Quer se queira, quer não, Metal Gear Solid V: The Phantom Pain marcou o fim da série Metal Gear de Hideo Kojima. É verdade que a produtora Konami aparenta continuar a suportar a série mesmo depois da saída do seu criador da companhia, mas não vai ser a mesma coisa. Metal Gear não é Mega Man, Sonic ou Street Fighter, pois a identidade de Kojima está tão ligada à saga de Big Boss e Solid Snake que é impossível olhar para um sem o outro. O desfecho está longe de ter sido perfeito, Konami não deu o respeito merecido a Phantom Pain e a todos aqueles que trabalharam na produção do videojogo e por muito bom que o videojogo seja, as falhas conseguem-se sentir.
Por outro lado é verdade que Kojima também não foi nenhum santo, a sua paixão por Hollywood chegou a níveis exagerados, o que levou a desentendimentos com actores de voz, como David Hayter, que podiam ter sido resolvidos de maneira diferente. Mas foi o que tivemos e Phantom Pain fechou a saga em forma de círculo regressando ao seu inicio. Existem duas versões do 1º Metal Gear, o original de Kojima para o computador MSX de 1987 e um port duvidoso para a NES feito algum tempo depois que pouco interesse temos em visitar nos dias de hoje. Aqui iremos analisar a versão de MSX.
Em Metal Gear jogamos na pele de Solid Snake, um espião e soldado das forças especiais da FOXHOUND, cuja missão é infiltrar-se na fortaleza de Outer Heaven, salvar o seu colega Gray Fox de um grupo de soldados renegados e destruir Metal Gear, uma máquina bípede com a capacidade de lançar armamento nuclear. O único apoio que tem é a comunicação por rádio com o seu oficial de comando, Big Boss, e outros aliados. É um videojogo de acção top-view onde Snake tem de adquirir cartões-chave, acessórios (como mascaras de gás ou caixas de cartão) e armamento para prosseguir por Outer Heaven.
A oposição é composta principalmente por soldados que estão a fazer patrulhamento pela fortaleza à procura de invasores. O jogador é incentivado a evitar qualquer contacto sempre que possível. Se Snake for descoberto (assinalado com o icónico “!” sobre a cabeça do soldado inimigo ou câmara de segurança) o alarme é accionado e é atacado por forças inimigas, e dependente do nível de alerta, Snake tem de fugir para outra sala ou mesmo ir para outro andar para conseguir escapar. Nos casos menos graves ainda é possível matar os inimigos para desligar o alarme, mas nem sempre é a situação ideal para conservar vida e munição necessárias para momentos mais dramáticos como batalhas contra bosses. O curioso é que a ideia de usar conceitos de stealth no videojogo tem origem nas limitações de hardware da MSX, que não conseguia fazer scrolling do ecrã, impossibilitando um videojogo com acção mais movimentada.
Não é muito diferente do que vemos nas entradas seguintes, no entanto não deixa de ser uma versão mais rudimentar do que foi melhorado nos anos seguintes. Não existe qualquer tipo de radar e o campo de visão do soldados é uma pequena linha contínua por vezes fácil demais de evitar. Em vez do sistema de um cartão de acesso único de Metal Gear Solid, os vários níveis de acesso são separados em cartões diferentes que temos de alternar várias vezes até conseguir abrir as portas. Existem vários reféns para salvar cujo número aumenta as capacidades de Snake (como a quantidade de vida), matar acidentalmente uma destas personagens pode mesmo tornar o videojogo impossível de completar, algo que não é óbvio de imediato. Entres outros pormenores típicos de um videojogo típico dos anos ’80.
Surpreendentemente, para quem conhece o trabalho das equipas chefiadas por Kojima, a história é extremamente simples. A 1ª Rogue Gallery típica da série não passa além de coisas como o “Um tipo que usa um lança chamas” ou “Tanque”. Traços característicos como a tendência de repetir o que lhe disseram e a relação complicada com o campo batalha que Solid Snake tem, ou a tendência que Big Boss tem em tornar inimigo em aliado, são só introduzidos em Metal Gear 2.
https://www.youtube.com/watch?v=EHFoiYmmm6M
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O único detalhe que sobressai é a revelação da verdadeira mente que está por detrás da criação de Outer Heaven, o primeiro antagonista principal da série. Na altura devia causar algum choque mas nos dias de hoje é equiparável a saber quem está por detrás da máscara de Darth Vader. Mas é curioso saber que brincadeiras como mensagens de rádio a pedir para desligar a consola para travar a missão de Snake e influencias cinematográficas que o criador da série tanto adora, como O Exterminador Implacável e Nova Iorque 1997, já eram usadas uma década antes de serem louvadas pela industria dos videojogos em geral.
Metal Gear sofre de muitos problemas típicos de videojogos da era de 8-bit que não seriam aceites no mercado actual, mas é uma experiência muito sólida (trocadilho não intencionado). São realmente as raízes bem fortes de uma saga amada pelo público em geral. Se fores um fã ferrenho da série ou adoras videojogos retro da era de ’80, Metal Gear é um videojogo que não deves mesmo perder. Versões em inglês são incluídas por norma nas versões Subsistence de Metal Gear Solid 3, disponíveis na PS2, PS3, Xbox 360 e PS Vita.