Spoilers!!
Portanto, já tiveram tempo de ir ver Star Wars: O Despertar da Força, e agora já podemos falar à vontade sobre o filme.
Comecemos por falar dos heróis d’O Despertar da Força.
Os heróis são provavelmente a coisa mais importante em qualquer aventura. São eles os agentes da ação do filme, são as suas decisões e ações que empurram a narrativa para a frente, são eles que crescem ao longo da história, e sobretudo é com eles que nos identificamos e por quem torcemos.
O Despertar da Força tem excelentes heróis!
Poe Dameron
Interpretado por Oscar Isaac, Poe Dameron é o Melhor Piloto da Resistência. É nele que General Leia Organa confia para ir a Jakku recuperar o mapa que leva a Luke Skywalker, e é ele que salva os outros protagonistas em pelo menos duas outras ocasiões.
A apresentação da personagem no início do filme é excelente em vários aspectos.
Poe Dameron vê um tipo assustador, vestido de preto, com um sabre de luz vermelho, e o seu primeiro impulso é disparar contra ele com um blaster? Isso demonstra perfeitamente a sua coragem e audácia. Obviamente que isso não funciona (obviamente para nós que estamos fartos de saber o que é que significam sabres de luz vermelhos, mas não para alguém que cresceu num mundo onde os Jedis, os Sith e a Força têm um estatuto de lendas), e Poe Dameron é capturado. E o que é que Poe Dameron faz quando é capturado? Começa a gozar com o vilão poderosíssimo que tem à sua frente: “So who talks first, you talk first? I talk first?”
Este primeiro diálogo, que flutua entre o cómico e o tenso, estabelece imediatamente não só o tom da personagem, mas também de todo o filme, e é uma primeira cena fantástica.
Mais importante que isso, Oscar Isaac consegue tornar Poe Dameron numa personagem extremamente afável e gostável. A mistura de humor e bravura de Poe são uma excelente combinação, e é o tipo de personagem com quem eu quero imediatamente ir beber uma cerveja depois de uma batalha. Para isso destaco a sua relação de amizade com Finn, que começa quando ambos colidem numa situação muito difícil e precisam um do outro, e é extremamente credível e sincera. Adiciona uma sensação real de camaradagem que a personagem do Luke criava na trilogia original.
Depois, é claro, vêmo-lo a ser um piloto espectacular! Em vinte segundos de voo ele consegue destruir cerca de oito TIE Fighters e vinte Stormtroopers, disparando com tal precisão que consegue matar os guardas que escoltam Han Solo e Finn, sem sequer os arranhar.
Quero ver muito mais de Poe Dameron nos próximos filmes, e espero que lhe dêem muito mais tempo de ecrã. Cheira-me que se vai tornar um favorito dos fãs.
Finn
Como já disse antes, a ideia de humanizar um Stormtrooper e de o trazer para a fila da frente das personagens é pouco menos que genial.
Finn começa como uma personagem anónima no meio das fileiras de Stormtroopers, obrigado a matar civis inocentes. O medo e a incerteza que demonstra perante essa situação, a sua decisão de não cumprir essas ordens, e ver os seus amigos a serem mortos sem razão, faz com que tome a decisão de desertar da First Order.
É a personagem de Finn que inadvertidamente põe todo o enredo do filme em movimento. Tem algumas inseguranças, e mente sobre quem é na realidade, mas dado o seu passado, quem é que não faria o mesmo? É uma decisão com a qual nos identificamos, e isso faz dele o Substituto da Audiência, a pessoa normal, anónima, atirada para um mundo fantástico ao qual vai reagir com espanto e entusiasmo. É com ele que nos identificamos mais, e as suas emoções e reações reflectem as nossas.
Claro que ajuda imenso que John Boyega, que interpreta Finn, seja um mega-fã de Star Wars, e que tenha deixado que esse entusiasmo transparecesse na sua interpretação.
Também é extremamente interessante o facto de que o marketing do filme deixou sempre a ideia de que Finn era sensível à Força, e no fim afinal era Rey que era a proto-Jedi. Apesar disso, há algumas pistas no filme que ainda nos deixam alguma esperança de que Finn possa vir a ser capaz de usar a força: Kylo Ren sente-o ao início do filme, e apesar de perder no fim, ainda consegue dar luta a Kylo Ren na batalha de sabres de luz, algo que supostamente só alguém forte na Força seria capaz de fazer.
Mas no fim de contas, Finn não é o Piloto, não é o sucateiro ou rapaz da quinta destinado ao heroísmo, não é o trapaceiro carismático, não é o político esperto, e a ser sensível à força, nem se aproxima de Rey. Ele é só o tipo simpático, com um grande coração, que é um atirador decente-mas-não-espectacular. Até é friendzoned no fim, quando está em coma.
De todas as personagens do filme, Finn é aquela por quem eu tenho mais curiosidade de saber como vai evoluir. Todas as outras conseguimos perceber mais ou menos para onde vão. Rey vai provavelmente tomar o seu lugar na história ao tornar-se Jedi e ao trazer equilíbrio à Força; Poe vai provavelmente ser um herói de guerra e travar batalhas espaciais épicas; Kylo Ren vai provavelmente tornar-se num vilão ainda mais malvado, mas sempre com conflitos internos (mais sobre ele no próximo artigo).
Mas Finn? Ele é só um tipo muito simpático sem ideia nenhuma de para onde vai, e isso entusiasma-me imenso!
Rey
Também já disse que Daisy Ridley está fantástica como Rey, mas quero dizê-lo outra vez. A interpretação dela é soberba, muito complexa, cheia de camadas, com uma expressividade emocional muito intensa. Daisy Ridley tem uma beleza clássica (reminiscente de Audrey Hepburn) que já não víamos no cinema há muito tempo.
Dito isso, Rey consegue ser bonita e tudo mais para além disso. Rey vai ser a heroína central desta nova saga de Star Wars. É dela a Viagem do Herói.
Para começar, já era tempo de termos uma personagem feminina a ser capaz de usar a Força, e que personagem feminina. A todos os momentos Rey demonstra o quão capaz, hábil, forte e autónoma é. Rey não só recusa várias vezes a mão de Finn, afirmando que sabe correr sozinha, mas a história repetidamente põe-na em situações onde ela precisaria de ser salva, apenas para ela se safar sozinha sem ajuda de mais ninguém.
Vi algumas pessoas na internet a queixarem-se que ela evolui muito depressa na Força. Que a evolução partir do momento em que ela toma contacto com a Força – quando Kylo Ren tenta ler a mente dela – e começa a experimentar com controlar a mente das outras pessoas, conseguir puxar o Sabre de Luz para si, até vencer a luta contra Kylo Ren, é demasiado rápida.
Mas considerem o seguinte: na Trilogia Original, as primeiras interacções de Luke Skywalker com a força são conseguir defender-se do drone de treino sem ver, destruir a Estrela da Morte sem usar um computador e puxar o sabre de luz para se defender do Abominável Homem das Neves.
É verdade que ela está a avançar depressa, mas eu acho que isso só está a estabelecer o quão poderosa ela é com a Força, e como vai ser absolutamente bad-ass como Jedi. Ao mesmo tempo, essa Força não lhe retira fragilidade e vulnerabilidade.
No fim do filme, quando Rey percebe que foi ideia de Finn voltarem para a salvar, ela atira-se a ele num abraço forte e emocional. Faz todo o sentido. Rey foi abandonada em Jakku, deixada à espera durante anos por uma família que nunca voltou para a resgatar. E agora ali está Finn, uma pessoa que ela conheceu há pouco tempo, e que recusa abandoná-la. Isso significa imenso para Rey, e cimenta a amizade deles de forma brilhante.
E depois, obviamente, temos a questão mais importante de todas: será que Rey é filha de Luke Skywalker?
Considerando que J.J. Abrams disse várias vezes que estes filmes eram sobre a continuação da história da Família Skywalker, então eu diria que quase de certeza que ela é filha de Luke. É verdade que temos Kylo Ren como neto de Anakin, mas ele é um Solo, e eu sinto que eles precisariam de pelo menos um Skywalker genuíno.
Para além disso, acho o facto de que o mapa que leva a Luke ser deixado no mesmo planeta onde ela foi abandonada é uma prova forte. Faz sentido que Luke a deixasse lá para a proteger de Ren, para que quando os poderes dela “despertassem” ela pudesse usar o mapa para regressar a Luke.
Além do mais, ela é uma excelente piloto, é poderosa com a Força, o sabre de luz “chamou” por ela… Sim, esta rapariga é uma Skywalker.
Finalmente, o meu desejo de fanboy é que Rey venha a construir um sabre de luz duplo. Se Darth Maul tem o direito de ter o sabre de luz mais fixe das trilogias antigas, e Kylo Ren consegue superá-lo com o seu sabre de luz crossguard, então Rey devia poder usar o sabre de luz mais fixe da galáxia para derrotar Ren!
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