Batman v Super-Homem: O Despertar da Justiça
Batman v Superman: Dawn of Justice
Ação/Aventura/Fantasia
M/14
24 Março 2016
EUA | 2016
152 min
Temendo a imprevisibilidade das acções de um poderoso Super-Herói, o protector e vigilante de Gotham City decide enfrentar o salvador de Metropolis, enquanto o mundo debate que tipo de herói realmente necessita. E com o Super-Homem e o Batman em guerra, uma nova ameaça emerge colocando a humanidade na sua mais perigosa situação de sempre.
Zack Snyder
David S. Goyer, Chris Terrio
Ben Affleck, Henry Cavill, Jesse Eisenberg, Amy Adams
A não ser que tenham vivido numa caverna durante os últimos três anos, sabiam que este filme vinha aí. Se gostam de BDs, ou de filmes de super-heróis no geral, estavam entusiasmados por este filme. Se gostam do Batman ou do Super-Homem ou da DC no geral, então provavelmente viveram os últimos meses numa expectativa sofrida.
Porque a antecipação foi tão grande! Havia uma sensação de esperança colectiva na internet, por parte de todos os nerds e os fãs que queriam tanto que este filme fosse bom. O investimento emocional era palpável.
Lembram-se quando o Ben Affleck foi escolhido para fazer de Batman? Lembram-se do choque e da raiva dos fãs? Agora em retrospectiva é divertido.
Porque este filme é a resposta da DC à Marvel. Os Estúdios Marvel estão há oito anos a construir um universo expandido de filmes e séries, e cada ano que a Warner Bros. se atrasava a começar representava perdas de milhões de dólares.
E ainda assim o Batman v Super-Homem teve uma enorme produção de três anos. O filme foi adiado um ano para garantir que o resultado final era bom.
Vamos começar exactamente por aí, pelas partes boas do filme.
Zack Snyder é um visionário. É essa a sua grande força, a sua capacidade para comunicar visualmente e criar excelentes sequências visuais e isso nota-se em força neste filme.
Quase todas as cenas e enquadramentos do filme parecem saídos de uma banda-desenhada. A composição e a utilização do espaço do ecrã está muito muito boa, a fotografia é excelente em algumas cenas em particular, e apesar de poder haver gente que não goste do tom maioritariamente escuro e dessaturado do filme, para mim até funcionou melhor do que no Homem de Ferro (2013).
Para além desta qualidade técnica a construir os planos e as cenas, há sequências e imagens no filme que são verdadeiramente poderosas e assombrosas. A linguagem visual que o Snyder usa para carregar algumas das sequências de gravitas é fantástica. Sem querer spoilar nada, há uma sequência de sonho que está particularmente poderosa.
O filme tem diálogos muito minimalistas (mais acerca disto à frente) e a verdade é que é sobretudo a linguagem visual que carrega o filme às costas.
Muita dessa imagética poderosa é usada para construir a personagem do Batman, que é definitivamente a melhor personagem do filme.
Ben Affleck, perdoa-nos se alguma vez duvidámos de ti, o teu Batman é o melhor Batman da história do cinema. Este Batman é bad-ass, é poderoso, é inteligente, age com uma confiança e segurança que nunca tinha visto em filmes anteriores. Mas melhor ainda que o Batman é o Bruce Wayne.
Pela primeira vez vemos um Bruce Wayne que percebemos que não bate bem da cabeça. O Bruce Wayne é um homem crescido que se veste de morcego e vai bater às pessoas. Tem de haver muita insanidade por detrás disso, e o Ben Affleck consegue transmitir essa instabilidade mental. Temos um Bruce Wayne torturado por imagens de pesadelo, alguém cujo mundo interior é um lugar desagradável, e isso dá mais credibilidade às suas acções do que qualquer outra motivação que lhe queiram pespegar em cima (mais acerca disto à frente).
De igual forma, o Lex Luthor de Jesse Eisenberg é uma personagem que consegue transmitir uma genialidade psicótica muito subtil. Luthor deixa de ser o magnata avuncular do Gene Hackman para se transformar numa espécie de cruzamento entre o Mark Zuckerberg e o Joker do Heath Ledger. Os tiques, os artefactos verbais, os trejeitos que Jesse Eisenberg introduz na personagem, criam um Lex Luthor verdadeiramente assustador e ameaçador, que anda sempre numa fina linha entre o psicopata e o génio.
Mas honestamente, quando eu entrei para ver o filme, só queria uma coisa: porrada de criar bicho. E não fiquei desiludido.
Uma coisa com que muitos filmes frequentemente têm dificuldade é em criar escala e grandeza nas suas lutas. Um filme destes precisa de ser grande e de parecer GRANDE. Muitas vezes as lutas finais são pouco impressionantes ou parece que têm medo de atingir os seus máximos e por isso acabam por desiludir.
Batman v Super-Homem é GRANDE. A luta final é enorme, barulhenta e numa escala gigantesca. Isto são deuses a lutarem uns contra os outros, os limites superiores disso são difíceis de atingir, mas o filme conseguiu convencer-me que são de facto Deuses à estalada uns aos outros.
O filme consegue transmitir o peso titânico por detrás de cada murro, faz-nos sentir as ondas de choque do impacto entre estas personagens.
É uma barrigada de explosões, barulho e violência de banda-desenhada extremamente satisfatória, e eu saí extremamente satisfeito do filme.
A sério que sim! Saí do filme muito contente, muito divertido, a achar que tinha sido dinheiro bem gasto, e com a certeza que ia dar ao filme uma pontuação de 7/10.
Mas depois fui dormir, e quando acordei pus-me a pensar sobre o filme.
E por muito bem enquadradas e compostas que estejam as cenas, por muito poderosas que sejam as sequências, a verdade é que a primeira hora do filme é mesmo só uma colagem de cenas e sequências.
Não há realmente fluxo entre as cenas, as transições são quase inexistentes e a narrativa avança aos bochechos, com cada elemento de exposição a ser atirado à cara do espectador quase sem fio condutor com a esperança que ele seja capaz de os unir todos na sua cabeça.
Essa narrativa tem por objectivo explicar porque é que o Batman e o Super-Homem vão andar à porrada, e apesar de o conflito existir e de nos explicarem porque quais é que são as motivações das personagens, simplesmente não é suficiente.
Não há peso suficiente por detrás do conflito e a narrativa não consegue realmente transmitir emocionalmente porque é que estas duas personagens inteligentes chegariam ao ponto de andarem à porrada uma com a outra. Os factos estão lá expostos, é verdade, e até fazem algum sentido se quisermos ser generosos, mas no fim acabamos com a impressão que o Batman e o Super-Homem entram em conflito porque não gostam um do outro.
Ou seja, apesar de a narrativa até dar alguns motivos lógicos para eles entrarem em conflito, no fim as suas motivações são pessoais e emocionais. Mas sabem que mais? Eu não conheço estas personagens o suficiente para me importar com os seus conflitos pessoais, nem tenho um investimento emocional suficiente nelas para me sentir afectado pelo que lhes acontece.
E como os motivos lógicos pelos quais eles entram em conflito não são polarizantes o suficiente para eu me sentir dividido na questão ideológica, acabo por não me importar de maneira nenhuma com o conflito. Nem emocionalmente nem ideologicamente.
Eu estava curioso por saber qual dos dois é que ia ganhar na sua luta, mas era mesmo só curiosidade, não tinha nenhum investimento emocional no resultado dessa luta.
Sobretudo porque a resolução dessa luta é irrelevante pelo facto de sabermos à partida que eles têm de acabar amigos para lutar contra o monstro final que já nos foi spoilado há meses pelo trailer.
E por amor de tudo o que é sagrado no cinema, é DESTA maneira que eles ficam amigos? A sério Snyder? A sério Goyer? Não encontraram uma desculpa que fosse menos lamechas, que fosse menos preguiçosa? Quem viu o filme sabe do que é que eu estou a falar, e quem vai ver o filme vai perceber com facilidade…
Paralelamente a isto tudo há uma tentativa de criar um sub-enredo de mistério que tem de ser resolvido pela Lois Lane, mas depois a resolução desse mistério tem poucas ou nenhumas consequências. Para além de ter acções inúteis a Lois Lane é um empecilho que tem de estar sempre a ser salvo, e a Amy Adams, que é uma boa actriz, não tem espaço ou diálogo para a tornar interessante.
Por falar em interpretações fraquinhas, o Henry Cavill parece feito de madeira o filme todo, com uma voz monocórdica e uma amplitude emocional que varia entre o aborrecido e o obstipado.
E já que estamos a falar disso, eu gostava muito de dizer que a Gal Gadot é um cast excelente para a Mulher-Maravilha, mas ela simplesmente não faz coisas suficientes no filme para eu poder decidir.
A Mulher-Maravilha é uma personagem completamente acessória e desnecessária à história, que não faz nada o filme inteiro. Mal tem falas, passa o tempo todo a ver o que está a acontecer nas notícias, e no fim junta-se à luta por razões.
Nem sequer o Jesse Eisenberg, que é certamente o melhor actor deste conjunto, consegue realmente esticar as pernas ao Lex Luthor. Ele consegue fazer imenso com o pouco que tem, mas fico com a sensação que se lhe tivessem dado melhor diálogo e mais tempo, o Lex Luthor seria uma personagem inesquecível durante anos. Da maneira como está escrito, o Lex Luthor tem motivações quase inexistentes para além de ser “mau”.
Eu até quero acredito que a culpa não seja dos actores, porque simplesmente não lhes dão diálogo com que trabalhar ou tempo para desenvolver a personagem. No entanto isso exige a pergunta de porque é que num filme de duas horas e meia não há esse tempo.
Em parte é porque num esforço enorme para acelerar a construção do Universo Expandido da DC, o estúdio decidiu introduzir neste filme elementos de coisas que acontecerão em filmes futuros. Há várias personagens que são introduzidas, aparecendo só os segundos suficientes para pensarmos “Ah, este é aquele tipo que vai aparecer naquele filme”, e imensas pequenas pistas que provavelmente só vão fazer sentido durante os próximos anos.
Infelizmente isto funciona contra o filme, cujo ritmo está constantemente a ser quebrado para introduzir à força estes elementos que não acrescentam nada à história e só confundem.
Mas não vamos pôr a culpa deste destroço de história só no estúdio, porque o filme está pejado de cenas desnecessárias que não têm nada a ver com a construção forçada do Universo Expandido.
Há imensas cenas durante o filme cujo objectivo era, parece-me, introduzir elementos de moralidade e profundidade intelectual ou emocional que simplesmente não funcionam ou não levam a nada. Há imensos pormenores que pensamos que poderão vir a ser relevantes que depois não têm impacto nenhum na narrativa e desviam a atenção do que realmente importa
São problemas graves de escrita que não são desculpáveis a um estudante de cinema, quanto mais a um estúdio desta envergadura e a escritores com o currículo de David Goyer e Chris Terrio.
Batman v Superman é um desastre de auto-estrada com 3 carros empilhados, e não é só culpa do Snyder. Não há ninguém, nenhum executivo do estúdio que tenha visto o filme e depois se tenha sentado com o Snyder para ter uma longa e séria conversa?
Percebam, eu sou um daqueles nerds que passaram três anos à espera deste filme. Eu sou um daqueles geeks que se revoltaram quando eles anunciaram que o Ben Affleck tinha sido escolhido para fazer de Batman, porque isso poderia fazer com que o filme não fosse tão bom.
E apesar de o filme ser uma barrigada satisfatória de porrada e explosões, eu sinto que merecia mais. Merecia mais esforço, merecia uma história bem construída e personagens bem desenvolvidas. Não precisavam de ser brilhantes! Não precisava de ser um filme genial! Eu tinha ficado contente com as explosões e uma história competente.
Mas os erros são demasiados e demasiado flagrantes, e não há maneira de serem compensados pelos aspectos bons que o filme tem.
É uma pena.
O que é que mais te desiludiu no filme?
Porrada de criar bicho muito satisfatória
Excelentes visuais de banda desenhada
O melhor Batman de sempre
Narrativa desconexa e previsível
Personagens mal desenvolvidas e sem motivações
Conflito pouco significativo e desimportante
Erros de escrita amadores
Elementos do Universo Expandido inseridos à força
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Daniel Álvares
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Daniel Álvares
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Gui Santos
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Rafael Nabais
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Pedro Miguel Antunes
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