VINGADORES: GUERRA DO INFINITO | Crítica

É um triunfo de escrita e produção.

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Finalmente chegou!!! Depois de anos de teorias, entrevistas, promoção e hype, depois de um número incontável de artigos escritos, discussões infindáveis no Cubo Geek Show, depois de uma antecipação frenética e nervosa e de eu quase acreditar que nunca chegaria, finalmente chegou Vingadores: Guerra do Infinito.

Só para relembrar, o filme representa a conclusão de uma narrativa que começou com o primeiro Homem de Ferro (2008), e foi lentamente, pacientemente, construída ao longo de 10 anos e 18 (!!!) filmes. Este é um ponto que eu sinto que, por impressionante que seja, corre sempre o risco de ser esquecido. Que uma obra cinematográfica deste tamanho, uma produção com esta escala, é uma coisa inédita no cinema. Nunca foi feito, nunca sequer foi tentado desta maneira. Independentemente do que possam pensar sobre ele, Vingadores: Guerra do Infinito é um marco na história do cinema, e por conseguinte na história da cultura Humana.

E julgando pela promoção ao filme, a Marvel sabe isso perfeitamente. A promoção ao filme tem sido intensa, e os fãs, habitualmente já entusiastas, deixaram a antecipação bordejar a loucura nos últimos meses. Em qualquer situação deste género há sempre o risco tremendo de que as expectativas e o hype cresçam a um ponto em que colapsam sob o seu próprio peso, e a desilusão seja inevitável. Se esta era uma das tuas preocupações, então deixa-me começar já por dizer que o hype é real! Vingadores: Guerra do Infinito corresponde a todas as tuas expectativas mais irrealistas, e até as supera em vários momentos.

Deixa-me explicar-te como, de maneira desnecessariamente detalhada e surpreendentemente sem spoilers.

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O enredo deste filme é um dos seus pontos mais fortes, e está magnificamente construído. É surpreendente quão económico o enredo é; quase não há momentos de exposição no filme, e os poucos que existem são resolvidos de maneira curta e eficiente, tornando-se quase despercebidos. Isto permite que a história se foque exclusivamente nos aspectos da narrativa que realmente importam para construir o tom e o ritmo do filme. Desde o primeiríssimo momento o filme sabe que é o culminar épico de uma epopeia de anos, e as primeiras cenas estão genialmente construídas para transmitir esse tom de antecipação ominosa. A história atira-nos para o meio da acção a correr, sem sequer nos dar tempo para nos ajeitarmos na cadeira do cinema, e são raras as vezes em que desacelera.

Nos primeiros minutos do filme o enorme perigo da ameaça é estabelecido de maneira incrivelmente eficaz, aumentando tremendamente a parada logo desde o início. O ritmo da história é absolutamente brilhante, o equilíbrio entre os vários sub-enredos está muito bem executado, nunca se tornando confuso ou cansativo. Todo o enredo está construído de maneira a criar uma tensão quase constante, sustentando o perigo iminente e a ameaça, e criando uma sensação de escala épica que nunca pára de crescer. Eu saí do filme literalmente cansado por estar a suster a respiração durante toda a segunda metade.

A realização do filme também está excelente. Como sabes o filme tem um número ridículo de personagens, e no entanto isso nunca se torna estranho ou confuso. A realização de Anthony e Joe Russo é magnífica, e a maneira como fazem malabarismo com para cima de 60 personagens, sem que pareçam supérfluas (com uma ou outra excepção), é impressionante. Também a realização das cenas de acção está óptima, e quer seja uma batalha campal de exércitos ou um combate corpo-a-corpo, a intensidade e o drama nunca diminuem. O ritmo e coreografia destas cenas de acção está muito bem conseguido, e por longas que sejam nunca se tornam aborrecidas. Também de um ponto de vista técnico, o mundo que nos é apresentado é eye-candy puro e duro; não há cá cenários cinzentos e cores dessaturadas (estou a olhar para ti Capitão América: Guerra Civil). O filme passa por variadíssimos cenários, desde Wakanda, a planetas alienígenas e bases espaciais, todos eles com um aspecto visual distinto e único, cenários riquíssimos de pormenores e cores.

As mortes são verdadeiras surpresas, e batem como um murro no estômago.

É claro que num filme deste género, com o que pretende fazer, é uma consequência inevitável que nem todas as personagens tenham o mesmo peso, relevância ou tempo de ecrã. Isto não é um defeito do filme, é simplesmente uma limitação incontornável da história que está a ser contada. Portanto, apesar de haver algumas excepções notáveis, este não é um filme de desenvolvimento dos nossos heróis, e no geral não há grandes arcos narrativos.

Onde o filme é mesmo muito forte é nas interacções entre personagens que até agora ainda não tínhamos visto juntas. Sempre quiseste saber como seria o Senhor das Estrelas a discutir com o Tony Stark? Sempre imaginaste como seria o Thor a trocar piadas com o Rocket Raccoon? Agora podes ver isso e muitas, muitas mais. Estas interacções estão todas muito bem conseguidas, permitem às personagens ter momentos em que brilham e mostram as suas personalidades, e alguns dos melhores diálogos acontecem quando personagens improváveis se cruzam. Todo o elenco dá interpretações muito sólidas, e alguns actores/actrizes dão prestações excepcionais, mas dizer-te quem, seria um spoiler.

Mas, de longe, a personagem mais impressionante é Thanos, o Titã Louco. Já há muito tempo que sabíamos que o Thanos vinha aí; vimo-lo em Vingadores (2012), vimo-lo em Guardiões da Galáxia (2014), e no fim de Vingadores: Era de Ultron (2015). Mais uma vez, as expectativas eram tremendas, sobretudo tendo em conta o facto de que se há um grande defeito no MCU é a prevalência de vilões esquecíveis.

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Thanos é uma das melhores excepções a isso e está muito bem escrito. Não é errado dizer que ele é a personagem principal do filme, e que se há um arco narrativo é o de Thanos. Todas as suas falas são memoráveis, transmitindo sempre um peso e confiança assustadoras, com uma determinação tectónica, que é coerente com a sua imponência e brutalidade físicas. Mais interessante que isso é o facto de ficarmos a compreender tanto das suas motivações. Thanos é o melhor tipo de vilão, que é aquele que acredita que é o herói trágico. Apesar da violência que o segue, a sua crença inabalável na justiça das suas acções é assustadora. Há inclusive momentos de vulnerabilidade, que nunca parecem incoerentes, e isso deve-se à interpretação subtil de Josh Brolin, que faz um under-acting excelente.

Mas o filme não é perfeito, tem falhas, e não seria justo não as apontar. Os filhos de Thanos que agem como seus intermediários, estão desaproveitados e subdesenvolvidos. Apesar da excelência técnica do filme, há momentos em que os green-screens se notam bastante (e eu nem costumo reparar neste género de coisas). A música de Alan Silvestri é épica e acompanha perfeitamente o filme, mas continua a pecar por ser incaracterística e despersonalizada. Pior que tudo isto há complicações (plural) que surgem de maneira quase despropositada ou forçada, só porque sim. Eu compreendo que tenham de existir para fazer avançar o enredo, e até acredito que algumas venham a ser explicadas em Vingadores 4, mas neste momento, neste filme, fazem pouco sentido.

Apesar disso, estas falhas não removem nada do impacto emocional, que eu acho que é verdadeiramente onde este filme justifica a sua existência, e onde a recompensa de 10 anos de filmes se faz sentir. Para mim, a maior medida de sucesso de um filme, ou qualquer obra artística, são as emoções que gera no público, e Vingadores: Guerra do Infinito está magistralmente construído para gerar um impacto emocional fortíssimo.
A maneira como o enredo cresce, as consequências que nos são apresentadas, a luta desesperada de cada uma das personagens, conduzem meticulosamente a uma conclusão que é impressionantemente intensa e devastadora.

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Como em todos os filmes do MCU há muito humor e piadas, mas estas desaparecem por completo do meio para a frente. Há inclusivamente momentos etéreos, cenas oníricas, em que o ritmo galopante se detém para capturar um instante de beleza. São poucos, mas funcionam perfeitamente e elevam o filme no seu todo e contrastam maravilhosamente bem com o drama emocional que cresce de maneira exponencial.

Muito do drama vem da morte de várias destas personagens que seguimos desde há 10 anos. As mortes, quem morre, e como, são verdadeiras surpresas, e batem como um murro no estômago. Posso dizer com toda a certeza que NÃO estás à espera do que vai acontecer, e essas decisões mostram uma coragem arrojada por parte dos escritores; o fim do filme traz verdadeiro pathos para o MCU. Podes argumentar que estas personagens podem eventualmente voltar à vida, e isso não é impossível, de facto. Mas da mesma maneira como não podemos desculpar aquelas complicações aparentemente despropositadas com eventuais justificações, também não me interessa se vão manter ou desfazer estas mortes nos filmes seguintes; neste momento têm todo o impacto que precisam de ter, e esse impacto é tremendo.

Vingadores: Guerra do Infinito é um triunfo de escrita e produção, um sucesso contra todas as expectativas, que sobrevive a todos os hypes, e que no fim entrega uma viagem emocional com mais drama e intensidade do que qualquer outra coisa que eu tenha visto nos últimos anos.

E é só o início do fim.

Como está o teu hype?