Um dos elementos que contribui para a atmosfera geral de fantasia d’A Guerra dos Tronos é o das profecias. Quer sejam explicitamente anunciadas como tal ou não, há muitas profecias neste mundo curioso, muitas pistas que nos indicam o que poderá vir a acontecer no futuro às nossas personagens favoritas – ou menos favoritas. Apesar de muitos de nós não sermos grandes fãs de Cersei Lannister, não podemos negar que ela é uma personagem extremamente complexa, ao mesmo tempo ardilosa e ingénua, forte e vulnerável. Sem Cersei, os Sete Reinos funcionariam muito melhor, mas a série perderia algum do seu brilho. Uma das maiores motivações por trás de todas as acções de Cersei, algo que explica em parte toda a sua vida até agora, é a profecia que esta recebeu quando era ainda uma menina no Rochedo Casterly por parte de Maggy the Frog.
Maggy era uma habitante de Lanisporto que todos preferiam evitar. Tinha sido trazida para o Oeste de Westeros pelo seu marido, que era mercador de especiarias e a conhecera em Essos, no Leste distante. Após a morte do marido, Maggy continuou a viver em Lanisporto, recusando-se a viver com o filho, o rumorejado fundador da Casa Spicer. A sua reputação em Lanisporto era a de uma bruxa, vidente, curandeira, feiticeira. Ninguém sabia exactamente quem ela era; nem o seu nome é sabido ao certo, já que Maggy é provavelmente uma deturpação do termo Maegi (palavra que denomina feiticeiras de Essos, e que significava no seu primórdio “sabedoria”). Esta Maegi, como muitas outras, sabia ver o futuro de uma pessoa ao provar uma gota do seu sangue. A Maggy que nos é apresentada na série, interpretada por Jodhi May, é uma mulher ainda jovem e atraente, se bem que não necessariamente higiénica. A Maggie dos livros é algo completamente diferente: deformada, velha e decrepita, com olhos amarelos ramelosos e sem dentes; o seu nome, “a Rã”, vem do seu aspecto. Como é óbvio, a jovem Cersei nunca teria obtido permissão do seu pai para se aproximar de tal criatura; como é óbvio, fê-lo na mesma.
A profecia que Maggy deu a Cersei foi a seguinte: ela nunca iria casar com o príncipe, mas sim com o Rei. Iria ser Rainha, até que outra viesse, mais nova e mais bela, para a destronar e lhe tirar tudo aquilo que lhe seria mais caro. Maggy reportou também que o rei teria dezasseis filhos, e Cersei apenas três. “De ouro serão as suas coroas e de ouro as suas mortalhas”, disse ela – “e quando as tuas lágrimas te afogarem, o Valonqar rodeará com as suas mãos a tua garganta branca e extinguirá a tua vida”.
Ao princípio, Cersei lutou contra a sua intuição, não levando demasiado a sério estes avisos, até que teve provas dos poderes de Maggy. A sua amiga Melara, que tinha ido com ela ver a feiticeira, fez também uma pergunta: quis saber se casaria com Jaime. Maggy respondeu-lhe que não – não casaria com Jaime nem com ninguém, e “as minhocas ficariam com a sua virgindade”. O que acabou de facto por acontecer. Passado pouco tempo, Melara caiu num poço e teve morte instantânea, e Cersei viu com clareza que os poderes de Maggy eram reais.
O que pode então querer dizer esta profecia? Na altura em que se dirigiu a Maggy, Cersei esperava ser dada em noivado ao Príncipe Rhaegar Targaryen. O seu pai tinha prometido a Cersei que esta seria Rainha, e tinha convidado o Rei e o Príncipe às suas terras, para um banquete no qual esta hipótese seria discutida. Porém, o pedido foi recusado, e Cersei casou mais tarde com o Rei Robert Baratheon depois da sua Rebelião, que derrocou os Targaryen. Assim, casou com o Rei e não o Príncipe.
A parte seguinte da profecia dá-nos a razão pela qual Cersei sempre foi tão cruel para com mulheres mais jovens como Sansa e Margaery – temia que estas a destronassem e a destruíssem. Vem depois a convencer-se de que Margaery Tyrell, casada com o seu filho Joffrey e depois com o seu filho Tommen, será esta rival profetizada, e é por isso que decide denunciá-la à Fé, uma decisão que acaba por correr mal para toda a gente.
Em relação aos dezasseis filhos de Robert Baratheon, podemos apenas especular. Sabemos que ele teve uma miríade de bastardos, mas ainda apenas temos conhecimento de sete: Gendry (campeão de remo de Westeros), Edric Storm em Storm’s End, Mya Stone no Ninho de Águia (a sua primogénita, nascida enquanto Robert ainda estava lá com o seu tutor Jon Arryn), Barra (a bebé nascida de uma prostituta que é morta na primeira temporada), dois gémeos cujos nomes não são fornecidos (nascidos no Rochedo Casterly), e ainda possivelmente Bella, uma prostituta que Arya conhece enquanto está com a Irmandade Sem Bandeiras.
Cersei teve de facto três filhos do seu irmão Jaime: Joffrey, Myrcella e Tommen. “De ouro suas coroas” – refere-se ao facto de serem loiros, mas também de terem sido todos coroados, ou quase. Joffrey e Tommen foram reis de Westeros, e Myrcella, apesar de não ter chegado a ser coroada, foi quase Rainha (houve uma conspiração para coroá-la em Dorne, onde a lei da sucessão exige que o mais velho seja coroado independentemente de ser rapaz ou rapariga, o que teria exigido que Myrcella tivesse precedência sobre Tommen). E… De ouro as suas mortalhas? Joffrey já morreu, e Myrcella também. Seguindo a lógica da profecia, sendo esta sequencial, Tommen morreria a seguir, e Cersei seria morta pelo seu Valonqar.
Valonqar é uma palavra de Alto Valiriano antigo cujo significado é por vezes debatido. Sendo comummente traduzida como “irmão mais novo”, poderá significar “o mais novo dos irmãos”, como a palavra brasileira “caçulo”. Cersei decidiu há já muito tempo que Tyrion, sendo o seu irmão mais novo e tendo acabado com a vida da mãe pelo simples crime de ter nascido, deveria ser o seu Valonqar. Porém, muitas teorias acerca disto têm surgido entretanto. Jaime também é mais novo do que Cersei, se bem que apenas por alguns minutos, e poderia hipoteticamente ser o Valonqar. Tommen poderia também acabar por matar a sua mãe, sendo o mais novo de três (e, de facto, à luz do último episódio, Tommen pode acabar por ser indirectamente responsável pela morte da mãe). Isto não impediria que Tommen morresse prematuramente e tivesse a sua mortalha dourada, simplesmente inverteria a ordem dos acontecimentos.
Assim, algumas partes da profecia de Cersei ficaram já cumpridas, outras estão ainda por cumprir e são hipóteses em aberto. Algo que parece latente é que Cersei não vencerá o Jogo dos Tronos.