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Lembras-te de quando a Disney fazia filmes de entretenimento bem dispostos e salutares, para toda a família ver junta? Filmes como Regresso a Casa (1993), Presas Brancas (1991) ou Air Bud (1997)? Eram filmes simples, descomplicados, sem grandes dilemas morais, com temas leves, habitualmente focados nos valores da amizade ou da família. A Lenda do Dragão é uma tentativa de recuperar esse tipo de filme, que, para ser honesto, tem de facto andado desaparecido.

Repescando o seu original O Meu Amigo Dragão de 1977, a Disney conta a história de um menino que se perde na floresta e trava amizade com um dragão que lá vive. Depois, porque há uns homens maus, mas não assim tão maus porque é um filme da Disney, que querem cortar as árvores da floresta, o menino acaba por ser descoberto por uma guarda florestal que é céptica e não acredita em magia. O dragão e o menino ficam muito tristes porque são amigos e agora não estão um com o outro. Inevitavelmente, os homens maus tentam capturar o dragão, mas o menino, com a ajuda da sua nova família, salva-o. E vivem todos felizes para sempre (sim, mesmo, literalmente). Simples e descomplicado, lembras-te?

Se calhar estou a ser injusto. Há alguns momentos em A Lenda do Dragão em que a história parece estar a querer marcar um ponto acerca da discussão cepticismo versus fé, há outros momentos em que vemos vislumbres de um sub-enredo de conflito no casal de adultos, de competição entre os dois adultos que são irmãos, de reconexão entre pais e filhos, mas tudo isso é absolutamente secundário na história. Isso não é uma coisa errada ou uma falha, porque a história é contada sempre da perspectiva do menino e isto são coisas que de facto passariam um bocado ao lado de um miúdo de 10 anos.

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A narrativa é muito simples, como eu disse, mas está eficientemente contada. Criamos empatia com as personagens, há um crescendo de tensão com uma resolução, não há assim demasiada coisa a acontecer só por que sim. Todos os tropes que podíamos esperar da Disney estão presentes, até mesmo a lendária “morte Disney”, em que uma personagem cai até desaparecer no meio do nevoeiro ou nuvens e não chegamos a ver o impacto no fundo, está tão tão amenizada que chega a ser usada para proteger a audiência de ver um carro (sem ninguém lá dentro) a cair numa ravina.

Visualmente A Lenda do Dragão é atraente. As paisagens e as cenas passadas na floresta estão bem iluminadas, o CGI do dragão é razoável e a sua caracterização é boa o suficiente para eu o querer abraçar e fazer-lhe festinhas (mas honestamente quem é que não quereria abraçar um cão gigante e fofinho).

As interpretações são competentes e há pouco mais a dizer acerca disso. Não há nenhuma interpretação no filme que não pudesse ter sido feita por qualquer outro actor, e sinto que os nomes que pululam pelo filme (Bryce Dallas Howard, Karl Urban, Wes Bentley) estão lá exclusivamente pelo seu apelo de estrelas. As duas crianças estão muito bem nos seus papéis (Oakes Fegley e Oona Laurence); o Robert Redford é sempre perfeito.

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A Lenda do Dragão está mergulhado numa nostalgia bucólica. A pequena vila americana perdida na floresta, que subsiste à custa da indústria da madeira é extremamente pitoresca, quase idealizada. Há todo um tema subjacente ao filme de regresso à natureza e às raízes. Temos música folk americana à custa dos Lumineers e da lindíssima “So Long Marianne” de Leonard Cohen.

Essa nostalgia não é acidental, porque como eu disse no início, este A Lenda do Dragão tenta recapturar a essência dos filmes clássicos da Disney. E sabes que mais? Até o consegue fazer muito bem! Senti-me muito confortavelmente quentinho por dentro e a sentir-me bem comigo mesmo, com o coração cheio de ternura e afecto por crianças adoráveis, dragões felpudos gigantes abraçáveis e famílias que dão passeios na floresta. É um excelente filme de crianças para ser visto em família.

Simples e descomplicado, lembras-te?

Infelizmente, eu sou um adulto que ainda esta semana passou 1800 palavras a louvar a violência psicológica e emocional de Preacher e as suas representações extremas e depravadas de pessoas horríveis. Talvez seja porque eu me tornei num cínico e já não sou capaz de apreciar filmes com divertimento higiénico e salutar, ou talvez seja porque os filmes de família da Disney sempre tentaram tanto ser tão fofinhos e universalmente gostáveis que redundam na simplicidade desinteressante.

De uma forma ou de outra este filme, que definitivamente não é mau e tem o seu valor de entretenimento, não me aqueceu nem arrefeceu.

Está-Quase-Lá

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