Sou apaixonada por filmes de animação e pela fantasia que os envolve. Através da animação temos a possibilidade de criar personagens e mundos maravilhosos, autênticos, diferentes, capazes de nos agarrar ao ecrã de tal forma que, por vezes, desejamos fazer parte daquele universo. Este não foi o caso…
Sem querer de maneira alguma pôr em causa o trabalho e dedicação da equipa envolvida na realização de Norm – O Herói do Ártico, o trailer já fazia prever um filme fraco tanto a nível de animação como de argumento. Norm – O-herói-nada-heróico-incompreendido-que-salva-todos-no-final-e-passa-a-ser-adorado-no-Ártico é um filme previsível, de propaganda barata em torno das alterações climáticas e do impacto que as acções humanas têm sobre o meio ambiente.
A história gira em torno de Norm, um urso polar inapto para caçar, mas talentoso para dançar, que é capaz de comunicar com os humanos – sem qualquer motivo aparente. Tudo começa quando Norm e os seus amigos desconfiam da intenção dos humanos se mudarem para o Ártico. Ciente desta possibilidade, o urso dançarino/bilíngue e três lemingues seguem numa jornada até Nova Iorque na tentativa de se infiltrarem na empresa imobiliária responsável pela construção da rede de condomínios no Ártico. Norm, aproveitando o seu dom, finge ser um humano disfarçado de urso. A sua missão é derrotar o vilão inimigo do ambiente, salvar o avô igualmente bilíngue e regressar a casa. Uma história vulgar, sem quaisquer complexidades, acompanhada de música disco.
Norm – O Herói do Ártico é um dos exemplos da infantilização verificada em muitos argumentos que compõem as histórias dos filmes e séries de animação contemporâneas destinadas ao público infanto-juvenil. Esta longa-metragem assume que as crianças são demasiado ingénuas para compreender mensagens simples como: «Temos de ajudar a preservar o nosso planeta!», apoiando-se nas situações mais ridículas para garantir a aderência dos jovens, partindo do princípio que um urso de calças apertadas a dançar disco, lemingues a urinar para um aquário, pássaros a defecar em cima de pessoas, uma empregada da limpeza a aspirar o traseiro de um urso por pensar que se trata de uma carpete… é extremamente apelativo e estimula a inteligência de formas jamais vistas.
Complementando o invólucro medíocre desta longa-metragem, surge a dobragem portuguesa. Tal como em muitos desenhos-animados para televisão, a mesma pessoa fazia a voz de duas personagens distintas, sem haver qualquer diferença de timbre ou interpretação; algumas falas eram quase imperceptíveis tal a rapidez na articulação das frases e os sotaques acentuados, assim como a emoção transmitida ao espectador era escassa ou inexistente.
Este filme não está preocupado em alertar as crianças e jovens para o impacto das acções humanas no nosso planeta. A mensagem ambiental surge para disfarçar a falta de conteúdo de um filme cujo objectivo parece resumir-se a ser suficientemente colorido e divertido para entreter as crianças durante 90 minutos. Conceber uma longa-metragem de animação com um argumento bem estruturado, piadas minimamente inteligentes, personagens originais e esteticamente apelativa? Nah… «É sorrir e acenar rapazes. Sorrir e acenar!»