassino sem papas na língua. Tudo flui bem e somos levados pela história de forma natural sempre acompanhados de piadas que ultrapassam o absurdo (no bom sentido). Claro que a personagem tem muito mais a dar e os constrangimentos no orçamento fizeram-se notar no escopo da história. Tinha de ser tudo muito contido mas o argumento lidou bem com essas restrições e saímos da sala de cinema bastante satisfeitos.
Ryan Reynolds é o Rei em Deadpool. Ele nasceu para ser Deadpool e não hesita em gozar forte e feio consigo próprio. O filme serviu para se purificar de todos os pecados cinematográficos que cometeu até hoje. E isso é feito de propósito. Nós rimos das piadas que manda mas sabemos, e ele sabe também, que finalmente encontrou o seu rumo. Ser Deadpool.
O restante elenco está muito bem. Brianna Hildebrand está irrepreensível como Negasonic Teenage Warhead e a caracterização da personagem é tal e qual a banda desenhada. Morena Baccarin deixa-nos deliciados e T.J. Miller está no ponto como amigo desnaturado de Wade Wilson. Colossus é a cópia chapada da banda desenhada, bem como a sua voz e maneira de ser mas os efeitos foram mauzinhos. A cara estava pobre em efeitos especiais e o resto do corpo idem. Os vilões cumprem o dever não se destacando por aí além. Se tenho de apontar o dedo a alguma interpretação então tenho de falar da Leslie Uggams, que pareceu sempre deslocada da história e completamente irrelevante para a acção.
A realização é competente mas nãos se destaca. Tim Miller é um senhor nos efeitos especiais e este é o primeiro filme que realiza. O resultado foi mediano e se não tivéssemos o carisma de Ryan Reynolds o filme passaria despercebido. Os efeitos especiais foram bons, no entanto, nas cenas de acção mais complexas notava-se que não estavam polidos o suficiente. Mas não podemos criticar muito esse aspecto. Não nos podemos esquecer que o filme foi feito com um orçamento minúsculo.
Diverti-me imenso a ver Deadpool. Recebi aquilo que queria e, principalmente, recebi aquilo que o filme andava a prometer. Deadpool é O filme mais fiel à banda desenhada feito até hoje. Ponto. Não saias antes do fim dos créditos.