Neste artigo irei dar algumas informações e expor algumas curiosidades em relação a este grupo de guerrilheiros cuja organização tem tido uma participação algo confusa na série – o que se pode dever ao facto de ser uma organização muito pouco organizada. Entretanto, deixo já um enorme SPOILER ALERT: neste artigo, falarei maioritariamente dos LIVROS, e haverá portanto imensas informações que não apareceram na série, e um enorme plot twist que poderá ainda vir a aparecer.
Ficas avisado!
As origens da Irmandade Sem Bandeiras são bastante claras. Tudo começou na primeira temporada da série, quando Ned Stark, que era no momento Mão do Rei Robert Baratheon (este tinha-se ausentado por razões dos foros venatório e etílico, isto é, caça e bebida), se deu à liberdade de enviar Beric Dondarrion numa missão. Vários aldeões de terras devastadas tinham vindo fazer queixa e pedir o auxílio da Coroa, tendo-se determinado que o autor dos crimes seria o Montanha, Gregor Clegane, que era vassalo de Tywin Lannister. Beric foi enviado para trazer Gregor à justiça, juntamente com vários outros cavaleiros e guerreiros, incluindo Thoros de Myr. Isto acabou por não ser uma boa ideia: a força foi dizimada pelo poder esmagador de Gregor, que, como sabemos, tem um talento para esmagar tanto exércitos como cabeças. Na sequência desta derrota, Beric e Thoros, juntamente com os poucos sobreviventes, ficaram à deriva – Ned tinha sido executado pelo novo Rei, Joffrey, e Robert tinha morrido. A quem responderiam agora? Ficaram, assim, “sem bandeira”, sem nenhum Senhor a quem dar a sua lealdade, e o seu ódio pelas forças destruidoras de Clegane e de outros como ele permaneciam. Criaram então a Irmandade Sem Bandeiras, através da qual procuram apenas levar a justiça a todos – não a justiça do Rei, mas a do Deus R’hllor.
Mas antes de começarmos a falar de deuses e ressurreições e zombies (sim, zombies), façamos uma pausa. Quem são estas duas personagens de quem tanto temos falado?
Beric é o Senhor de Blackhaven (parte das Terras da Tormenta no sudoeste, perto de Dorne) e chefe da Casa Dondarrion. O símbolo desta Casa é um relâmpago violeta num fundo negro com estrelas brancas. No início, é descrito como um jovem lindo e galante de cabelos loiros arruivados e sorriso arrasador. Depois de anos e anos de guerra e morte, Beric já não é a mesma pessoa, e as suas mudanças tanto físicas como psicológicas são notáveis. Encontrava-se ainda em Porto Real no seguimento do torneio que houve para celebrar a nomeação de Eddard Stark como Mão do Rei quando foi enviado pelo mesmo na missão da qual jamais voltaria.
Thoros de Myr, de quem falamos no artigo sobre a fé de R’hllor, é um sacerdote desta religião. Oriundo de Myr, uma das Cidades Livres de Essos, nasceu como o oitavo filho de pais pobres que, não tendo os meios para o sustentar, o deram ao templo local do Deus da Luz, uma prática comum nesta parte do mundo. A fé de Thoros nunca foi grande, e era conhecido pela sua devassidão. Foi enviado para Westeros com a incumbência de converter o Rei Robert; em vez de fazer isto, tornou-se num dos melhores amigos de pândega do jovem Rei Baratheon, e a religiosidade ficou esquecida. Thoros era também conhecido pela sua ferocidade em batalha: lutou por Robert durante a Rebelião Greyjoy, empunhando uma espada em chamas, e é famoso por ter sido o primeiro a penetrar as muralhas no Cerco de Pyke. (Esta espada flamejante, para aqueles que leram o artigo sobre Azor Ahai, é apenas um truque feito com espadas normais e combustível – não se entusiasmem.) Foi enviado com Beric apenas como mais uma espada, mas acabou por redescobrir a sua fé. Após a morte de Beric, Thoros (que vemos na imagem em baixo) disse as únicas palavras que conhecia que seriam capazes de lhe trazer paz, uma antiga prece ao Deus da Luz pedindo que lhe trouxesse de volta o seu amigo. Apanhou o susto da sua vida quando isto funcionou. Esta magia continuou a funcionar em mortes subsequentes de Lord Beric, que parece não saber continuar vivo!, e Thoros “evangelizou” todos os membros da Irmandade a partir de então.
Esta Irmandade começou a ganhar fama pelas suas convicções morais fora do normal e por administrar justiça aos rufias dos Lannister. Foram atraindo para as suas fileiras tanto aldeões descontentes como fugitivos de outros exércitos, e tornaram-se rapidamente numa força a temer. Alguns dos seus membros mais notáveis eram Anguy o Arqueiro (de Dorne), o Barba Verde (um guerreiro de Tyrosh), Alyn (de Winterfell, um guerreiro de Eddard, que reconhece Arya quando esta é capturada pela Irmandade), Tom dos Seterios (o músico, que actualmente serve em Correrrio com o Senhor Emmon Frey, possivelmente como espião), e outros como Jack-Be-Lucky e Lem do Manto de Limão cujas origens são desconhecidas. A Irmandade lutava as suas guerrilhas e flagelava os exércitos Lannister e Frey, sendo um incómodo constante. No seguimento do Casamento Vermelho, este grupo é um dos poucos que ainda resistem ao poderio dos Lannister.
É então que se dá uma mudança fulcral, e aqui entra o plot twist de que falei na introdução. Catelyn Stark, após ter sido morta nas Gémeas, é atirada ao rio. O seu corpo começa a decompor-se. As suas feições tornam-se irreconhecíveis. E depois, é encontrada pela Irmandade. Para aqueles de vós que ainda não sabem o que aconteceu depois, é aqui que entra também a parte dos zombies.
Através da magia de R’hllor, o corpo sem vida de Cately Stark é ressuscitado. Mas, como com todas as ressurreições através do Deus da Luz, temos que nos perguntar: a que custo? Esta nova personagem já não é Catelyn. É Lady Stoneheart, Coração de Pedra, e passa a ser a líder da Irmandade Sem Bandeiras, pois a sua ressurreição foi a morte definitiva de Beric Dondarrion. Esta informação é revelada no final do quinto livro a Brienne de Tarth por Thoros de Myr: segundo este, Lord Beric ofereceu a sua vida quando o corpo de Catelyn foi encontrado para que esta pudesse viver. Como sabemos, através das suas muitas ressurreições, Beric foi deixando para trás pedaços de si mesmo, sendo apenas vagamente a pessoa que fora. Quanta vida teria ele para dar a Cat? Não é então de espantar que Lady Stoneheart seja apenas vagamente humana.
Consumida pelo desejo de vingança por si mesma e pela sua família, que considera perdida, Lady Stoneheart lidera a Irmandade de uma maneira muito diferente. Eles perseguem e assassinam todos aqueles que a sua nova Senhora considera traidores (quer haja provas disto, ou não – idos são os dias em que o Deus R’hllor fazia os juízos de carácter neste bando). Eles enforcaram, por exemplo, Merrett e Petyr Frey, pelo crime de pertencerem à Casa Frey, tendo-lhes prometido as suas vidas em troca de ouro (ouro com o qual ficaram na mesma). Para além de ter perdido a capacidade da fala (devido ao inconveniente problema de ter a garganta aberta de orelha a orelha), Catelyn parece também ter perdido toda a compaixão.
Em conclusão, podemos observar que a Irmandade Sem Bandeiras perdeu, no final, a única bandeira que verdadeiramente seguia: a do Deus R’hllor. Apesar de poderem ainda afirmar segui-lo, deixaram de seguir os seus preceitos, estando agora subordinados às vontades de um ser que já não tem sentimentos humanos. São, porém, uma força considerável e destrutiva, que poderá continuar a influenciar o decorrer da História de Westeros com tanta brutalidade como tem feito até agora.