Partilha no Facebook
Partilha no Twitter

Imagina que Ressaca e o Lobo de Wall Street encontram-se num bar à noite e depois de consumirem uma quantidade assinalável de álcool e drogas têm uma noite louca de sexo. Se dessa noite escaldante nascesse uma criança, o seu nome seria sem dúvida Os Traficantes.

Todd Phillips (realizador da trilogia A Ressaca) conta-nos a história de dois ambiciosos jovens de vinte e poucos anos. David Packouz (interpretado por Miles Teller que ascendeu à fama mundial pela sua participação em Whiplash – Nos Limites e foi o Mr. Fantastic no fiasco Quarteto Fantástico) é um massagista profissional sem grandes perspectivas (não sabemos se acabava as massagens com um final feliz ou não) casado com Liz, uma lindíssima mulher (papel desempenhado por Ana de Armas). Mas tudo muda para Packouz quando reencontra o seu melhor amigo de infância Efraim Diveroli (Jonah Hill novamente no papel de uma personagem amoral com problemas de drogas bastante semelhante ao seu desempenho em O Lobo de Wall Street).

traficantes-3

Após o consumo de vários charros, Diveroli convida Packouz para participar no seu negócio de venda de armas. No entanto, desengane-se quem pense que se trata de uma simples e tradicional loja americana de armas, o negócio deles é vender armas ao governo do Estados Unidos da América através de um site governamental onde são colocadas todas as encomendas que o exército americano necessita. Envolvido na Guerra do Iraque e do Afeganistão o governo norte-americano, sob a administração de George W. Bush, actualiza o site ao minuto com novas encomendas e aprovou uma lei que obriga a que parte dessas encomendas seja satisfeita por pequenas empresas. É no preenchimento destas pequenas encomendas, servindo como intermediários, que se centra o negócio de Diveroli e agora também de Packouz.

Por entre charros, cocaína e álcool Diveroli e Packouz negoceiam milhões de dólares em armas com o governo do Estados Unidos.

Tudo isto seria um filme bastante divertido e capaz de entreter qualquer pessoa, não fosse a parte assustadora de se tratar de uma história real. Em 2011 a revista Rolling Stone publicou pela primeira vez as aventuras de Diveroli e Packouz e posteriormente o artigo foi aumentado e deu lugar ao livro Arms and the Dudes da autoria de Guy Lawson. Foi a partir do livro que foi desenvolvido o guião do filme. Porém, após a leitura do artigo e do livro ficamos com a ideia que Os Traficantes por vezes acobardou-se e protegeu o governo norte-americano, o qual surge nos textos sob uma faceta muito mais maquiavélica e pactuante com as ilegalidades.

traficantes-1

Os Traficantes é sobretudo a história de duas personagens capazes de nos deixar divididos. Se por um lado, conseguimos criar alguma simpatia e até chegamos a torcer pelos dois protagonistas, afinal a ambição e o desejo de ter uma vida melhor são princípios com os quais conseguimos facilmente identificar-nos. Por outro lado, não podemos deixar de ficar ofendidos e até chocados com a falta de escrúpulos e a amoralidade das personagens. Para esse efeito muito contribuem as interpretações de Jonah Hill e Miles Teller, longe de serem brilhantes, são bastante convincentes, não estivéssemos nós a falar de dois dos melhores actores da nova geração.

Jonah Hill, no papel de Efraim Diveroli, volta a trazer-nos uma personagem sem escrúpulos, viciada em drogas e com uma enorme libido por prostitutas. Se inicialmente parece uma personagem somente excessiva até ao ponto do cómico ao longo do filme os seus defeitos acentuam-se e o seu carácter manipulador e dissimulado ao extremo revela-se. Assim, não nos espanta que seja devido à sua ganância e falta de empatia que se dê a perdição dos dois traficantes. Miles Teller, na pele de David Packouz, surge sob cores mais ambivalentes. Cede inúmeras vezes aos devaneios de Diveroli e torna-se também um agente activo de todas as manigâncias cometidas por ambos. Mas a sua motivação primordial é prover o melhor possível à sua família, surgindo esta como o seu pêndulo moral, absolvendo-o em última instância e permitindo a sua redenção final.

traficantes-2

Por fim, apesar de tratar-se de uma personagem secundária deve ser destacado Bradley Cooper, como Henry Girard, traficante de craveira internacional proibido de estar em solo americano por mais de 48 horas. Girard com a sua riqueza e capacidade de negociar em grande escala surge como corolário final da carreira almejada por Packouz e Diveroli. Mas é mais do que isso, também representa as piores consequências daquela carreira: falta de moralidade, crueldade e um estado de fuga constante. Tudo isto muito bem representado por Cooper em meia dúzia de cenas e diálogos.

Todd Phillips fiel ao seu estilo próprio, apresenta-nos o seu filme mais politizado, mostrando-nos as piores cores do capitalismo desenfreado e a sua ligação à guerra. A atenção aos pormenores é soberba, como por exemplo, a omnipresença de Dick Cheney, (vice-presidente de George W. Bush e famoso pela sua veia belicista) numa fotografia pendurada numa parede como a observar uma negociação mais difícil ou a surgir numa televisão em fundo. A realização utiliza inteligentemente a voz off no encadeamento e no ritmo narrativo, humanizando-a e esclarecendo-a. Tudo isto acompanhado de uma sublime banda sonora composta de clássicos da música popular, que nos fazem abanar levemente o capacete, ou o pé, no meio do cinema.

Devido ao filme iniciar-se com um flashforward sabemos logo ao início que as coisas correrão mal aos anti-heróis. Mas não é no término da história que nos devemos concentrar, mas na viagem narrativa que nos é apresentada. O caminho palmilhado por Packouz e Diveroli diverte-nos, revolta-nos e obriga-nos a reflectir. Os Traficantes corresponde às expectativas e é um filme merecedor de ser visto.

Bem-Bom

O que significa isto?

Estarias preparado para trocar a tua moralidade por milhões de dólares?

  • LÊ MAIS SOBRE
  • Bradley Cooper
  • Jonah Hill
  • Miles Teller
  • Os Traficantes
  • Todd Phillips
Partilha no Facebook
Partilha no Twitter
DIZ ALGO SOBRE ISTO!
Este espaço é disponibilizado para comentários sobre o tema apresentado nesta publicação. Respeita a opinião dos outros e mantém a discussão saudável.
Os comentários são moderados de acordo com os Termos de Uso.
É possível deixar um comentário em anónimo. Basta clicar no campo de texto "Nome" e seleccionar a opção "Publicar comentário sem iniciar sessão".