O novo filme das tartarugas mutantes dá conta do regresso do super-vilão Shredder que, desta feita, se une ao cientista louco Baxter Stockman (Tyler Perry) e dois capangas idiotas, Bebop (Gary Anthony Williams) e Rocksteady (Stephen “Sheamus” Farrelly), para desencadear um plano diabólico e dominar mundo. Contra si vão ter o afamado e enérgico quarteto Miguel Ângelo, Donatello, Leonardo e Rafael que, entre energia e conflitos internos, acabam por deparar-se com uma ameaça ainda maior: o célebre Krang.
Infelizmente, o regresso traz também grande parte dos defeitos do seu antecessor.
A nível narrativo, o filme é extremamente simples e mergulhado num mar de clichés. Já uma vez tive a oportunidade de dizer que a utilização de clichés, per si, não tem mal algum. Porém, quando praticamente tudo se torna previsível… incomodam.
Na verdade, Josh Appelbaum e André Nemec criaram um argumento muito simples que poderia ser potencializado com uma direcção extraordinária, mas Dave Green não a consegue trazer à tona e, por isso, quem viu filmes como O Dia da Independência, Os Vingadores, Terra para Echo, vai achar certas cenas uma espécie de cópias pouco criativas e sem grande fulgor. Tudo isto se torna mais visível porque o filme tem quase duas horas de duração.
Mas enfim, ao menos o universo temático é diferente e há um humor contagiante, certo? Errado. Uma das coisas que mais custa nesta saga é ver a sua ambiguidade de objectivos: parece querer chegar a um público maduro, que tem na memória as histórias das quatro tartarugas dos anos 80 e 90, mas monta um quadro de comédia digno de filmes infantis. O universo Tartarugas Ninja é, classicamente, divertido, mas chegar ao ponto de meter piadas com gases… é capaz de ser demais.
O Homem-Aranha também é divertido e, no entanto, tem chegado de forma mais competente ao ecrã (goste-se ou não de outros tantos aspectos dos vários filmes do aranhiço) do que este Tartarugas Ninja Heróis Mutantes: O Romper das Sombras.
Há cenas divertidas? Claro que sim! Mas fazer do humor uma das principais cartadas de um filme de super-heróis deve ter, por trás, uma noção clara da sua exigência e do seu público-alvo, caso contrário poucos sairão do cinema com a sensação de satisfação completa. Poderia ser, assim, um filme para crianças e pré-adolescentes. Talvez… mas a potencialização da sensualidade de Megan Fox no papel de April não foi pensada para os pequenos, certamente.
Uma referência negativa também ao papel de Stephen Amell, figura máxima da série Arrow, que tem aqui um Casey Jones com uma velocidade de desenvolvimento paranormal e muito pouco durão, como seria desejável. Diga-se, aliás, que é uma pena ver tão pouco de uma das máscaras mais cool de sempre em acção.
O mauzão cerebral, Krang, também é susceptível de alguma crítica, pois afigura-se, de alguma forma, como o principal vilão do filme. No entanto, estranhamente (ou não), ficamos com a sensação, desde o início, que Shredder é bem mais diabólico que Krang. Falando no lado do mal, o papel de Tyler Perry como o genial Baxter Stockman chega a ser irritante de tão teatral.
Demos de barato alguns pormenores como a antagónica relação entre o que se diz e o que se faz (como por exemplo, os irmãos verdes dizerem que têm que ser silenciosos e discretos… mas começam o filme a descer de forma radical o Chrysler Building… só porque sim) ou a pouca estranheza evidenciada por certos humanos quando olham pela primeira vez para mutantes. Na verdade, num filme deste género, não devemos ser assim tão picuinhas e levar em consideração o realismo (mesmo a nível da física) – é tirar o prazer que o filme nos pode (ainda assim) dar.
Portanto, passemos para as coisas boas.
A nível de aproveitamento das personagens, as quatro tartarugas têm espaço para demonstrar as suas diferenças físicas e psicológicas, sem que nenhuma assuma maior importância do que as outras. Conseguimos ter tempo de nos aproximar um pouco das quatro, cada uma à sua maneira.
É certo que muitos poderão achar que para os restantes papéis o mesmo cuidado não foi tido em conta, mas creio que não passa tanto por aí, e sim pela vontade de manter o foco no principal quarteto, apesar da necessidade de contar com a ajuda de April O’Neil e Casey Jones que são, assim, assumidamente secundários.
Em termos visuais, não deixa de haver cenas que são um deleite para quem gosta de acção e quem aprecia efeitos especiais. As coreografias de combate e pontuais slow-motions também são dignos e dão um ar fresco e satisfatório ao filme.
Digamos que, talvez, Tartarugas Ninja Heróis Mutantes: O Romper das Sombras seja ligeiramente melhor que o seu antecessor mas, por algum esforço que se faça, não há muito mais que se possa apontar como grandes virtudes ou sacadas de interesse imprevisível neste filme.