Ler uma banda desenhada do Doutor Estranho obriga sempre a uma preparação prévia para entrar no espírito ideal. Obviamente é necessário entrar num estado de espírito transcendental, colocar a tocar uma boa música dos The Doors ou dos Pink Floyd e concentrar-nos o suficiente para compreender plenamente todas as mudanças constantes de dimensão, tempo e personagens. Só depois de tudo isto feito conseguimos entrar no espírito estranho ideal para desfrutar plenamente desta banda desenhada.
Robbie Thompson que não se limita a desenvolver a sua actividade como argumentista na Marvel, pois também é responsável pelo argumento de alguns episódios da série de culto Sobrenatural, apresenta uma narrativa muito competente e capaz de ser bem incluída por entre as várias histórias de Doutor Strange, mas longe de ter apresentado algum momento de brilhantismo nos seus primeiros cinco números ou ser capaz de surpreender os fãs e não fãs.
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A narrativa é bastante simples. Merlin, sim o mago medieval que todos conhecemos e que já teve mais encarnações na literatura, cinema e televisão, do que realidades existentes no universo da Marvel. O decano mágico tem de enfrentar os terríveis vilões, designados por Esquecidos, homens que foram aprisionados pelas suas práticas de magia negra e que tiveram aprisionados durante centenas de anos, transformando-se em criaturas estranhas e sem compaixão. Está criado o início do enredo, existe um desafio na forma de um vilão poderoso e é necessário combate-lo. Neste momento, é necessário recrutar um conjunto de heróis dispares para o fazer.
Assim, Merlin recruta os vários Feiticeiros Supremos que existiram ao longos dos séculos. Como qualquer bom fã sabe, essa coisa do contínuo espaço-tempo é uma balela para o Doutor Strange e seus companheiros de luta. Entre esses Feiticeiros Supremo conta-se o nosso protagonista, o próprio Doutor Estranho, mas não só, são ainda recrutados outros, como o Sir Isaac Newton (sim, o tipo das leis da termodinâmica também tinha poderes e tal), Wiccan, a brasileira Ninna ou, para surpresa geral, o Ancião ainda em jovem. Qualquer fã adora ver as personagens que aprendeu a adorar noutros momentos da sua vida, seja em jovem ou em velhote.
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O Doutor Strange apresenta-se sempre por um discurso mordaz e desafios metafísicos fantásticos e as suas bandas desenhadas são sempre um deleite visual, quer pela beleza das imagens, com as cores vivas, capazes de nos induzir num certo estado de transcendência, sendo obviamente impróprias para pessoas que sofram de epilepsia. Claro que também existem inúmeros combates com a utilização amiúde de magia, mas também de uns bons socos quando necessário. Temos pancadaria e magia, temos humor e temos até um pouco de drama.
Tudo bons ingredientes para uma boa história, mas a narrativa não nos prende, nem consegue surpreender de forma alguma. Sendo isso o que verdadeiramente surpreende na história. Se um conjunto de heróis que pode viajar por todas as dimensões e cronologias, enquanto enfrenta vilões que podem ser tudo o que quiserem e transformar-se em qualquer coisa, não nos consegue surpreender e prender a nossa atenção, algo aqui está um pouco errado.
Em conclusão, temos um desenho fantástico capaz de fazer as delícias de fãs e não fãs e cores que tornam a experiência visual de ler Doctor Strange and the Sorcerers Supreme um enorme prazer. Mas o enredo pouco surpreendente e por vezes pouco interessante estragam em parte o festival de alucinogénos que poderia ser esta banda desenhada. É esperar pela crítica dos volumes seguintes com a grande esperança que falhas indicadas sejam resolvidas.
Doctor Strange and the Sorcerers Supreme Vol. 1 compila do número #1 ao número #5.