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OPoder da Música é uma homenagem a todas as memórias silenciadas pela doença de Alzheimer. O filme da autoria de Richie Adams foi baseado na obra Una Vida: A Fable of Music and the Mind do neurocientista Nicolas Bazan, quem acompanhou Adams na escrita do argumento. Agraciado por interpretações espetaculares, o filme apresenta uma visão delicada sobre uma doença voraz.

A cidade de Nova Orleães é o palco da história de Alvaro Cruz (Joaquim de Almeida), um neurocientista em busca da cura para o Alzheimer. Depois de perder a sua adorada mãe, o médico vive assombrado pela culpa e o travo amargo da saudade que jamais será curada. O início do filme é uma seta afiada pronta a atingir o coração daqueles que já experienciaram a dor da perda. Ainda assim, é um começo terno. Genuinamente terno…

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Vagueando pelas ruas de Nova Orleães, Alvaro Cruz tenta encontrar consolo nas melodias que ele e a sua mãe costumavam ouvir juntos. É num desses passeios que o médico fica fascinado com dois artistas de rua. A voz maravilhosa de Una Vida (Aunjanue Ellis) e o som harmonioso do guitarrista Stompleg (Bill Cobbs) impressionam-no. Cruz regressa então todos os dias para os ouvir atuar. Será devido a essa regularidade que o médico cedo compreenderá qual a doença de Una Vida. Tal como a sua mãe, a cantora sofre de Alzheimer e é Stompleg quem garante a sua segurança e lhe proporciona os cuidados necessários.

Este filme é uma melodia de Esperança.

Movido não só por questões profissionais, mas maioritariamente pessoais, Alvaro aproxima-se dos dois artistas. Na tentativa de curar a amargura do seu coração, infetado pela culpa de não ter estado perto da mãe na hora da sua morte, o médico decide ajudar Una Vida e Stompleg. Com o desenrolar dos acontecimentos, o neurocientista aperceber-se-á como a música proporciona momentos de lucidez à cantora. É através da melodia que Una Vida se encontra si mesma. É através do poder da música que a doença parece esmorecer. Contudo, para um filme no qual a música parece ter tanto peso, é pena que não se muna desse recurso tanto quanto poderia, colocando-o em segundo plano. Teria sido interessante observar um pouco mais esse alegado poder.

Em contrapartida, num plano secundário surge também a história da filha adotiva de Una Vida (Ruth Negga), Jessica. Esta trama acrescenta um brilho especial ao enredo, enfatizando a ação e enriquecendo-a. Jessica é uma rapariga perturbada, rendida ao vício das drogas, que vê na cantora de rua uma mãe e a única pessoa com valor na sua vida. Mas a doença da qual Una Vida é vítima vai-lhe enevoando cada vez mais a memória. Ver um ente amado esquecer-se de nós é um murro brutal no estômago. Magoa, magoa sem dó nem piedade. Joaquim de Almeida interpreta essa dor de forma silenciosa e calma. Já Ruth Negga representa a inconformação e revolta. O filme é real, cru. A doçura está constantemente presente, assim como a representação de uma realidade dura.

Apesar de ligeiras falhas de raccord, havendo discrepâncias na ligação entre o final de um plano e o início de outro, o filme está bem estruturado. Cada cena destaca essencialmente as emoções das personagens, através de grandes planos, uma banda sonora preciosa e interpretações fabulosas. É difícil conter as lágrimas.

O Poder da Música de Richie Adams é poético. O realizador e argumentista brindou-nos com uma obra pincelada de emoção. Para quem sofre com o peso desta doença devastadora e/ou já viu partir alguém vítima de Alzheimer, este filme é uma melodia de esperança.

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