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“Wake Up”

Sabes qual é o problema da hipérbole? É que todas as vezes que esta série se supera a si mesma eu já não sei como tornar a coisa ainda mais hiperbólica. Vou ter de pedir aos nossos editores para instalarem um botão e a cada novo episódio de Agents of S.H.I.E.L.D. tu carregas e aparece um vídeo de mim a correr em círculos a rir-me histericamente. Parece-me a única solução razoável.

Este foi provavelmente o melhor episódio desta temporada, senão mesmo um dos melhores episódios de toda a série até agora. A abertura do episódio é pouco menos do que perfeita. É-nos mostrada a maneira como a May foi originalmente capturada pelo Radcliffe e pela AIDA e posta numa prisão virtual de um spa pacífico, da qual ela insiste em escapar. Gostei muito da maneira como as novas cenas são misturadas perfeitamente com cenas que já tínhamos visto antes para preencher os buracos na narrativa. Mais importante do que isso, Radcliffe revela que afinal há um segundo LMD infiltrado! TAN TAN TAN!!!!

Com essa ideia presente na mente do espectador todo o episódio ganha uma nova dimensão de suspeita e dúvida e paranóia que está soberbamente bem explorada. Quem é o LMD? Qual destas novas personagens que adoramos é na realidade um traidor? É dificílimo de perceber porque já percebemos que a própria pessoa pode não saber que é um LMD.

Todo o resto do episódio está cheio de pequenos pormenores e detalhes que sugerem que uma ou outra personagem pode ser um LMD, que só são perceptíveis ao espectador, porque é o único que sabe que há um LMD infiltrado. É um tom narrativo muito específico, que não é fácil de criar e muito menos fácil de executar como deve ser, muito à semelhança de The Thing – Veio do Outro Mundo (1982) e Battlestar Galactica (2004).

o tom de suspeita e paranóia constante, que é o objectivo deste tipo de tropes e narrativa de substitutos andróides indistinguíveis de humanos, foi perfeitamente executado.

Como se de propósito (até parece que foi escrito) a cena seguinte é exactamente das nossas personagens preferidas todas juntas à volta de uma mesa a discutirem o futuro da S.H.I.E.L.D. e Jemma começa logo a levantar dúvidas quando, a propósito da ideia arriscada de expor Daisy para assinar os Acordos de Sokovia, diz à Daisy e ao Coulson: “Are you? It doesn’t seem like you! And Coulson, you letting her? It doesn’t seem like you either!”. Será que é porque estas personagens estão em situações muito difíceis que exigem que saiam da sua zona de conforto, ou será que é por serem LMDs?

Este tipo de comentários ambíguos que podem ou não apontar para a artificialidade das personagens estão muito bem espalhados ao longo de todo o episódio, sempre em cenas em que as nossas personagens preferidas estão no seu melhor e onde as adoramos mais. Vão criando suspeitas atrás de suspeitas na cabeça do espectador, sem nunca dar uma pista clara que acalme essa incerteza e pondo-nos a pensar “NÃO! A Daisy não pode ser uma LMD!” (por exemplo).

Adoro que a intimidade entre Mack e Yo-Yo nos seja mostrada (este novo time-slot da série está realmente a dar frutos). Parece extremamente natural porque foi lentamente semeada em segundo plano durante tantos episódios. E claro que é imediatamente posta em causa quando Mack começa a comportar-se de maneira estranha e suspeita. Será que é porque tem outra mulher, outros planos, ou será por ser um LMD?

Na cena de tribunal em que a Daisy está a ser formalmente questionada antes de assinar os Acordos de Sokovia, tem toda uma conversa com o Director Mace acerca de fingir ser quem não é durante muito tempo, e ela própria diz “Sometimes, with me… Sometimes I think it’s an act”. Será que é um act porque ela tem de tentar ser uma heroína que seja um exemplo às pessoas, ou porque é uma LMD?

Vemos que Fitz ainda está perturbado com todo o problema da AIDA e do Radcliffe, está obcecado em perceber o que se passou, e que isso está a por pressão na sua relação com Jemma (eu só quero que eles estejam bem um com o outro, depois de três temporadas de hesitação). Ela diz que compreende que é difícil para ele e que não quer intrometer-se enquanto ele processa o que aconteceu, e ele reforça essa ideia dizendo “I go all quiet when I’m… processing”. Quem é que processa coisas como um computador? LMDs!!! Raios, escritores de Agents of S.H.I.E.L.D., parem de brincar com as minhas emoções!

Há também toda uma discussão política acerca da validade da S.H.I.E.L.D. e das suas acções como agência secreta que usa meios questionáveis para fazer coisas que supostamente são boas para toda a gente. É abordada a questão de o que é que aconteceria se outras organizações tomassem controlo de armas tão poderosas como os Inumanos, que são vistos apenas como assets. É abordada a questão de se a S.H.I.E.L.D. é sequer legal em primeiro lugar e se as suas acções são na realidade actos criminosos fora do abrigo da lei.
As cenas entre Coulson, Talbot e Mace, e as cenas em tribunal quando Daisy está a ser interrogada pela Senadora Nadeer acerca das suas operações secretas, a linguagem usada, a composição das cenas, até as roupas e a luz são tudo tropes que também estão presentes em Segurança Nacional por exemplo.

Para mim é fascinante perceber que Agents of S.H.I.E.L.D. consegue pegar nos temas de segurança, secretismo, vigilância, operações clandestinas questionáveis para um bem maior, indivíduos poderosos com motivações pessoais e potencialmente emocionalmente instáveis, e aplicar estes temas a uma história de alienígenas, cientistas loucos, andróides humanóides e livros mágicos.

Ao mesmo tempo a Senadora Nadeer consegue apanhar Coulson e Yo-Yo a infiltrarem-se no seu escritório, o que serve de arma para pôr em causa toda a legitimidade da S.H.I.E.L.D., mas que revela também que há uma fuga de informação e significa que há uma pessoa infiltrada na S.H.I.E.L.D. (algo que está sempre a acontecer em Segurança Nacional, agora que falamos nisso). Nós, espectadores, imediatamente pensamos que poderá ser um LMD!

A confrontação da MayDA com Radcliffe foi muito poderosa. Esta cena lembrou-me claramente a confrontação entre Roy Batty (replicant) e o seu criador Tyrell em Blade Runner – Perigo Iminente (1982), só que com menos olhos a serem rebentados por polegares. Porque ela agora sabe que é uma andróide, sabe que tem programação e não consegue evitar segui-la. Ela foi programada para não QUERER dizer a ninguém que é artificial, e isso torna a sua personagem verdadeiramente trágica. A MayDA continua a sentir que é a May verdadeira, continua a ter um fortíssimo sentido de identidade, apesar de saber que há partes da sua mente que são artificiais.

Mas o que é que eu estou a dizer? Todas as partes da sua mente são artificiais! Será que a atracção que ela sente por Coulson também foi programada? Será que era pré-existente e foi explorada por Radcliffe? Será que o amor que sente é verdadeiro ou artificial? Se ela o sente genuinamente, apesar de ter sido programado, isso faz dele menos verdadeiro? Raios para vocês, escritores de Agents of S.H.I.E.L.D., por me meterem questões filosóficas complexas sobre o que é que nos define enquanto seres humanos enquanto eu estou a tentar divertir-me com agentes secretos, alienígenas, andróides e magia negra!

Enquanto isso a verdadeira May continua presa na Matrix de Radcliffe. As várias versões do seu mundo e a maneira como nos são mostradas é brilhante. Eu fui genuinamente enganado durante os primeiros momentos da sequência de fuga da May. Comecei a suspeitar quando ela nunca mais acabava de subir lances de escada e depois chega a uma penthouse. Nesse momento eu já estava à espera de uma luta entre ela e a AIDA que envolvesse levitações e bullet-time, mas essa cena de pancadaria foi muito satisfatória à mesma. E depois quando o loop recomeça com AIDA a dizer “Oh dear… Not again” e não sabemos se isso se refere ao copo que se parte ou ao facto de que a simulação está a recomeçar.

A resolução do sub-enredo do Mack e da Yo-Yo também é particularmente doloroso, e fez-me perceber que nunca tinha realmente prestado atenção à interpretação de Henry Simmons. Aprendermos acerca da morte da sua filha e da ligação que mantém à sua ex-mulher foi não só inesperado, mas também deu-nos um momento surpreendentemente pesado e emocionalmente intenso, que não é assim tão frequente nesta série.

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A grande resolução é definitivamente quando descobrimos que Radcliffe afinal é um LMD!!! Adoro a frieza do Fitz quando finalmente percebe que foi traído e enganado pela figura paterna do Radcliffe, e lhe dá um tiro na cabeça. Afinal, na realidade, Radcliffe esteve sempre a trabalhar com a Senadora Nadeer. Mas isto levanta uma questão importante. Será que o LMD do Radcliffe é de facto o LMD que foi mencionado no início da temporada?

Ainda não sabemos quem é que deu a informação à Senadora Nadeer acerca da infiltração no seu escritório. Não pode ter sido o LMD do Radcliffe porque este nem sequer tem acesso à base da S.H.I.E.L.D., quanto mais às conversas onde isso foi planeado. Poderia ter sido a MayDA? Ela estava presente quando isso foi planeado, mas nunca a vimos a dar informação a ninguém? Será que foi remotamente? Sem sequer se aperceber disso? Ou será que há outro LMD de que não sabemos?

Como disse ao início, este episódio consegue fazer imensas coisas ao mesmo tempo, todas extremamente bem feitas. Desta vez fico particularmente impressionado pela maneira como o tom de suspeita e paranóia constante, que é o objectivo deste tipo de tropes e narrativa de substitutos andróides indistinguíveis de humanos, foi perfeitamente executado.

No fim, porque a May está sempre a ganhar à simulação, Radcliffe arranja uma solução ainda mais perversa, que é pôr a AIDA no confronto que teve há muitos ano no Bahrain, mas desta vez fazendo com que ela seja de facto capaz de salvar a criança Inumana. É maquiavélico e terrivelmente cruel. Neste momento é muito difícil imaginar como é que vai sair a cabeça da May depois disso, mas no mínimo não vai estar contente.

https://youtu.be/kcBYMOPadGU

Achas que há mais um LMD infiltrado? Quem?