Num ano profícuo em filmes de super-heróis, não é difícil de entender que vários são aqueles que concorrem para melhor do ano ou, pelo menos, para não defraudar as expectativas – o que, em alguns casos, já é bastante bom.
X-Men: Apocalipse está, assim, entre o melhor e pior exemplo de 2016: não consegue alcançar o patamar de Capitão América: Guerra Civil, mas supera Batman v Super-Homem: O Despertar da Justiça.
A história do novo filme da saga X-Men apresenta-nos Apocalipse, ou En Sabah Nur (Oscar Isaac), o primeiro dos mutantes que, após milhares de anos adormecido no Cairo, ressurge nos anos 80 (com os humanos a olharem de lado os mutantes graças aos acontecimentos explicitados em X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido), disposto a garantir sua supremacia e acabar com a humanidade como a conhecemos. Para isso, potencia os poderes de quatro mutantes, tornando-os os seus “Cavaleiros”: Magneto (Michael Fassbender), Psylocke (Olivia Munn), Anjo (Ben Hardy) e Tempestade (Alexandra Shipp).
Para combater esta nova ameaça, o professor Charles Xavier (James McAvoy) conta com uma série de novos alunos, como Jean Grey (Sophie Turner), Ciclope (Tye Sheridan) e Noturno (Kodi Smit-McPhee), que se juntam aos conhecidos Mística (Jennifer Lawrence), Fera (Nicholas Hoult) e Mercúrio (Evan Peters).
Esta premissa cliché – e nada contra aos clichés per si – acarreta a responsabilidade de oferecer compensações ao espectador para não se sentir defraudado e, aqui, X-Men: Apocalipse é um pouco agridoce.
A nível de apresentação narrativa, é-nos oferecido algo que traz à memória o género de filmes de catástrofes, com espaços e cidades a ser dizimadas constantemente – muitas vezes sem necessidade – que o obrigou a uma exploração intensiva dos efeitos especiais que, verdade seja dita, enquanto uns estão na linha do esperado, outros nem tanto. De resto, o argumento não tem muito mais do que a linha rasa dos vilões que querem destruir o mundo e os heróis que o querem impedir.
A exploração de personagens é feita sob uma estrutura sólida nas personagens do lado bom, dando-nos espaço e tempo para nos relacionarmos com eles e simpatizar com cada um.
A este propósito, aliás, Mercúrio volta a elevar a boa disposição do filme e não deixa de ser uma lufada de ar fresco sempre que entra em cena, especialmente no momento em que, ao som de Sweet Dreams (Are Made Of This), do duo Eurythmics, a personagem protagoniza, provavelmente, a melhor cena do filme.
Ainda a este nível, a própria Mística aparece muito mais com o seu perfil humano do que mutante (não deixando de ser, obviamente, uma inteligente forma de explorar um dos rostos mais conhecidos da actualidade hollywoodesca).
Nota ainda para a cena de Wolverine que, sendo fugaz, acrescenta um pouco de pimenta no refogado de mutantes.
O problema está nos maus da fita… À excepção de Apocalipse, os seus parceiros do mal não parecem ter tempo para se desenvolverem tanto com o espectador. Quanto ao Apocalipse talvez o seu principal problema seja…a caracterização. Sabíamos à partida que não seria fácil adaptar um figura tão graficamente peculiar ao grande ecrã, mas o resultado conseguido traz-nos à memória (pelo menos à minha) os monstros dos saudosos Power Rangers e impede claramente que o actor Oscar Issac exponha as suas reconhecidas capacidades de representação.
Outro problema do principal vilão é perder força para Magneto. O seu perfil fechado perde, de forma evidente, para a panóplia de emoções que Fassbender coloca na sua personagem e que o próprio argumento lhe permite trabalhar. A dada altura (especialmente na curva descendente do filme) Apocalipse torna-se só mais um vilão o que é um pouco contraproducente quando existe a tentativa de nos passar a ideia de que é o mutante mais poderoso de sempre.
Não deixa de ser curioso que, a dada altura, surge uma piada com filigranas freudianas, com Jean Grey a comentar que o pior filme de uma trilogia é sempre o terceiro. Aqui não andamos muito longe disso… Mas, atenção, é um filme competente! O que para uma exploração extremamente intensiva (3 filmes em 5 anos) não deixa de ser bom – e natural.
Não obstante tudo atrás escrito, o filme tem uma condução dinâmica e a acção que entretém de forma convincente o que, para os que se querem divertir no cinema, deve ser o mais importante.