Knightfall – Templários é uma série criada por Don Handfield e Richard Rayner para o canal História – uma nova série histórica com foco num grupo de guerreiros e nas suas relações interpessoais, no seguimento do sucesso continuado de Vikings. Estamos na era de A Guerra dos Tronos, e Knightfall – Templários é mais uma série dentro deste vasto género que estamos todos a consumir com enorme entusiasmo. Dentro de tudo, esta primeira temporada de dez episódios cumpre o seu propósito, sem ser entretanto o génio retumbante ou a inesperada obra original que poderia ter sido. É uma série interessante, cujo contexto histórico promete ainda imensas emoções fortes, mas cujos primeiros dez episódios não se pareceram focar tanto em factos históricos como nas vidas emocionais retorcidas de personagens fictícias e num enredo de ritmo acelerado e entusiasta.
Esta é uma série sobre os Templários – só que não. Os Cavaleiros Templários são a ordem militar católica estabelecida no ano 1119 cujo principal objectivo seria proteger os peregrinos a caminho de Jerusalém, a Terra Santa. Existe quem acredite que este propósito era uma fachada, para esconder o facto de que os Templários possuíam um objecto sagrado de poder incalculável: o Graal, ou seja, a taça da qual Cristo teria bebido na Última Ceia, objecto com o poder de unificar todos os cristãos, para além de alguns poderes místicos não confirmados…
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Knightfall – Templários segue esta premissa, e as suas primeiras cenas dedicam-se à terrível perda da Terra Santa e do Graal pelos Templários quando foram expulsos violentamente por infiéis sarracenos. Landry du Lauzon, a nossa personagem principal, dedica-se inteiramente à procura da relíquia perdida, arriscando muito mais do que apenas a sua vida. Então, porque digo que a série não é sobre os Templários?
Porque o foco não é realmente histórico, mas sim interpessoal. Seguimos as vidas privadas dos Templários, desde o iniciado ao Mestre, e ficamos a saber sobre as suas tentações e os seus afectos, enquanto vivem na Paris do início do século XIV. Para além desta característica afectiva, a série tem também uma forte componente de intriga política. Muito do nosso tempo é passado dentro da Corte Francesa do Rei Philip IV, onde participamos de decisões cruciais relativas a conflitos armados e alianças políticas através do casamento; estas decisões são influenciadas a uma escala impressionante por maquinações guiadas por interesses pessoais. Em Knightfall – Templários, vemos muitas espadas ensaguentadas, enormes batalhas bem coreografadas, traição e morte, e até uma ou outra explosão.
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É também uma série com a sua dose de aparato e de ostentação. Os fatos utilizados pelos Templários são realistas (e pesavam mais de vinte quilos!), e os vestidos da Casa Real são tão maravilhosos como seria de esperar – o trabalho é de Diana Cilliers. Algo que podemos constatar em relação aos cenários é que estes foram maioritariamente de interior. Os cenários são agradáveis e criados de modo adequado, sem retirar atenção demasiadamente da acção. Alguns ferimentos horrorosos e muito bem elaborados sob a autoria do maquilhador Daniel Parker também merecem menção. No geral, é uma série agradável de se ver a todos os momentos.
Em relação à qualidade dos actores, o meu destaque principal tem que ir para a Olivia Ross, que é espectacular no papel da Rainha Joan. É uma actriz muito expressiva e que tem uma luz interior impressionante. A personagem em si é uma heroína clássica com um toque de coragem e um temperamento sanguinário que poderiam ser considerados tipicamente masculinos. No final, Joan é a verdadeira heroína de Knightfall – Templários. Landry, interpretado por Tom Cullen, também está muito bem dentro daquilo que a personagem é, mas o nosso Mestre Templário não deixa muito espaço para manobra. É um típico herói bonzinho, muito sofredor e correcto, e não há muitas nuances que pudessem ter deixado o actor brilhar.
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Os dois melhores Templários, na minha opinião, foram o Parsifal, interpretado lindamente pelo Bobby Schofield (toda a gente quer adoptar o Parsifal depois de uns poucos episódios), e o Tancrede, interpretado por Simon Merrells. Jim Carter ganha o prémio de Papa mais assustador de todos os tempos (ou talvez o segundo lugar, recordando o Papa Benedito…). A personagem de De Nogaret, do actor Julian Ovenden, foi um pouco simplista e transparente demais, ao ponto de se tornar uma caricatura de si mesma; o mesmo posso dizer do Rei Philip – Ed Stoppard – que acabou por fazer um papel forçado e pouco natural numa personagem que poderia ter sido brilhante. A pior interpretação para mim foi a de Sabrina Bartlett no papel da Princesa Isabella – era necessário uma actriz com mais experiência e mais subtileza para este papel tão crucial.
Dentro de tudo, esta é uma série que posso recomendar a qualquer pessoa que goste do género: batalhas e maquinação política num cenário europeu medieval. Foi dito no início da série que esta seria como um filho de A Guerra dos Tronos e Vikings; passo a corrigir: Knightfall – Templários é o filho de Vikings e The Crown. Teve muito boa qualidade consistentemente, e a intriga é muito bem pensada e complexa ao ponto de continuar a surpreender até ao último momento. Assumindo a segunda temporada a que a série parece estar a apontar, posso dizer que estou entusiasmada pela hipótese de continuar a seguir esta história.