“Chosen”
Os 10 episódios da primeira temporada de As Crónicas de Shannara são baseados no segundo dos 20 volumes da saga de Terry Brooks, intitulado The Elfstones of Shannara. Sei que foi escolhido em deterimento do primeiro por ter um enredo mais atrativo e várias personagens femininas fortes. Li também que o autor, Terry Brooks, “aprovou” a série, e manteve-se muito próximo do processo da escrita do argumento. Ao que parece, a série vai manter-se fiel aos livros, com algumas adaptações, incluindo personagens novas. Mas como não li os livros, nem ouvi falar deles até a série aparecer, isto é tudo o que sei, e por isso as discussões dos episódios não vão fazer comparações nem paralelismos com a história dos livros. Esqueçam, por isso, enquanto estão por aqui, que eles existem, a não ser que queiram dar achegas nos comentários. Disclaimer tratado, vamos avançar.
A série estreou com um episódio duplo que serviu para nos apresentar as personagens principais e o tema da história. Apenas como guia, como personagens temos a Princesa Elfa muito badass e neta órfã do rei, Amberle (Poppy Drayton); Will Ohmsford (Austin Butler), que é metade-elfo metade-humano; o rei Elfo Eventine (John Rhys Davies); o filho mais novo do rei e tio favorito de Amberle, Ander (Aaron Jakubenki); Arion, o irmão mais velho de Ander e príncipe herdeiro dos Elfos (Daniel MacPherson); a rover humana Eretria (Ivana Barquero); o druida Allanon (Manu Bennett); a comandante do exército elfo, Tilton (Emilia Burns) e Cephalo, o “pai”/chefe do clã rover de que Eretria faz parte (James Remar).
Começamos por assistir a uma corrida hardcore, em que os participantes têm de atravessar uma floresta de olhos vendados e mãos atadas nas costas, e chegar a uma árvore enorme que dá pelo nome de Ellcrys. Pelo meio podem matar-se uns aos outros, se for preciso. Eu disse que era hardcore…
Assim de repente e sem ter muito a ver, a Ellcrys fez-me lembrar, claro, a Gildergreen do Skyrim. A Ellcrys é uma árvore sapiente com tronco prateado e folhas vermelho carmim, criada pela “ligação da terra com a vida“. Segundo a “lenda” (entre aspas porque cedo as personagens perceberam que não era bem só uma lenda), a árvore é o eixo mágico da barreira que mantém presos num mundo alternativo os demónios que no passado destruíram o mundo na Guerra das Raças. Sim, estamos num mundo pós-apocalíptico onde no meio de paisagens surpreendentes da Nova Zelândia, volta e meia surgem destroços de “coisas” do nosso tempo.
Na corrida participam, entre outros, a Princesa Elfa Amberle, vestida à paisana e na competição à revelia da família e dos amigos (nunca antes tinham participado príncipes), e um seu amigo especial/namorado (cujo nome não me lembro mas não vos vai interessar muito saber). Apenas os primeiros 7 participantes a chegar à árvore ganham o “prémio” de serem os “escolhidos” (Chosen), que são as pessoas que têm a honra de ter o trabalho de guardar a Ellcrys. Claro que a princesa foi uma das vencedoras. De referir que ela adora o tio Ander, que foi quem a treinou em segredo para a corrida.
Sabendo quem terá a tarefa de guardar a árvore, conhecemos o rei e os dois filhos, e Will, um rapaz meio-humano, meio-elfo, que acabou de perder a mãe, e receber um saquinho com umas misteriosas pedras azuis (as Elf Stones).
O rapaz que dá ares de cabeça-no-ar não dura muito tempo sozinho sem lhe fazerem a folha. É apanhado pela rover Eretria, que até é gira mas nem devia precisar, para o levar para casa dela e dar-lhe um vinho que o faz adormecer até ao dia seguinte. Ao que parece os rovers são um género de ladrões nómadas, fazem parte de um clã, e ela é filha do líder do clã, mas tem problemas com o pai.
No dia seguinte, Will acorda salvo por um druida bonitão, o Allanon, que acordou de um sono-druida de 30 anos, que mais pareceu um descongelamento doloroso.
Allanon conta-lhe que ele afinal é extremamente poderoso, porque é o último de uma linhagem de elfos mágicos, a Shannara, protetores do reino. As Elf Stones estão relacionadas com esse destino, mas entretanto foram roubadas pela Eretria.
Vamos fazer de conta que entretanto uma espécie de baile tipo Prom não aconteceu ali a meio do episódio, em que um demónio com aparência de Amberle mata o tal que parecia ser namorado dela. Por acaso também morreram todos os outros Escolhidos, sobrando só Amberle que entretanto tinha fugido para longe da árvore, porque esta lhe provocava visões desconfortáveis, em que ela via o futuro muito sombrio. É também nesta sequência de eventos que o rei, os príncipes e todos os outros se apercebem que a árvore e a magia não eram uma lendas decorativas, mas que esta estava viva e a ficar doente, ou seja, tinha mesmo umas fendas nos ramos que pareciam feridas a sangrar, e as folhas começavam a cair.
Dagda Mor é o rei dos demónios que estão no tal mundo alternativo (e fisicamente podemos dizer que é uma mistura do Voldemort com Imperador Palpatine e um monte de piercings), e à medida que as folhas da Ellcrys caem, ele vai ganhando força, que só vai ter totalmente quando finalmente a árvore morrer. Como a Amberle é a última dos Escolhidos, só ela será capaz de curar a árvore, e por isso o Allanon e o Will partem à sua procura, mas quando finalmente a encontram, são surpreendidos por um monstro criado pelo Dagda Mor, que faz lembrar uma gárgula grotesca e nojenta. E este primeiro episódio duplo acaba aí. Será que o Allanon sobreviveu à pancada que o monstro lhe deu? Não se percebe se ele caiu do precipício. Será que Will com um punhalzinho aparentemente inofensivo vai conseguir sequer arranhar o monstro? Talvez consiga invocar meio sem querer, pela primeira vez, os seus supostos poderes mágicos?
A série cumpre a sua função de entretenimento. Tem aventura, personagens interessantes, cenários deslumbrantes, momentos de tensão e momentos divertidos.
Em termos de cenários, temos desde belas paisagens fantásticas como o palácio, o santuário com a Ellcrys, e a exuberante vila verdejante de onde Will é originário, e por contraste a terra desolada de Dagda Mor nas visões de Amberle. A ligação do mundo pós-apocalíptico e supostamente mais futurista, com tralhas rudimentares como barris, carrinhos de mão e barraquinhas de madeira é um pouco difícil de perceber e talvez fosse desnecessária.
Nas personagens temos pelo menos 2 raparigas muito badass (pelo menos, porque ainda anda lá a comandante do exército, que nestes episódios ainda não interviu muito). Um rapaz estilo Hanson aparentemente não muito inteligente, mas que pode dar para alguns momentos divertidos. Pela Internet corre ainda muito histerismo pelo druida. Acho que a história está feita para o Will ser o protagonista, mas a Amberle rouba-lhe um bocado o protagonismo por ser tão forte.
Há roupas giras estilo A Guerra dos Tronos versão O Senhor dos Anéis. Jóias nas pontas das orelhas das elfas num género de filigrana em prata.
Estou ansiosa pelos próximos episódios, porque como as personagens parece que estão todas em processo de crescimento e aprendizagem, os espetadores também estão, e por isso há muito por descobrir ainda. A Amberle ainda não sonha o que lhe espera, o Will nem sequer percebeu ainda bem quem era verdadeiramente o seu pai e o que isso tem a ver com ele, continuamos a ver os demónios a aumentar mas os elfos cá “em cima” também não sonham o que se passa no mundo alternativo, ainda não sabemos quais os poderes das Elf Stones, e onde é que a Eretria se encaixa na missão de salvar a Ellcrys. Além de tudo isto, tenho a certeza que ela, a Amberle e o Will vão formar um triângulo amoroso, os dois príncipes vão andar a lutar pela atenção do pai, e muito mais!
Acho que é a primeira série de fantasia que vejo, e há muito que não via uma série de adolescentes americanos, mas este início pareceu-me muito bem para variar. Ainda não percebi a que propósito a MTV se meteu neste tipo de coisa, mas até agora merece os parabéns.
