O filme O Super-Formiga é uma produção dinamarquesa de 2013 que chega agora às salas de cinema portuguesas.
Num ambiente de cinema saturado de filmes de super-heróis, com a Marvel e a DC a produzirem dois a três filmes por ano cada uma, seria lógico pensar que haveria pouco espaço para mais um filme de super-heróis.
A única maneira de um filme de super-heróis se destacar seria se trouxesse alguma coisa de nova, refrescante ou inovadora ao género, para marcar a diferença às grandes produções que competem pela nossa atenção.
Infelizmente, O Super-Formiga não é esse filme.
O Super-Formiga conta-nos a história de um rapaz de 12 anos invisível na escola e maltratado por bullies que é mordido por um insecto radioactivo (é isso que ele é? nunca explicam propriamente) e que por isso ganha super-poderes. Temos a inevitável sequência em que ele se começa a aperceber que tem super-poderes e não sabe o que fazer com eles até que é ajudado por outro amigo igualmente nerd. Juntos, e inspirados por livros de banda-desenhada, decidem criar um fato de super-herói e ir combater o crime. Também de acordo com o formato, há uma rapariga que é o interesse romântico do rapaz e que é também inevitavelmente raptada por um vilão também com super-poderes que se quer vingar do pai da rapaz. O vilão tem os super-poderes de uma pulga e veste-se de pulga (sim, a sério). Ao fim de algumas peripécias, o rapaz consegue derrotar o vilão e aprender uma importante lição sobre a amizade.
Se isto vos parece extremamente familiar, é porque é. É o enredo básico de qualquer história de origem de um super-herói, e daquelas mais antigas, dos anos 50, quando eles ainda não se tinham de esforçar muito para serem originais porque já estava tudo inventado. Nem sequer o facto de ser um filme com crianças e para crianças é explorado de forma original, sendo exactamente igual a qualquer outro filme de crianças, ligeiramente delico-doce, com cuidado para nunca ser demasiado arriscado ou ousado.
Admito que é muito engraçado e curioso termos um filme dinamarquês de baixo orçamento que se propõe a contar uma história de super-heróis com crianças. Percebe-se perfeitamente que este filme foi uma obra de amor das pessoas que o fizeram.
Do ponto de vista técnico o filme é surpreendentemente bom, para filme de baixo orçamento. A fotografia é boa, a realização e a montagem estão boas, a música serve o seu propósito perfeitamente. Há algumas decisões artísticas engraçadas, como contar partes da história sob a forma de banda-desenhada, provavelmente para contornar alguns aspectos técnicos que seriam mais caros. Até as interpretações, que com crianças costumam ser bastante duvidosas, estão agradavelmente bem conseguidas. Oscar Dietz, Amalie Kruse Jensen e Samuel Ting Graf são talentosos e certamente que terão boas carreiras se decidirem investir nisso.
A escrita também não é má. Há desenvolvimento de personagens, há tensão, o ritmo é clássico, os tropes de super-heróis estão todos presentes. Por outro lado as motivações das personagens são mal-explicadas e superficiais, há várias coisas que acontecem aleatoriamente e sem grande motivo para acontecerem. Pior que isso, não há nada de específico ou distintivo acerca da história, nada que nos chame a atenção ou que torne este filme particularmente memorável, para além do facto de que o Super-Formiga tem urina ácida (!).
Todos nós gostamos de filmes muito bons, aos quais possamos analisar as qualidades e virtudes e dar grandes pontuações. Também adoramos filmes muito maus, dos quais nos podemos rir e gozar com os seus erros crassos ou falhanços estapafúrdios e depois vingarmo-nos deles dando-lhes péssimas pontuações. Este filme não me aquece nem me arrefece. É perfeitamente neutro na sua execução, com alguns erros compreensíveis, compensados por alguns aspectos positivos razoáveis. Recebe aquela que é para mim a pior classificação de todas, um 5 em 10, ali exactamente no meio, completamente esquecível.