Este filme tem uma nuvem de expectativa à sua volta, uma ansiedade criada pelos filmes anteriores: The Conjuring – A Evocação e Annabelle. Mas esquecendo o apelo dos filmes como um todo e a campanha de marketing que envolve esta série, o que é o filme? É capaz de se suster a si mesmo como um único filme, independente dos demais?
A verdade é que The Conjuring 2 – A Evocação pressupõe algum conhecimento por parte dos espectadores, se não dos filmes anteriores, pelo menos do culto em geral que envolve tanto os filmes de terror como os casos da vida real que os inspiraram. O filme começa com uma cena em Amityville, um dos tópicos mais famosos e populares para filmes e documentários de terror de todos os tempos. Desde que os verdadeiros eventos decorreram (quando Ronald DeFeo assassinou os seus pais e irmãos na noite de 13 de Novembro de 1974, afirmando estar sob influência demoníaca), esta tem sido uma inspiração inextinguível para os aficionados do terror, e é um facto que Ed e Lorraine Warren fizeram parte de uma mítica investigação paranormal da qual surgiu uma fotografia inexplicável: um rapazinho (que não estava lá) espreita num ângulo fora do normal por uma porta, com os olhos brilhantes. O filme explora este detalhe do conhecimento de todos os aficionados do Amityville Horror, usando o rapazinho como uma imagem do demónio, ou um enviado do mesmo. Esta cena inicial, porém, e apesar de estar talvez algo descontextualizada para aqueles que não conheciam a história, serviu para criar um contexto para os Warren. Explica o seu trabalho, os seus diferentes dons, e o sacrifício espiritual e mental que a utilização destes dons exige por parte de Lorraine Warren. Dá-nos a ver também o frenesim mediático que rodeou o casal após a sua participação nas investigações de Amityville. Desta maneira, e graças a esta introdução pouco ortodoxa, tenho a dizer que o filme se aguenta por si mesmo, e que é possível vê-lo e desfrutar dele mesmo sem ter visto qualquer dos filmes anteriores.
The Conjuring 2 – A Evocação, afinal, é um típico filme de terror, com todos os momentos típicos e detalhes icónicos de um filme de terror: a vítima inocente dominada pelo mal, os sustos repentinos sem qualquer propósito, a suposição inicial de que a assombração se trata de um mal menor ou uma partida, a descoberta final de toda a extensão da possessão, o desfecho excessivamente simplista. As cenas de crianças a andar de pijama por uma casa escura. Brinquedos que funcionam sozinhos. Não estou a tentar dizer que o filme tenha sido mau – em termos de filmes de terror, é dos melhores que tenho visto nos últimos tempos. Simplesmente segue várias tradições dos filmes de terror que já se tornaram numa segunda natureza para nós; muitas das vezes, já sabemos o que esperar, e nesse sentido este filme não surpreende. É um muito bom filme de terror tradicional.
Gostei imenso das múltiplas faces do Mal que nos são apresentadas: a assombração de Bill Wilkins, as aparições do Homem Torto (quem é que não vai ter pesadelos com essa música durante semanas?), e o demónio final, Valak. Foi uma progressão inteligente de terrores, pois no momento em que nos acostumávamos a um (quando começamos a simpatizar com o velho Bill, que só quer que os miúdos o deixem em paz), surgia outro. As cenas do Homem Torto podem ter sido menos realistas do que as outras, mas nem por isso perderam o impacto. A família Hodgson foi adorável – é a típica família monoparental inglesa de classe baixa, que vive uma situação com a qual muitos de nós se podem identificar (não a assombração, a pobreza e a dificuldade de sobrevivência). A pequena Janet, interpretada por Madison Wolfe, faz um papel óptimo, muito credível, e a sua mãe Peggy (interpretada pela famosa actriz australiana Frances O’Connor) também.
Chego agora ao elemento do filme que foi a mais fulcral para mim: as personagens de Ed (Patrick Wilson) e Lorraine Warren (Vera Farmiga), e a relação entre elas. Esquecendo que estas personagens não têm nada a ver com o Ed e a Lorraine verdadeiros, a relação entre estas duas personagens no ecrã é extremamente cativante. Sim, são personagens um bocado sem sal – são heróis incontestáveis, sem matizes, sem falhas. A sua coragem é superior a qualquer medo ou preocupação por si mesmos. São os heróis típicos, 100% bons, que se tornam aborrecidos com o passar do tempo. Mesmo assim, gostei de ver esta dinâmica amorosa entre eles, a sua ligação um ao outro e a sua preocupação um com o outro. Todo o trabalho dedicado a fazer esta relação sobressair no ecrã é indicativo de muitos outros filmes com estas duas personagens como protagonistas a serem feitos no futuro. Espero apenas que saibam dar mais alguma dimensão às suas personalidades com o passar do tempo, porque não sei até que ponto é que esta linda história de amor entre dois fanáticos religiosos com poderes ocultos irá manter o seu fascínio sobre nós.
Em conclusão, gostei de The Conjuring 2 – A Evocação como um típico e clássico filme de terror, com personagens com as quais nos podemos relacionar mas que não têm demasiada profundidade, e uma história cativante mas cuja resolução parece um bocado simplista. Recomenda-se, mas sem demasiado entusiasmo.