Crítica | Sonic The Hedgehog (1991)

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Em alguns média, principalmente nas obras direccionados para toda a família, temos aquela personagem que é a nossa cara. Na animação temos o rato Mickey, em manga temos Astro Boy ou Son Goku, nas bandas desenhadas franco-belga temos o repórter Tintin, nos recipientes de cozinha temos a Tupperware… A cara dos videojogos é indiscutivelmente, Mario da Nintendo.

Apesar de terem passado umas boas décadas desde que ele fez tremores no mundo, ainda hoje sentimos o chão a abanar. O seu bigode representou as próximas Olimpíadas de verão no fecho das ultimas no Brasil. E os fãs dos telemóveis aguardam a sua chegada a este novo mercado. Não houve engano no titulo, porque Sonic não teria nascido se o canalizador não cá estivesse. Vamos aqui falar daquele, possivelmente o único, que conseguiu realmente fazer uma mossa no kart deste ícone.

A década de ’80 e inícios da seguinte pertenciam à Nintendo, tanto no mercado nacional japonês, como no outro lado do pacífico nos Estados Unidos. A Sega, empresa rival, não se tinha safado nada mal na Europa e na América Latina, mas foi praticamente dizimada onde a gigante vermelha centenária tinha o controlo. E agora a Sega tinha a Mega Drive e Nintendo, a SNES. A consola da Nintendo, em termos técnicos, tinha uma boa vantagem sobre a rival: a sua resolução era maior, conseguia apresentar mais cores no ecrã e o som era mais orquestral e suave a comparar com a MD que era mais electrónica e forte, que muitos viam como sendo pior na altura.

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Onde a Sega tinha vantagem era no seu processador, era mais rápido e conseguia fazer cálculos mais complexos, usar esta carta era essencial num novo jogo. Nem Alex Kidd ou Opa-Opa tinham a pedalada suficiente para ser a mascote que precisavam. A nova face tinha de se destacar tanto em aspecto como em habilidade.

Onde Mario corria num mundo composto em blocos em duas velocidades praticamente constantes, a nova mascote Sonic, aproveitava a capacidade de processamento da Mega Drive. Ele era mais rápido e a sua física mais realista. A aceleração era variável e não se perdia instantaneamente depois de travar, ele conseguia atravessar rampas complexas e loops de forma tão suave ao ponto de ser complicado de replicar exactamente o mesmo no hardware da Nintendo.

Em termos artísticos, o mundo era o mais colorido que era possível e aproveitava uma arquitectura muito mais abstracta e menos linear dos jogos de plataformas típicos da altura, construídos para fazer sobressair as novas habilidades. Os jogadores que reagiam rápido e tinham uma boa prestação conseguiam alcançar caminhos mais altos, atractivos e curtos. Caso contrário era andar cá em baixo devagarinho até conseguirmos subir outra vez mais a frente.

Aquele que conseguiu realmente fazer uma mossa no kart de Mario

Para ajudar o publico que não estava habituado a estas mudanças, a personagem não “morria” imediatamente após perder os seus power-ups, como é costume. Em vez de usar algo como uma barra de vida, o jogador perdia o equivalente das típicas moedas de ouro que apenas aumentavam as pontuações, os Rings. E alguns destes era possível apanhá-los de novo, só perdendo uma vida (salvo situações mais extremas) quando o contador estava a zeros. Quem conseguia acabar o nível com pelo menos 50 Rings, ganhava a oportunidade de adquirir uma das 6 Chaos Emeralds, necessárias para o melhor final do jogo.

A interpretação de como eram as personagens pixelizadas e história variavam de região em região, influenciadas pelos diferentes manuais e material publicitário local. Eu vou tentar encontrar um equilíbrio entre a intenção dos criadores e das varias equipas de marketing na sua descrição.

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Para fazer contraste ao homenzinho gordinho sorridente vestido de vermelho da Nintendo, Sonic era um ouriço azul, cor da marca, com vários espinhos pontiagudos. Um facto de ele ser um animal é propositado, ele é baseado num marco importante dos desenhos animados, o gato Felix, tanto em aspecto como em expressão. O nosso herói tinha também as luvas brancas típicas da Disney e uns sapatos desportivos vermelhos com um pequeno cinto à volta baseado numas botas de Michael Jackson. Ele era apresentado como tendo um pequeno problema de atitude, era impaciente e convencido, mas era amigo dos animais mais pequenos e preocupava-se com o seu bem estar. Isto tudo era propositado para captar a atenção das crianças que eram o foco principal do mercado.

O mau da fita, que faz o papel de Boss no fim de cada zona, era o contrário de Sonic. O cientista louco, Dr. Ivo “Eggman” Robotnik, um homenzinho gordinho sorridente vestido de vermelho (espera ai um minuto!). Baseado numa caricatura de Theodore Roosevelt, ele tinha a forma de ovo para ser fácil de desenhar e era parecido com uma morsa, que suspeita-se ser uma referência à canção dos The Beatles, “I Am The Walrus”.

O doutor tinha um enorme exército de robôs, os principais obstáculos do jogo, cujo os amiguinhos do Sonic faziam de suas baterias. Estes incrementavam a pontuação quando destruídos e caso fosse feito em cadeia sem tocar no chão, esta era multiplicada. O protagonista, sendo um ouriço, conseguia encolher-se numa bola que em combinação com todas as outras características do jogo, já mencionadas, fazia isto tudo parecer uma mesa de pinball gigante.

A genialidade por detrás destas ideias é visível em zonas do jogo como Green Hill ou Starlight, portanto Sonic The Hedgehog é um Deus na terra da industria? Certo?… Agora é que vamos cair na realidade. O que provavelmente é resultado de um tempo de produção apertado, temos conteúdo como Marble Zone e Labyrinth que são o suficiente para deitar a casa abaixo. Estas partes são monótonas, com plataformas genéricas que podemos encontrar em todo lado. No caso do Labyrinth temos secções debaixo de água, longas e obrigatórias. Algumas máquinas que o doutor pilota vão também perdendo a sua originalidade ao longo do jogo. Nos dias de hoje, se estivermos a jogar num dia menos bom, é muito provável que nos dê a vontade de desligar a consola a meio.

Mas felizmente a venda do jogo foi um grande sucesso. Este jogo é o que Donkey Kong é para o Mario, com uma fórmula definida, bastou polir as coisas e as duas sequelas numeradas seguintes foram onde Sonic começou realmente a brilhar… Literalmente.

Está-Quase-Lá

Sega, ainda é mais forte que tu?