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O filme Quarto é baseado no best-seller mundial O Quarto de Jack, escrito por Emma Donoghue – que escreveu também o guião para o filme -, e inspirado em factos verídicos.

O título do filme e o facto de ser baseado numa história real deixa logo adivinhar que se vai passar maioritariamente dentro de um… quarto, e não vai ser uma comédia. A história conta-nos como Jack (Jacob Tremblay), um rapaz com quatro anos, nasceu e viveu sempre num único “quarto” (na realidade era um barracão num quintal) de 10 metros quadrados apenas na companhia da mãe (Brie Larson), que ele trata como “Ma”.

Esse barracão estava no quintal do Old Nick (e trancado com uma fechadura de código numérico que só ele sabia), um homem que raptou a mãe de Jack quando ela tinha 17 anos, e desde aí manteve-a em cativeiro trancada, engravidou-a, e mesmo o parto foi lá dentro, provavelmente sozinha. Os 10 metros quadrados continham apenas um pequeno balcão de cozinha, ao lado de uma banheira, um roupeiro estilo closet, uma mesa com duas cadeiras, uma cama e uma televisão, objectos que se tornam as personagens na vida dele, as quais cumprimenta com os bons dias de manhã, e dá as boas noites antes de dormir. Como Jack nunca viu mais nada nem ninguém na vida, ele acredita que apenas ele próprio, a mãe, o Old Nick e os objectos do quarto são reais, e tudo o resto só existe na televisão. Mesmo a comida e outras coisas que Old Nick lhes traz do exterior, ele acredita que são tiradas por magia da televisão. O quarto tem apenas uma clarabóia, em que se vê apenas céu, e por isso fora do quarto ele acredita que é o “espaço”.

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A mãe de Jack é muito dedicada e a sua missão é manter Jack saudável e feliz através de exercícios físicos e mentais, mantendo uma dieta tão saudável quanto possível, limitando o tempo de ver televisão, e com rotinas de higiene rigorosas, e tenta optimizar o pouco que tem para dar tudo o que sabe ao filho – por exemplo, utiliza cascas de ovos para fazer uma cobra de brinquedo. Por outro lado, para minimizar o contacto com o criminoso pai do filho, que a visita regularmente para sexo e trazer-lhes os mínimos indispensáveis, ela obriga Jack a dormir dentro do roupeiro sempre que isso acontece.

Pouco depois de Jack fazer 5 anos, certo dia falta a electricidade, e o quarto fica sem aquecimento. Este acontecimento inspira a mãe de Jack a engendrar um plano para conseguirem fugir. Ela sabia que não podia simplesmente matar o Old Nick porque mais ninguém sabia que eles estavam ali ou o código para abrir o barracão. Então, primeiro tenta fingir que Jack está doente cheio de febre e precisa de ser levado ao hospital. Mas o Old Nick não vai nessa, e diz-lhe que depois lhe traz medicamentos. Quando uns dias depois regressa com medicamentos, eles fingem que Jack tinha morrido da doença. A mãe já o tinha treinado em tudo o que devia fazer, enrolou-o no tapete, e explicou-lhe em detalhe o que ele ia sentir quando estivesse dentro da carrinha de caixa aberta do Old Nick, que ela iria induzir a dirigir-se para um local em particular. Assim, explicou-lhe que a carrinha ia parar três vezes (em semáforos), e que à terceira paragem ele devia desenrolar-se do tapete, fugir, e pedir ajuda à primeira pessoa que encontrasse.

Este plano corre bem, mesmo que nos mantenha com os nervos à flor da pele até depois os polícias salvarem também a mãe de Jack e os encontrarmos num hospital psiquiátrico em “avaliação”.

Esta metade da história é ultra-intensa e dramática. Aliás, o filme é para ser passado a chorar do início ao fim, por diferentes motivos. Primeiro, pela situação de vida em que os dois vivem naquele “quarto” sem condições nenhumas, com pouca comida, pela inocência do miúdo e ao mesmo tempo por o vermos feliz naquela vida só porque não conhece mais nada. Depois, toda a tensão das tentativas de escapar, o plano diabólico nas mãos de um miúdo de 5 anos que para dificultar nunca sequer tinha visto o céu sem ser através do vidro da clarabóia, nunca tinha visto outras pessoas, árvores, carros,…. A cara dele quando vê o céu pela primeira vez é inesquecível:

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Aliás, o actor, que agora tem 10 anos, mostra-nos ao longo do filme um espectro de emoções tão grande e de forma tão expressiva como não vemos assim tantos actores adultos conseguir. Ainda mais, a maioria das emoções das quais provavelmente nunca sentiu antes. É impressionante.

Após a fuga, a história perde aquela tensão, mas mantém-se o drama. Nem ele nem a mãe, por motivos diferentes, lidam bem com a nova realidade: ele insiste em achar que a realidade antiga é que era a verdadeira, e ela vê-se dependente do filho para manter a sua sanidade mental, e assim assistimos à evolução da adaptação dos dois ao mundo real, e ao facto de que já não vivem colados apenas um ao outro.

O filme está muito bem feito do ponto de vista técnico e também das interpretações dos actores. É um filme “à séria” que mexe muito com os nossos pensamentos e emoções e ao qual acredito que ninguém é capaz de ficar indiferente. Mas confesso que a minha ideia de ver filmes não é passar 2 horas a chorar. Gosto de dramas, mas neste caso o drama é extremo. Daí que tenha alguma dificuldade em visualizá-lo como candidato a Melhor Filme nos Óscares de 2016. Mas se pusermos isso de parte, é sem dúvida uma boa alternativa aos típicos filmes cheios de efeitos especiais, ou grandes orçamentos, que tipicamente depois têm de ter nomeações para compensar o esforço.

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No final, o filme tem um final feliz, que talvez tenha acontecido de forma demasiado rápida face ao que poderá ser a realidade de casos semelhantes. Se calhar, a história começou com um tipo de conto de fadas e acabou com outro. Mas talvez fosse preciso deixar essa mensagem de esperança e optimismo de que é sempre possível sobreviver às situações que nos surgem na vida, por mais horríveis que possam parecer. E como ouvi ontem num contexto semelhante, “tudo é temporário, nada dura para sempre”, e se mantivermos essa ideia em mente, conseguimos ultrapassar tudo.

Acham que este tipo de filmes pode ajudar as pessoas a lidar melhor com as dificuldades que surgem nas suas próprias vidas?