HEREDITÁRIO | Crítica

Um filme hipnótico que peca apenas por se tornar entediante.

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Hereditário conta a história da família Graham e como a matriarca já falecida parece continuar a manipular e controlar tragicamente os destinos dos seus restantes membros.

Não é incomum que famílias tenham um membro mais velho que actue como se a família fosse um objecto que lhe pertence em vez de ser uma comunidade da qual ele faz parte. Obcecados pelo controlo, utilizam a manipulação como arma preferida para conseguir influenciar os destinos do agregado familiar, a maior parte das vezes às custas da felicidade dos seus membros. Menos comum é fazerem-no depois de morrerem.

Como é possível constatar assistindo ao trailer, Hereditário apresenta planos de uma beleza ímpar. A forma como nos leva sete palmos debaixo da terra durante o início do filme ou nos aproxima de uma miniaturização de um quarto até este se transformar numa cena com actores são exemplos do brilhantismo da realização de Ari Aster.

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Apesar do experiente Gabriel Byrne ter um papel coerente durante o filme, a actriz Toni Collette é a verdadeira estrela do elenco. A sua representação como Annie apresenta uma complexidade difícil de superar. Por um lado uma profissional com uma ocupação artística que envolve o detalhe na criação de cenários miniaturizados. Por outro lado, uma mulher atormentada pela morte da sua mãe e que à medida que a acção decorre se deixa levar por um conjunto de sentimentos reprimidos ao longo dos anos. O resultado para a estabilidade familiar, nomeadamente para a sua relação com o marido e os filhos, é desastrosa.

Como Hitchcock tão bem disse, não é o bang que causa o terror. O verdadeiro terror é antecipar que esse bang vai acontecer. Hereditário tem momentos que são enormes bangs mas o seu argumento tem a inteligência de te manter em constante suspense, na expectativa do próximo momento de terror. A existência de vida para além da morte e a possível interacção do mundo dos mortos com o dos vivos é um assunto apaixonante e que permite imensas especulações e a criação de argumentos assustadores. A ideia do mal existir no além e poder influenciar a vida dos vivos é realmente aterradora. Não esperes ver fantasmas em Hereditário – isso seria demasiado grosseiro e evidente. A força deste filme está em fazer-te sentir que existe algo que não consegues explicar mas que está ao volante…a dirigir o destino dos elementos da família Graham para o abismo.

Se este filme fosse uma refeição, eu diria que possui sabores requintados que te fazem sentir que estás a ter uma experiência única. O único problema é que mesmo a melhor banquete conduz a saturação e azia quando se prolonga por mais tempo do que aquele que é necessário. A duração de Hereditário é o que o impede de ser orgásmico. A história podia ter sido contada em uma hora e meia, em vez das suas duas horas e sete minutos. O seu final torna-se algo penoso e previsível e isso torna o filme ainda mais dramático, mas de uma forma desagradável.

Qual é o teu filme de terror favorito?