É impossível não se gostar da personagem Jessica Jones. Ela tem tudo o que gostamos num anti-herói. Por um lado, é uma personagem heróica capaz do auto-sacrifício para ajudar o bem comum. Por outro lado, tem muitas reticências em ser incluída em grupos mais vastos de super-heróis e apresenta uma espessura psicológica bastante desenvolvida, comete erros e nem sempre é a boazinha da história.
Outra coisa não seria de esperar de uma heroína criada pelo gigante Brian Michael Bendis. Ele que retorna à sua personagem nesta colecção, sendo novamente acompanhado pelo co-criador de Jessica Jones, o ilustrador Michael Gaydos. A combinação de argumentista e ilustrador funciona extremamente bem, com o estilo de Gaydos a ser perfeito para as narrativas difusas e pouco claras elaboradas por Bendis para Jessica Jones.
A própria narrativa tem sabido manter-nos presos aos longos destes primeiros seies números. Mas ao estilo que a Marvel tem seguido ultimamente, não existem finais felizes. Assim, se anteriormente Jessica Jones parecia ter encontrado um lar e uma família junto a Luke Cage, tudo isso desmoronou-se e o casal enfrenta graves problemas conjugais e está completamente separado. Claro que Jessica sofre de constantes dúvidas existenciais e desafios, como é típico das personagens de Brian Michael Bendis.
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Mas precisamente por isso, surge mais humana e com maior facilidade de identificação dos leitores com ela. Afinal todos nós somos criaturas multifacetadas que enfrentamos desafios diários e somos perturbados com imensas dúvidas acerca das nossas escolhas e caminhos que trilhamos. Como personagem há muito pouco a criticar na Jessica Jones. Excepto, claro, se quisermos encontrar um herói típico com todas as suas certezas e forças inimagináveis. Porém, o tempo desses heróis parece ter passado, afirmando-se os heróis de grande espessura psicológica e comportamental. Sem dúvida muito mais interessantes.
Sem grande surpresa a Jessica Jones tornou-se uma detective privada e como é óbvio acaba a ter de resolver um caso que é muito maior do que aquilo que seria de esperar. Não é uma forma extremamente inovadora de desenvolver uma história. Um pequeno caso lentamente transforma-se numa história muito maior e com uma grande conectividade. Com grandes casos, que geralmente acabam no salvamento do mundo, da humanidade ou daqueles que são queridos à nossa personagem principal.
O primeiro volume de Jessica Jones dá-nos tudo aquilo que podemos esperar da parceria Brian Michael Bendis e Michael Gaydos.
Não é inovador, mas funciona sempre muito bem e por isso continua a ser utilizado amiúde. Mas como estamos diante de uma banda desenhada da Marvel existem sempre muitas ligações a outras histórias e a narrativas passadas, o que por vezes pode ser difícil de acompanhar se só agora se tiver entrado neste fantástico universo. Mas uma pesquisa apurada pela internet rapidamente permite colmatar todas essas falhas e saber tudo o necessário para se compreender em grande medida. Abençoada internet com todo o saber necessário para nos ajudar a compreender o mundo e também para nos confundir ainda mais.
Além das narrativas paralelas e passadas mencionadas em referências que vão surgindo com fartura, também temos as típicas aparições de outros heróis da Marvel desde logo no caso mais premente de Luke Cage, antigo marido de Jessica Jones. Mas certamente não é o único a aparecer. Este interligar de história acrescenta sempre algo mais à história permitindo enquadra-la num universo mais vasto, tornando-a mais interessante, embora por vezes mais confusa.
Em resumo, Jessica Jones é uma colecção que merece ser lida e este primeiro volume é a consubstanciação desse facto. Temos uma boa história, com uma personagem muito interessante e uma ilustração que se liga muito bem com a narrativa. Nada disso é de admirar se já conhecermos as capacidades de Brian Michael Bendis e Michael Gaydos. Esperemos que continuem a colaborar por muito tempo e nos continuem a entregar volumes com esta qualidade.
Jessica Jones Vol. 1 compila do número #1 ao número #6.