O filme Goosebumps – Arrepios de Rob Letterman é inspirado na série de 62 livros de ficção e terror escritos por R. L. Stine e publicados na década de 90. Assim como as histórias de Stine eram dirigidas ao público infanto-juvenil, também Goosebumps – Arrepios , a longa-metragem de 2015, o é.
O enredo do filme é banal, mergulhado nos ingredientes habituais de uma longa-metragem de entretenimento. Temos o protagonista, a rapariga por quem ele se apaixona num curto espaço de tempo, o pai protetor que esconde um terrível segredo e o totó – Goosebumps – Arrepios, resumido numa frase.
A ação baseia-se numa pluralidade de monstros imaginários a aterrorizar uma cidade, instigando ao pânico geral. Esses monstros são resultado da imaginação de R. L. Stine (Jack Black), um homem com um feitio particular – amargo, reservado e agressivo – justificado pelo sofrimento a que foi sujeito quando criança. Revoltado e amargurado, Stine decide transferir as suas emoções para uma série de histórias, as quais intitula de Goosebumps.
Interessante será notar a possível mensagem metafórica associada ao filme. Um homem atormentado por problemas passados que a certa altura é confrontado com os monstros dos livros que escreveu, poderá simbolizar como emoções reprimidas por anos corroem o comportamento da pessoa e a invadem de rancor, inseguranças, raiva… Inevitavelmente chegará a altura em que a ficção se torna realidade. Os monstros que se abrigam no inconsciente, os quais Stine escondia nos seus livros como forma de vingança para com aqueles que o maltratavam, são libertados. Todavia, lançando-nos ao cliché, Goosebumps – Arrepios revela a única maneira de derrotar os monstros dos quais somos prisioneiros: aceitar o passado e escrever uma nova história.
Apesar do enredo trivial, o filme é agradável e engraçado. O ritmo é adequado, oscilando entre picos de maior tensão, pausas inquietantes e momentos de quietude. É provido de razoáveis doses de suspense, aguçando-nos os sentidos e procurando incentivar a saltos da cadeira ou a breves arrepios. Dificilmente acontece, visto dar mais ênfase à comédia do que ao terror, mas o seu propósito é esse e a essência do que se pretende transmitir está bem patente. Para esse fim contribuiu a interpretação dos atores, embora levada ao exagero variadas vezes. Talvez fosse o pretendido, porém coloca-se a questão se terá sido opção ou apenas má escolha de atores (o que, nalguns casos, acredito ter sido o caso – salvo o pleonasmo).
Ainda que a animação dos monstros não seja a mais credível, não é algo que comprometa o desenrolar da história ou determine a qualidade da longa-metragem. Desde pequenos anões de jardim a insectos gigantes, desde lobisomens com calções de educação física a uma marioneta psicopata, temos possibilidade de explorar uma série de momentos divertidos à medida que resistimos ao mau humor de Stine, franzimos as sobrancelhas ao romance forçado da sua filha Hannah (Odeya Rush) com Zach (Dylan Minnette) e alinhamos com o humor descomedido de Champ (Ryan Lee), o totó.
Tal como a personagem R. L. Stine refere no filme: uma história é constituída por: “início”, “meio” e “reviravolta”. Goosebumps – Arrepios é assim, basta esperar pelo final.