Ok, pronto, agora que já toda a gente viu o Batman v Super-Homem: O Despertar da Justiça, vamos falar do filme sem andarmos com medo de pisar em spoilers. Porque este filme é muito polarizante! Basta verem na crítica que eu escrevi a semana passada, na qual eu dou uma pontuação de 4/10 e a média das pontuações dos fãs está em 9/10. Isto é uma diferença demasiado grande para não ser significativa. Portanto o meu objectivo com estas discussões é verbalizar as minhas reacções emocionais ao filme enquanto o via e nos dias seguintes enquanto pensava nele.
Depois de ter discutido o Batman e o Super-Homem, vamos falar da Mulher-Maravilha.
O que eu me apercebo é que o casting para este filme está muito bom, e que adoro a Gal Gadot como Mulher-Maravilha. Acho que ela tem o aspecto perfeito para esta personagem; tem uma beleza que não é cookie-cutter mas que ainda assim não ficaria desenquadrada a actuar ao lado do Cary Grant. O mistério que envolve esta personagem durante a maior parte do filme, é muito apelativo e está bem construído, sobretudo ao início quando nem sabemos o nome dela. Aliás, reparo agora que nunca descobrimos o nome dela. De qualquer modo vão havendo várias pequenas pistas de que ela pode ser mais do que aparenta e há todo um desvendar lento do mistério até ao momento mais interessante que é quando o Bruce Wayne descobre uma fotografia da Primeira Guerra Mundial onde aparece a Mulher-Maravilha. Este momento é verdadeiramente fixe e deixou-me muito entusiasmado para ver mais da personagem.
Infelizmente o filme não nos mostra mais da personagem para além de pequenos inserts onde ela vai tomando conhecimento do resto da narrativa através de notícias na televisão ou jornais. No fim, quando ela finalmente faz alguma coisa, aparece literalmente do nada. É verdade que ela é muito poderosa, e que há ali um sorriso quando ela está a lutar contra o Doomsday, mas nada disso é suficiente. Era preciso um bocadinho mais de build-up, um pouco mais de tensão quanto às habilidades dela, alguns indícios, qualquer coisa para que quando ela começa a dar porrada ao Doomsday isso não pareça tão descabido. Da forma como está, os poderes brutais dela confundem mais do que impressionam.
Adicionalmente a Mulher-Maravilha não faz nada no filme que só a Mulher-Maravilha pudesse fazer. Ou seja, é verdade que ela está ali a dar porrada no Doomsday, mas não tinha necessariamente de ser ela. Com imensa facilidade essa sequência podia ter sido escrita de maneira a ser o Super-Homem ou o Batman a fazer as coisas que ela faz. Ela está lá porque os escritores queriam muito que ela lá estivesse, mas a verdade é que a presença dela não é essencial, ou sequer bem justificada.
BvS poderia ter sido um excelente filme de introdução à Mulher-Maravilha, mostrando-a como uma personagem complexa e misteriosa, cheia de detalhes idiossincráticos e anacrónicos que fizessem suspeitar de um passado longo e pesado, cheia de conflitos entre o desejo de voltar a meter as mãos na acção, o dever moral de o fazer e algum problema ético do passado que a deixa relutante em fazê-lo. Este desvendar lento seria pontuado pela cena em que o Batman descobre a sua antiga fotografia da Primeira Guerra, e culminaria numa decisão épica de intervir com um revelar do poder tremendo que tinha vindo a ser ameaçado durante o filme todo, deixando o público sedento por uma prequela que revelasse mais do seu passado.