Até que enfim! A 1ª temporada de Os Defensores estreou. Os quatro heróis da Marvel que vivem dentro da Netflix encontraram-se e não podia ter sido uma melhor reunião. A história que começou a ser contada em 2015, na 1ª temporada de Demolidor, teve o seu clímax sangrento e explosivo nesta 1º temporada de Os Defensores, que deu grandes lições em como atar de forma perfeita um universo partilhado.
Primeiro de tudo tenho a dizer que não vi a 1ª temporada de Punho de Ferro. Não há desculpas, eu sei, mas fiz o meu trabalho de casa e spoilei-me à força toda. Quer isto dizer que não é preciso ter visto as séries a solo dos heróis para se perceber o que se está a passar em Os Defensores. Mas é preciso ter algumas luzes para se entender certas ligações ou reacções.
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A história é bastante directa e simples. Danny Rand e Colleen Wing perseguem a organização Mão ao redor do mundo e voltam a Nova Iorque. Jessica Jones aceita um caso de um arquitecto que está desaparecido e que tem ligações à Mão. Luke Cage sai da prisão e começa a investigar um grupo criminoso que recruta jovens para fazer o trabalho sujo. Exacto, é a Mão. E Matt Murdock… bem, Matt Murdock torna-se o advogado de Jessica Jones. E é isso.
O grande trunfo desta 1ª temporada foi o argumento coeso e a forma como atou de forma irrepreensível todas as linhas narrativas. E aqui temos um argumento com duas camadas. Na camada de cima o argumento lida muito bem com os quatro pólos diferentes. Cada personagem tem o seu percurso e vão-se esbarrando umas nas outras de forma bastante orgânica. Em nenhum momento se torce o nariz (excepção para o Demolidor, mas já lá vamos) à forma como os quatro heróis se juntam.
O argumento faz um excelente trabalho a introduzir as personagens na história, sendo uma continuação das suas próprias séries, mas algo que pode ser visto como independente sem interferir ou estragar o prazer de ver Os Defensores. E cada personagem tem o seu tempo para respirar, para fazer o seu percurso, antes de começarem as explosões e a porrada. No entanto temos um elo fraco sob a forma do Demolidor. A verdade é que Matt Murdock cai no meio da acção de pára quedas. Não posso dizer que não faz sentido, mas a sua introdução não teve o mesmo cuidado e atenção que as outras três personagens.
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Na camada de baixo o argumento tem de lidar com as linhas narrativas das séries a solo dos heróis e mais uma vez, fá-lo de forma irrepreensível. Chega até a ser incrível como os mais pequenos pormenores ligam de forma perfeita. E aqui as séries de Jessica Jones e Luke Cage são postas de lado, para mergulharmos de cabeça na mitologia das séries de Demolidor e Punho de Ferro. E é algo compreensível pois os grandes vilões são a Mão e Elektra, dois elementos que pertencem a esses dois heróis. E é por isso que o Punho de Ferro enceta claramente o papel de protagonista, seguido de perto pelo Demolidor. Já Jessica Jones e Luke Cage fazem o papel de personagens satélite, mas sem nunca serem descuradas.
E é com Punho de Ferro e Demolidor que Os Defensores brilhou! Temos dois heróis, com dois mundos diferentes, que nunca se encontraram antes, mas que se fundem perfeitamente. Na verdade são dois mundos que pertencem à mesma mitologia e é bastante reconfortante ver os pontos a ligarem-se e o grande esquema das coisas a ser revelado. Todos os acontecimentos das séries a solo e as respectivas personagens secundárias vão chocando mas é tudo feito sob perfeito controlo. É como se duas pessoas, uma em cada ponta do mundo, pegassem num fio de uma grande teia de aranha e fossem caminhando até se encontrarem no seu centro.
Mas Luke Cage e Jessica Jones não são esquecidos. Grande parte da acção passa-se na antiga discoteca de Cottonmouth, que agora está abandonada, e muitas revelações acontecem por causa da investigação de Jessica Jones. Não só isso como as personagens secundárias também têm o seu tempo de antena e tal como os heróis, também elas vão colidindo umas com as outras, dando-nos momentos bem coesos. E todas as personagens secundárias brilham e têm o seu momento e são elas que lançam as bases que fundamentam o universo da Marvel na Netflix.
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Claro que sendo uma série da Marvel na Netflix, os vilões são personagens bem complexas e com densidade. Sigourney Weaver faz um excelente papel e com nuances muito bem metidas. O passado da sua personagem nunca é revelado na sua totalidade mas é fácil ir juntando as peças. Alexandra serve o seu propósito, e muito bem, mas fiquei com vontade de ver mais dela. Mas isso porque é uma excelente personagem e não por ter sido mal desenvolvida. Madame Gao (uma preferida dos fãs) e Bakuto regressam com papéis de destaque. E Sowande e Murakami trazem bons momentos, mas as suas personagens não são muito relevantes.
A organização Mão revela-se em todo o seu esplendor e não é tão imponente como fazia crer. Aliás, a organização é imponente, mas não é retratada da melhor forma. Depois das hordas de ninjas que o Demolidor e Elektra tiveram que combater na 2ª temporada de Demolidor, esperava mais da Mão em Os Defensores. Ao invés disso, todo o foco está nos cinco dedos da Mão. Alexandra, Madame Gao, Bakuto, Sowande, e Murakami. E não penses que não são personagens de respeito, muito pelo contrário. São vilões bem poderosos! Gostava é que tivessem rodeados de mais capangas.
E chegamos à Elektra. O seu percurso é sólido e faz todo o sentido. Black Sky era um nome sussurrado nas sombras e fazia antever que era algo catastrófico. Uma arma insuperável. Bem, percebe-se todo o seu significado mas ficou aquém do prometido. No entanto a Elektra em Os Defensores é muito mais do que a Black Sky. O seu arco é bastante condizente com a sua personagem e o ponto final da sua jornada em Os Defensores é bastante reconfortante. Já Stick é ele próprio. Esguio, nunca confiável e sempre com segundas intenções. Mas serve para ligar certos pontos e para fazer a história avançar.
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A interacção entre os vários heróis está muito bem feita, respeitando as suas próprias personalidades e ideologias, mas também fazendo referência às BDs. E aqui o destaque vai para Punho de Ferro e Luke Cage. O embate entre os dois pôs-me um sorriso nos lábios porque remeteu bastante às BDs. Os dois desenvolvem uma relação de amor / ódio muito divertida de se ver. Punho de Ferro é o puto e o imprudente. Jessica Jones é a bêbeda de serviço mas a mais sã no meio daquele grupo de testosterona. Demolidor é o tipo traumatizado e kamikaze que todos os grupos têm de ter. E Luke Cage é o brutamontes com coração mole e por isso o mais ingénuo.
Este grupo de deslocados da sociedade têm de arranjar forma de trabalhar juntos para salvar Nova Iorque. Todo esse processo é muito satisfatório de se ver, se bem que a temporada tem problemas de ritmo. O começo é forte, começando de forma lenta (tal como as séries da Marvel na Netflix já nos habituaram) e construindo em crescendo. E é aqui que as coisas começam a tremer. A meio da temporada dá-se um grande momento de acção e depois o ritmo cai a pique. Isso enfraquece o ritmo mas como o argumento é excepcional o interesse pela história nunca esmorece.
A acção é condizente com o aspecto urbano e cru característico destes heróis. Por isso mesmo não esperes cenas mirabolantes e com poderes a voar a torto e a direito. Mas podes ficar descansado pois é a série que mais abraça o seu lado descomprometido e há momentos de luta bem épicos e bem característicos de super-heróis. Mas se és fã do tom das séries da Marvel na Netflix, vais adorar os momentos de acção, pois as lutas estão bem coreografadas e bem filmadas, e sem medo de abraçar o lado gore. São empolgantes e funcionam muito bem a envolver os quatro heróis.
O grande final é muito satisfatório por razões que não irei revelar nesta crítica mas posso dizer que acontecem coisas que vão mudar completamente este mundo da Marvel na Netflix. E digo o mesmo para certas personagens secundárias que começam a evidenciar a sua persona das BDs, o que faz antecipar novos derivados no horizonte. Seguramente vamos assistir a uma nova Fase deste universo e o futuro promete ser bastante épico!
Os Defensores é um excelente culminar de um universo que começou a ser construído há dois anos e que se estendeu por cinco temporadas. A junção de todas as peças é irrepreensível, o argumento é bastante coeso, com uma história empolgante e que sabe trabalhar várias personagens. Os Defensores é uma série obrigatória para qualquer fã de super-heróis e é uma óptima lição de como atar um universo partilhado e lançar sementes para o futuro.