“Dead or alive, you’re coming with me!”. Foi a 23 de Outubro de 1987 que os portugueses tiveram a primeira oportunidade de ouvir uma das mais icónicas frases do cinema norte-americano. Robocop, realizado por Paul Verhoeven e protagonizado por Peter Weller, tornar-se-ia um marco do cinema de acção, adquirindo um estatuto de culto que deu origem a sequelas, merchandising, séries de TV, bandas desenhadas, um reboot, entre outros. Faz hoje 30 anos!
A sinopse é relativamente simples: Alex Murphy, policia recém-chegado à brigada de Detroit, é morto em combate. O que resta do seu corpo é transformado por cientistas de uma mega corporação electrónica num sofisticado ciborgue de combate, para ser utilizado na luta contra o crime na cidade.
Abordando temas como a influência dos media, corrupção, autoritarismo, ganância e privatização empresarial, o argumento possui uma forte componente de sátira social, acompanhada de humor negro, elementos que se tornariam característicos do seu realizador. Na altura do seu lançamento foi-lhe atribuída classificação R (para maiores de 18), graças aos níveis fortes de violência. Nem esta atribuição impediu o seu sucesso comercial que, com o modesto orçamento de 13 milhões de dólares, conseguiu quintuplicar esse valor na bilheteira aquando do lançamento, excluindo as vendas em VHS.
Em 1988 a produção venceu o Oscar para Melhores Efeitos Sonoros e foi indicado nas categorias de Melhor Som e Melhor Edição. Uma curiosidade interessante é que quando recebeu o argumento, Verhoeven recusou por o considerar tosco, muito a lembrar super-heróis. Apenas alterou a sua decisão graças à sua esposa, que praticamente o obrigou a aceitar, acentuando o teor irónico e de crítica social presente no guião.
Como não poderia deixar de ser com os grandes sucessos de Hollywood, várias sequelas foram produzidas, ficando todas muito aquém do original. Graças a comparações frequentes entre o filme original e a banda desenhada O Regresso do Cavaleiro das Trevas, (o humor negro, a ultraviolência e a sociedade distópica, o modo de contar parte da história por meio dos ecrãs de TV) Frank Miller é chamado para escrever o argumento do segundo filme, que seria totalmente adulterado pelo estúdio. Quanto ao terceiro filme, quanto menos for dito, melhor.
A pouco conhecida relação entre Frank Miller e Robocop não estaria apenas limitada ao grande ecrã. Depois de uma adaptação à BD e de uma série de 23 números na Marvel Comics, os direitos da personagem são adquiridos pela Dark Horse que contrata Miller, juntamente com Walt Simonson para escrever a mini-série Robocop Versus The Terminator, onde o Polícia do Futuro enfrenta o Exterminador Implacável. O sucesso da BD é tal, que origina o videojogo homónimo para Mega Drive e Super Nintendo. Rumores de uma adaptação a filme chegaram a existir, infelizmente nunca confirmados. Os argumentos do segundo e terceiro filme seriam fielmente adaptados à banda desenhada por Steve Grant, com ilustrações de Joan Jose Ryp, sob o carimbo da Avatar Press. Recentemente, a BOOM! adquiriu os direitos da personagem, publicando esta série na integra sob a forma de Omnibus.
Para além de duas séries de televisão canadianas, o alter-ego de Alex Murphy originou algo muito pouco usual para uma produção R-Rated: séries animadas e brinquedos. Em 1988 é criada Robocop: The Animated Series para levar o heróis junto dos mais novos, sem os níveis de violência do filme original. Esta série chegou a ser exibida em Portugal nos anos 90, na SIC. O sucesso é tal, que uma nova série de animação é desenvolvida em 1998, Robocop: Alpha Commando, nunca tendo chegado às televisões nacionais. Por cá, a distribuição dos brinquedos ficou a cargo da Concentra. A figura de ação foi um sucesso para as crianças que cresceram nos anos 90. Recorda o anúncio:
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Em 2014 é realizado o reboot da franquia. Nomes como Darren Aronofsky e David Self chegaram a estar associados ao projecto, mas foi José Padilha, realizador brasileiro responsável pelos filmes Tropa de Elite quem acabou por se sentar na cadeira de realizador. O papel principal ficou a cargo de Joel Kinnaman. Com um visual distinto, o filme contou com um elenco de luxo, com nomes como Gary Oldman, Michael Keaton, Samuel L. Jackson, e Jackie Earle Haley. Apesar do realizador de Tropa de Elite parecer a escolha correcta para ressuscitar a franquia, a verdade é que o estúdio conferiu muito pouca liberdade criativa ao cineasta, onde a classificação PG-13 também não ajudou. O resultado final foi um filme sólido, que respeita o filme original, mas que em termos de entretenimento e profundidade fica a milhas da produção de Paul Verhoeven.
O combatente do crime está prestes a receber uma homenagem na vida real. Em 2011, um habitante do Massachusetts sugeriu a construção de um monumento em tributo à personagem:
Filadélfia tem uma estátua do Rocky. O Robocop seria um excelente embaixador para a nossa cidade
Embora o projeto tenha sido recusado pelo presidente local, uma recolha de doações online (crowdfunding) foi criada para realizar a obra. 2700 participantes e 67.436 dólares depois, a estátua de mais de 3 metros foi construída, banhada em bronze, e está pronta para a inauguração, prevista para 2018.
Robocop foi uma das obras mais importantes dos finais da década de 80, combinando elementos satíricos e de sci-fi ao cinema de ação, abrindo caminho para filmes com atmosfera mais negra, realista e inspirando toda uma nova geração de cineastas de Hollywood e de entusiastas de cinema, ousando uma originalidade pouco vista nos dias que correm. Recorda o trailer original: