Quando descobri que Sawaki Takeyasu ia lançar um videojogo novo fui logo transportado para o belíssimo El Shaddai: Ascension of the Metatron. Se não jogaste, este é um videojogo em terceira pessoa com elementos do conhecido género platforming, munido de uma belíssima arte, transporta-nos para o mundo do livro Book of Enoch, onde controlamos o próprio Enoch.
Pensamento errado, pois ao ver The Lost Child apercebo-me que a jogabilidade mudou drasticamente, passando para um dungeon crawler em primeira pessoa. Neste viajamos por cidades asiáticas, derrotando monstros e confraternizando com inúmeros cidadãos.
Assumimos o papel de Hiyato Ibuki, um jornalista da revista LOST, uma revista que trata acontecimentos ou artigos ligados ao oculto e tudo o que traz consigo, espíritos, fantasmas ou acontecimentos sobrenaturais. Podemos até nem ligar ao que nos é transmitido mas como colaboradores da revista temos de investigar os casos que o nosso editor nos atribui, logo, partimos sempre à descoberta de algo, novo ou inexistente.
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A história de The Lost Child trata um caso que estamos a seguir numa estação de metro, onde várias pessoas têm saltado para a linha do metro, ou, caso queiram interpretar à vossa maneira, são empurradas. Isto tudo pode parecer ridículo para um jornalista mas torna-se real quando lá estamos na estação e somos nós empurrados para a linha, sendo salvos por uma mulher, puxando-nos para cima, esta dá-nos uma mala selada e desaparece pela multidão de pessoas.
Ora, sendo um videojogo japonês tem de vir a parte surrealista. Acontece então que desce um anjo à terra e nos explica que decorre naquele momento uma guerra entre o céu e o inferno (engraçado que analiso este videojogo na mesma altura em que ando a passar de novo o primeiro Darksiders, fazia ali falta o meu amigo War para meter ordem naquilo…) e nós estamos no meio dessa mesma guerra. Começa então a luta pelo equilíbrio das forças.
Hiyato e Luna partem numa demanda pela estabilidade na balança do poder. Esta luta pelo equilíbrio traduz-se na captura e posterior uso de demónios no combate, pois Hiyato é um lingrinhas e não foi feito para lutar. Este sistema tipo Pokémon é o âmago do jogo, pois permite-nos melhorar constantemente o tipo de batalha que travamos, com mais e melhores bestas com que nos munirmos. Aliás, grande parte do videojogo consiste nisso, no grind para evoluirmos e purificarmos os monstros que temos na party.
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Além do combate, temos também vários puzzles que temos de resolver ao longo da demanda, nada demasiado difícil nem demasiado fácil, o verdadeiro desafio são as boss battles, é aqui que encontro um problema em The Lost Child, quando a dificuldade do videojogo se encontra em Medium, é esperado que existam desafios ao longo do caminho, ora, em The Lost Child é 8 ou 80.
No caminho do boss temos batalhas que limpamos com a maior das facilidades, no entanto, chegados ao fim, encontramos uma batalha demasiado difícil para quem limpou o caminho anterior. Isto não é uma questão de ser impossível, é a falta de equilíbrio que não existe no caminho, onde as batalhas com inimigos são sempre fáceis, e as batalhas dos bosses são sempre difíceis, mas mesmo DIFÍCEIS.
Não obstante a dificuldade, encontrei uma arte bastante bem desenhada no jogo, com traços característicos dos animes, o mundo é representado por cores vibrantes e personagens excêntricas, desde Luna ao cidadão comum. O facto de ser desenhado à mão dificulta o trabalho, mas sendo estas áreas fechadas, consegue-se dominar melhor o espaço que temos no campo de visão, o que culmina numa estabilidade visual bastante apelativa.
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A banda sonora é bastante acelerada, dando-nos ímpeto para triunfarmos nas batalhas que encontramos, seja em que ambiente for, temos sempre uma aceleração extra para conquistarmos e capturarmos os monstros nas ferozes batalhas que travamos. Em diálogo temos a chamada música de centro comercial, calma e serena enquanto a história vai desenvolvendo.
O diálogo por vezes prolonga-se mais do que devia, não parece medir a paciência do jogador em carregar ou ler um cenário estático, o que resulta em mim encostado a carregar X, X, X, X, X, X durante 2 ou 3 minutos, com as escolhas pelo meio. Com as tradicionais piadas e expressões que encontramos nos animes, o diálogo mantém o mesmo ritmo ao longo de todo o jogo.
Para quem tinha saudades de um dungeon crawler que nos desse motivos para repetirmos as fases ou como o videojogo chama layers, aqui têm, The Lost Child representa uma junção que culmina num título que qualquer fã do género irá apreciar, com ênfase no grind. Não é o pináculo do género nem muito menos o pior, The Lost Child traz uma experiência que nos entretém, mas não deixa marca.
The Lost Child já está disponível para Playstation 4, Playstation Vita e Nintendo Switch.