A parceria do argumentista Jason Aaron e do ilustrador Chris Bachalo é uma das melhores da Marvel e todas a suas potencialidades estão patentes neste volume de Doctor Strange. Os enredos de Aaron são sempre bastante fantásticos com fortes elementos de imaginação e surrealismo a marcarem presença, já a ilustração feita pela pena de Bachalo acompanham a narrativa de forma perfeita elevando e desenvolvendo a mesma.
O entrelaçar das duas é tão bem feito e combina de tal forma que se ajudam mutuamente a serem ainda melhores. Excelente combinação de texto e imagem, sem qualquer sombra de dúvida. A nossa imaginação flui com o colorido das imagens e o coração acelera com a cadência da narrativa.
A narrativa é muito bem construída. A cadência não é muito acelerada, mas tem um bom ritmo que nos permite respirar, mas também sofrer e ansiar sempre por mais. A construção do conflito entre os feiticeiros e outras criaturas mágicas e o Grande Inquisidor deixa-nos presos e a torcer pelo Doutor Estranho, como não podia deixar de ser. Mas a narrativa não é só acerca de conflito, mas também sobre ultrapassar as dificuldades e lidar com a perda seja ela metafórica ou factual. Além da necessidade e capacidade das personagens se adaptarem a uma nova realidade.
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No passado o Doutor Estranho teve de se ambientar ao facto de existir magia no mundo e ele ser uma parte desse mundo, agora tem de retroceder, ou avançar, conforme a opinião, para lidar e lutar pela sobrevivência num mundo onde a esmagadora maioria dos elementos mágicos desapareceram e ele quase está transformado numa pessoa normal. Quase, porque continua a ser o Doutor Estranho, Feiticeiro Supremo, e a ter muitas cartas mágicas na manga.
As personagens são do melhor que se pode apresentar numa banda desenhada da Marvel. O Doutor Estranho encontra-se diante do desafio de sobreviver num mundo longe da realidade em que se acomodou em viver e tem de enfrentar a culpa pelos seus feitos e pelo poder alcançado. Realidade também enfrentada pelos companheiros do Doutor como a Feiticeira Escarlate, o Wong, o Mahatma Doom ou a bibliotecária mais mágica do mundo, Zelma.
A dupla Jason Aaron e Chris Bachalo funciona muito bem em conjunto na construção de um belo entrelaçar entre texto e imagem.
A estes opõe-se o Grande Inquisidor, que não é somente um vilão sem grande espessura que apenas quer destruir o mundo ou alcançar grande poder. Este tem os seus motivos muito pessoais para odiar a magia e que radicam num passado de sofrimento e dor. Os heróis não são criaturas absolutamente boas que combatem pelo bem e pela justiça, mas são personagens com várias dimensões e que muitas vezes têm de enfrentar o seu lado mais negro, por vezes literalmente, para prosseguirem no caminho da rectidão e no fundo serem os heróis que são.
A narrativa merece sem dúvida alguma o tempo que investimos nela, quer visualmente, quer pela história. A dupla Jason Aaron e Chris Bachalo funciona optimamente e faz as delícias dos fãs neste volume. Se todos os enredos da Marvel fossem como este certamente a companhia não enfrentaria algumas das dificuldades que a afligem na área da venda de bandas desenhadas.
Doctor Strange Vol. 2: The Last Days of Magic compila do número #6 ao número #10.