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Saído dos eventos do crossover Assault on Pleasant Hill, Steve Rogers está de volta e empunha um – se bem que não o – escudo. O escritor Nick Spencer e o artista Jesus Saiz dão um fascículo que deveria ser um regresso triunfante para a personagem, mas que acaba por ser uma confusão sem inspiração, feia e, em geral, irritante, acaba por por ser um insulto ao Vingador das estrelas e riscas e até aos seus fãs.

O fascículo começa bem, cheio de potencial – Steve está numa missão de impedir que um comboio sequestrado expluda e tem consigo Sharon Carter, Rick Jones, Jack Flag e Free Spirit. Em simultâneo, os leitores recebem flashbacks da sua vida com um pai abusivo e uma mãe carinhosa.

Steve tem consigo uma equipa divertida, o que é excelente, principalmente porque a missão é bem banal – quantas vezes já se leu uma equipa de agentes da SHIELD a tentar parar um comboio? É típico de um livro do Capitão América e nenhum dos talentos envolvidos nesta banda-desenhada conseguiu com que tal parecesse fresco e inovador.

O fascículo também retrata a atual ascensão da HYDRA e é aqui que a história de Spencer se desmorona completamente pois ele reinventa a HYDRA como uma organização tipo ISIS conduzida por racismo – sim, esta nova HYDRA faz perfeito sentido no nosso mundo de hoje em dia, uma cambada de suprematistas brancos que estão fartos de uma cultura demasiado politicamente correta e querem fazer alguma coisa sobre isso, mas o conceito é apresentado de uma forma tão realista que não parece algo que requer uma intervenção de super-heróis. O twist chocante no fim eventualmente oferece alguma plausibilidade, mas até lá os leitores ficam a perguntar-se porque raios o Capitão América está tão preocupado com terroristas normais, principalmente depois de ter saído de uma storyline de “dobrar” a realidade.

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E depois, claro, chega o dramático choque no fim do livro, em que Steve Rogers declara-se um inimigo ao atirar Jack Flag de um avião e a dizer «Viva a HYDRA» e é aqui que a BD cai e forte numa mediocridade de marketing em massa. Certamente Capitão América, a sentinela da liberdade, não é um agente da HYDRA. Certamente a sua mãe não o educou como um inimigo do país. Ou talvez a Marvel tenha ficado sem formas de contar histórias interessantes sem destruir anos de mitologia – podes ler Internation Iron Man para mais.

O editor executivo da Marvel, Tom Brevoot já veio dizer que isto é apenas a ponta do iceberg e que no próximo fascículo irá explicar o como e porquê de as coisas estarem como estão – sim, mas como vão explicar como Steve foi capaz de enganar o Mjolnir do Thor? – e que esta é uma ideia que está em desenvolvimento desde que Spencer começou a escrever títulos de Capitão América, desde o final de 2014.

Isso pode ser tudo verdade, mas não deixa de parecer barato – uma gimmick, inspirada por uma tentativa de tirar as atenções da concorrência, do Rebirth da DC. O mais certo é que seja tudo resolvido e desfeito depressa, dizendo que ele era na verdade um triple agent ou que é tudo culpa do Cubo Cósmico – um dispositivo que altera a realidade e que já foi usado no passado para fins nefastos.

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O problema que é que os leitores não se esquecem e acabaram de ler o Cap a matar um parceiro, e a não ser que digam que Jack Flag sabia o que ia acontecer e tinha um para-quedas especial escondido, então não há volta a dar. A não ser que digam então que este nunca foi o verdadeiro Steve Rogers – o que só vai salientar a ideia de isto não passar de uma gimmick.

Seja como for, os fãs já não estão satisfeitos e até já há uma hastag – #SayNoToHYDRACap. Aliás, nem o ator que interpreta a personagem no grande ecrã ficou feliz com a reviravolta que lhe atiraram para o colo.

E onde há a maior a resposta, contudo, é na comunidade judia – afinal, o Capitão América foi criado por dois Judeus numa resposta à Segunda Guerra Mundial. O primeiro grande ato da personagem foi dar um murro na cara ao Hitler e a HYDRA começou como uma organização Nazi, mesmo que ao longo do tempo tenha evoluído para uma representação de todo o mal no mundo. A Marvel revelar que Cap foi um Nazi este tempo todo é normal que não lhes tenha caído bem.

Mas também há alguns fãs que vêm isto como uma representação do que se passa na América atual – como país, a América não está acima de ser levada a torcer por racistas quando acham que o seu sustento está em perigo. Um Cap que tem sido secretamente um operativo da HYDRA desde sempre pode não ser um símbolo da América ideal, mas talvez seja um símbolo do que a América realmente é ou se tornou.\

O problema é que o fascículo nem sequer é ajudado pela arte – embora os flashbacks tenham cores apelativas e encaixa bem na época, a maior parte do fascículo parece uma mistura de imitação de airbrush e um toque de Archie clássico, que não fica bem com o tom sóbrio que a HYDRA trás. Os painéis também são confusos, e por vezes têm demasiados balões.

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No fim, esta é uma banda-desenhada que quase chega a ser nojenta – imagina descobrir que o teu pai não é teu pai e que o teu pai nem sequer existe. Em Captain America: Steve Rogers #1 foi-nos dito que todos os ideais e objetivos que alguma vez tivemos são insignificantes.

É normal que muitos leitores não tenham gostado do que aconteceu, principalmente vindo isto de uma companhia que não tem sido propriamente confiável nos seus preços e gimmicks – podes ler Civil War II para mais. É uma BD longa, previsível e merece bastantes revirar de olhos.

Capitão América merecia melhor do que isto.

Lê mais sobre Capitão América.

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