No mundo do desenvolvimento de videojogos existem histórias estranhas que custam a acreditar que são reais. Fantasy Zone, jogo da antiga mascote da Sega, Opa-Opa, teve versão para a NES da Nintendo. Adventure Island é na verdade uma adaptação de Wonder Boy. Ou um exemplo menos obscuro, a versão internacional de Super Mario Bros. 2, sequela directa de um dos jogos mais famosos de sempre, é na verdade algo completamente diferente que pouco tinha de Mario. Mas a que talvez seja a mais intrigante e de levantar a sobrancelha é a consola que nunca chegou às nossas mãos, a PlayStation da Nintendo.
“Mas a Playstation é a primeira consola da Sony!” – Dizes tu. Não é só coincidência porque a lendária consola do século passado, que deu origem a uma nova e grande geração de jogadores, teve o seu berço aqui mesmo. Tudo começou com a introdução atribulada do CD como média físico no ecossistema das consolas de videojogos no inicio da década de ’90. O PC Engine (Turbografx-16 no ocidente), graças a um add-on, foi a primeira consola a usar estes discos e fez grande sucesso no Japão. Esta maquina trouxe verdadeiras gemas como o remake de Ys I & II e Castlevania – Rondo of Blood, que é possivelmente o melhor Castlevania clássico e prequel do grande Symphony of the Night.
Sega em resposta desta nova tecnóloga fez a Mega CD para a Mega Drive e a Nintendo também fez preparações para a sua própria versão. Em 1988 foi feito um contracto com a gigante tecnológica japonesa, Sony, com esse objectivo. E anos mais tarde, além da hipotética Super Disc que se ligaria por baixo da Super Nintendo Entertainment System (que pouco de concreto se sabe), foi produzido pela Sony um protótipo de uma unidade única destes dois módulos chamada PlayStation, com a capacidade de ler discos e cartuchos da SNES.
Então, porque é que esta consola não chegou às prateleiras das lojas? Por um motivo muito simples. A Sony queria ficar com os direitos do formato de disco e a Nintendo não gostou da ideia de perder controlo sobre o seu bebé de 16-bits e cancelou a parceria. A publicadora do canalizador de bigode ainda tentou recomeçar o projecto com a Philips. Mas o insucesso da Mega CD, causado pelo investimento desnecessário em jogos medíocres de filmes live-action com interacção diminuta em vez de focar noutras vantagens do formato e em estilos de videojogo mais aliciantes, fez a companhia desistir da ideia por completo.
A Nintendo só voltaria a pegar nos discos com a Gamecube, duas gerações mais tarde. A Philips ainda tentou vender o seu próprio aparelho, a CD-i, e foi neste mesmo negócio que esta companhia tecnológica conseguiu adquirir direitos para produzir os seus próprios jogos de Mario e Legend of Zelda. Uma história para contar noutro dia, pois os verdadeiros fãs destas séries preferem esquecer… E claro! Não é preciso dizer que a Sony teve a mesma ideia em lançar a sua própria maquina, pois não?
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Uma teoria popular na Internet diz que se a colaboração à volta da Nintendo PlayStation tivesse ido em frente, os anos seguintes teriam sido dominados pela Nintendo e a paisagem deste medium teria sido completamente diferente. Sinceramente, a realidade é que as coisas pouco mudaram. O objectivo da Sony era claro, todo este processo era com o intuito de testar o mercado dos videojogos e ganhar experiência no mesmo. A companhia iria de qualquer maneira lançar a sua própria maquina na era de 32/64-bits.
A construção da verdadeira Sony Playstation foi extremamente cuidada e artefactos deste longo processo são claramente visíveis em algumas das suas características. O comando, por exemplo, é claramente uma versão ergonómica do equivalente da SNES. Nestas condições, juntamente com a arrogância que existia nas decisões corporativas das companhias rivais já demasiado acostumadas ao mercado, o sucesso da PS1 era mesmo inevitável.
O tipo de experiência mais semelhante desta ideia perdida, a que o publico tem acesso facilmente, consiste numa modificação caseira em que um chip especial chamado MSU1 é instalado na Super Nintendo. Graças a este componente pode-se jogar versões alteradas de jogos com áudio CD-ROM e sequências em filme.
A modificação mais notável que usa este chip é possivelmente a de Legend of Zelda – Link to the Past onde juntamente com musicas de alta qualidade nos mostra um desenho animado introdutório de Link a falar com o seu tio antes do inicio da aventura. Oh, imagina jogar Super Metroid, Final Fantasy V ou VI assim! É simplesmente divinal… Mas uma coisa é certa, infelizmente nunca saberemos com toda a certeza o que seria ter jogos da Nintendo de duas dimensões em disco durante a sua era de ouro no milénio passado.