JOURNEYMAN: VONTADE DE VENCER | Crítica

Um argumento que se arrasta perigosamente para o aborrecimento.

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A história do cinema está repleta de filmes que abordam o tema do boxe e dos sacrifícios que preenchem a vida de um pugilista. Touro Enraivecido, Rocky ou o mais recente Million Dollar Baby são exemplos de obras-primas nesta categoria. O que têm estes filmes de tão especial? Descreverem detalhadamente não só as lutas dentro do ringue, mas também o drama fora dele, e este é também o caso de Journeyman: Vontade de Vencer.

Matty Burton é o campeão do mundo de pesos-médios e está prestes a combater naquele que será o seu último combate. O seu objectivo é manter o cinturão de campeão e conquistar a estabilidade financeira para se retirar e se dedicar à sua família. Matty é um carinhoso homem de família e ambiciona dispor de mais tempo para partilhar com a sua mulher Emma e a recém-nascida Mia. Somos levados pelo percurso do pugilista enquanto prepara o combate até à altura em que o destino lhe passa uma rasteira. Após o combate, Matty sofre um aparente acidente vascular cerebral, como consequência dos impactos sofridos durante o combate. A partir deste momento, o argumento entra no seu principal foco – a luta de Matty fora do ringue para superar as limitações físicas e psicológicas da sua condição e conseguir regressar à sua vida familiar.

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Journeyman: Vontade de Vencer é um projecto de Paddy Considine, que escreveu sozinho o argumento do filme, assumiu a responsabilidade da realização e interpreta o papel de Matty Burton. Destes três papéis, na minha opinião, é como actor que Considine tem a melhor prestação. A sua interpretação do pugilista durante o período em que perde as suas faculdades mentais e físicas é soberba – olhos a vaguear o infinito, mudanças súbitas de humor, a perda da memória são retratados pelo actor com uma naturalidade assustadora.

A actriz Jodie Whittaker interpreta Emma, a mulher de Matty, e embora se mantenha na sombra da gigantesca interpretação de Considine, consegue dar à sua personagem um misto de força e fragilidade que são tocantes.

Este podia ser um filme orgásmico se não fosse o facto de o argumento se começar a arrastar perigosamente para o aborrecimento. Após o princípio da história e enquanto Matty prepara o seu combate, existe uma natural energia e antecipação no ar. Após o combate o argumento parece seguir o destino do pugilista e perde a força, torna-se repetitivo e demasiado previsível. É um mau sinal quando olhas para o relógio enquanto vês um filme. O percurso deste Journeyman: Vontade de Vencer começa com ziguezagues e drama mas, infelizmente, passa a uma estrada sempre a direito, sem qualquer percalço e em que tens de fazer um esforço para te manteres acordado.