Moldando-se à evolução dos aparatos tecnológicos, aquele que na obra original de Chris Van Allsburg era um jogo de tabuleiro, transforma-se agora num jogo de vídeo. Apesar de o suporte não estar totalmente obsoleto, é algo primitivo considerando o advento dos smartphones e outros que tais. Não obstante, no filme de Jake Kasdan é o suficiente para atrair quatro adolescentes para Jumanji.
O filme de 1995 com realização de Joe Johnston e protagonizado por Robin Williams nunca pedira uma sequela. Mas eis que chega uma, Jumanji: Bem-vindos à Selva, a segunda depois da série de animação para televisão que perdurou de 1996 a 1999. Realizado por Jake Kasdan a par com uma equipa de quatro argumentistas, a sequela está repleta de situações arquétipas e personagens estereotipadas.
A história é introduzida em seguimento com o primeiro filme. Inicia-se em 1996 e logo de seguida transporta-nos para o presente. No presente são-nos apresentadas quatro personagens padrão: Spencer (Alex Wolff), o nerd desajeitado; Fridge (Ser’Darius Blain), o jogador de futebol popular do liceu; Bethany (Madison Iseman), a miúda gira e convencida; e Martha (Morgan Turner), a rapariga inteligente e tímida. Convenientemente, os quatro são suspensos e descobrem o jogo enquanto arrumam a arrecadação do liceu.
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O início do primeiro ato é um pedido gritante pela presença dos atores cujas caras enfeitaram todos os cartazes de promoção a Jumanji: Bem-vindos à Selva. Quando os quatro adolescentes são sugados para o jogo de vídeo, num invólucro de efeitos especiais de baixa qualidade, respiramos de alívio e entusiasmo. Ora, maximizando os estereótipos, o nerd vira o líder musculado, Dr. Bravestone (Dwayne Johnson); o rapaz popular é reduzido (literalmente) a um Kevin Hart; a rapariga convencida transforma-se num homem gordo de meia-idade (Jack Black); e Karen Gillan, de mini calções, top justo e olhar sedutor, passa a estar encarregue da adolescente tímida.
Destaca-se a interpretação de Jack Black.
A todos os atores lhes é concedido o devido tempo nas luzes da ribalta, mas é a interpretação de Jack Black que se destaca. Destaca-se o modo como desenha a personagem. O ator não a retrata somente como uma rapariga superficial mas como um ser humano com sentimentos honoráveis e sentido de humor absolutamente delicioso. Na realidade, o filme é um acumular de situações caricatas que juntas constroem um caminho de auto-descoberta para as personagens. Esta viagem, porém, só é realmente interiorizada por Bethany. Martha, a introvertida do grupo, encontra em si a força, coragem e beleza que desconhecia, mas mantém-se numa linha de mudança ténue. Por sua vez, o interesse em Dwayne Johnson e Kevin Hart esfuma-se devido ao óbvio esforço por demonstrar a boa relação existente entre ambos. Embora óbvia, funcionou indubitavelmente melhor em Central de Inteligência (2016).
O filme de Jake Kasdan está cheio de clichés, arquétipos e estereótipos, estando ao encargo de cada espectador atribuir-lhes uma boa ou má denotação. Os efeitos especiais são fracos mas servem um propósito. Afinal, representam um jogo de vídeo de 1996. Significa que, efetivamente, embora este filme não se supere nesse âmbito, ao representar o que representa, resultou. Em retrospectiva, Jumanji: Bem-vindos à Selva não deixa nem marcas negativas nem positivas. É subtil nas suas abordagens, sejam ação ou comédia. É comedido, equilibrado. Por isso, mesmo sendo banal, soube ser um bom filme banal.