E que tal voltarmos um pouco ao passado e reviver momentos épicos que nos foram proporcionados durante a nossa infância? Isto se ainda és do tempo das Memory Cards.
Hoje venho falar de um jogo pelo qual tenho um carinho muito especial e que, infelizmente, provavelmente não tiveste oportunidade de jogar, porque nunca chegou a sair na Europa. Desenvolvido pela Game Arts e publicado pela Square-Enix… Grandia 3!
Grandia 3 é um bom jogo, aliás, um grande jogo, que conseguiu dar-nos uma experiência gráfica incrível na Playstation 2 – se bem que agora, na minha TV UHD, deixa muito a desejar (Square, já lançavam uma remasterização em HD, não?). No entanto, embora seja uma tortura para os meus olhos, vou voltar a completá-lo de bom grado!
A saga Grandia sempre foi conhecida pelo seu desenho com um estilo mais anime e as piadas constantes presentes nos diálogos – e desta vez não é excepção. No meio de tanto momento sério, podemos sempre contar com uma ou outra piada animadora por parte dos nossos heróis, especialmente os berros histéricos de alguns deles! Algumas pessoas até arriscam dizer que foi um “grande” concorrente a Final Fantasy na altura que saiu (em 1999), tendo críticas tão boas, ou ainda melhores – na altura, Grandia 1 vs Final Fantasy VIII.
Voltar a pegar num jogo da Playstation 2 foi… bem, estranho! O nosso olho está tão habituado a gráficos em HD e Full HD, que jogar um jogo em SD pode demonstrar ser um pouco… doloroso (mesmo com o cabo componente, que supostamente ajuda a suavizar um pouco a imagem). Porém, confesso que em algumas situações ainda consegui ficar espantado e abstrair-me dos “quadrados” no ecrã. Enfim, comecemos mas é por ligar a consola… … … …bolas, que isso demora tempo a chegar ao ecrã do jogo! Ahh sim, New Game!
Para quem gosta de RPGs, recomendo vivamente este jogo. A série Grandia tem, na minha opinião, um sistema de combate único, que envelheceu muito bem! Misturando os combates por turnos com componentes tácticos, temos várias opções durante um combate (para além de introduzir magias e habilidades com área de efeito [AoE]), e temos que as escolher bem… Por exemplo, é melhor não mandar a Alfina atacar um monstro que esteja muito longe dela, senão cansa-se pelo caminho e desiste do ataque (devias ter saído um pouco mais da igreja em vez de ficar a comunicar com os deuses…), ou porque não escolher a habilidade certa para escapar dos inimigos que me encurralaram? O sistema está tão bem elaborado que é possível acabar vários combates (inclusive bosses) sem ser acertado. Isto, no final, dá-nos uma música de fim de batalha encantadora, com um pequeno prémio – recuperamos 10% do nosso SP (fantástico!) – ao menos no Grandia Xtreme são mais simpáticos e dão-nos 50% de EXP a mais!.
Mas, para já, proponho um pequeno vídeo para mostrar o que quero dizer – sempre será mais fácil para entender. O que me faz lembrar uma coisa (nem sei se me consegues responder) – de onde é que vieram esses dois piratas?
“Porque não tornar as coisas mais fáceis para toda gente e ficar fora do nosso caminho?!” – Miranda
Após alguns minutos de filme, comecei finalmente a controlar a minha personagem! Grandia 3 conta a história de Yuki, um jovem rapaz cujo sonho é ter “asas” e voar pelo mundo (a sério, quando digo asas é um avião, claro). Este encontra-se rapidamente envolvido na vida confusa da “comunicadora” Alfina, que ele e a mãe (Miranda) salvaram de uma floresta! Ai os jovens de hoje em dia apaixonam-se tão facilmente… Ahem! Após encontrar Alfina, Yuki e Miranda decidiram ajudá-la a chegar à terra principal (o mundo é constituído por um continente gigante e pedaços de terra mais pequenos), e pelo caminho encontram Alonso, um pinga-amores, que prometeu levá-los, de barco, até lá. Após algumas peripécias, o gangue chega finalmente às localidades onde Yuki decide ajudar Alfina na sua missão – ir até Arcriff! (Que querido!). É tempo de dizer adeus à mãe e ao seu “novo namorado” e viajar até Arcriff com a nossa apaixonada – e… é lá onde tudo se complica e que a verdadeira aventura começa!
Não vou contar a história toda, porque senão estaria a fazer spoiler. Basicamente, a história está introduzida num mundo onde existem dois planos: o plano onde todos vivemos, e o plano onde os “Guardiões” vivem. Os guardiões são um género de deuses que protegem o nosso plano, após uma guerra que quase destruiu o mundo há 5000 anos, e cuja existência foi ameaçada por um inimigo desconhecido! Com a ajuda de Yuki e outros companheiros, Alfina viaja pelo mundo para falar com todos os guardiões e tentar evitar o seu fim – visto que aos poucos cada um dos guardiões é assassinado pelo inimigo.
Durante as próximas horas de jogo, vamos ter a oportunidade de viajar pelo nosso mundo de avião, assim como de explorar algumas áreas do mundo dos Guardiões (que, acreditem, não tem nada de fantástico, muito pelo contrário – é um mundo que está a morrer e que só apresenta tristeza e desespero).
A história, mesmo sendo um pouco confusa e pobre, apresenta fortes elementos e sub-histórias: cada personagem tem um passado que vai sendo desvendado aos poucos (com excepção de Miranda e Alonso que só nos acompanham na fase inicial como sendo um género de tutorial de 5h) e que se ligam com a história principal, fazendo assim com que tenham um sentido no jogo (vá lá… de certeza que muitos de nós ao jogarmos um jogo nos perguntamos no final “e aquele, que raio estava ali a fazer?”).
Ao todo, vamos conhecer na nossa equipa sete elementos distintos, cada um com a sua personalidade: Yuki, Miranda, Alfina, Alonso, Ulf, Dahna e Hect. Não posso dizer que tenha gostado muito de Dahna, lembrou-me muito uma personagem de novela – e mal vestida – faz-se de forte, mas no fundo é um pouco melodramática, se bem que em combate tem umas habilidades bastante úteis!
Não se deixem enganar pelo facto do jogo vir em dois DVDs, não é grande – isso comparando com outros RPGs como a série Final Fantasy e Tales of. Na minha opinião, o facto de haver 2 DVDs foi uma falha da produtora, muito possivelmente a nível de engine. Como explicar isso de uma forma simplista… Os criadores de Grandia 3 decidiram fazer com que quase todas as cenas com as personagens com mais polígonos (sim, nessa altura havia dois modelos diferentes das nossos personagens principais – uns com menos polígonos e detalhes – e normalmente notava-se pela cara meio espalmada e os dedos das mãos coladas; esses eram utilizados para navegar nos mapas e em batalhas, e nas pequenas falas – e uns com mais polígonos, que apresentavam mais detalhe e trabalho) fossem gravadas e introduzidas no jogo, em vez de ser processadas directamente pela consola (talvez devido ao nível gráfico a consola poderia não ter potência suficiente para o fazer – mas isso já é pura especulação).
O “lifting poligonal” que do nada deixa tudo tão mais giro…
Para além dos gráficos, quem não se lembra de uma boa música dos jogos da Era PS1 e PS2?? Aquele violino misturado com o tecno? Bem… aqui também há disso… E Noriyuki Iwadare é um perito nisso! Não posso dizer que a banda sonora seja a coisa que me atraia neste jog. Como em todos os Grandia, a música tem um tom de anime para crianças – músicas demasiado alegres que às vezes não combinam bem com a cena que está a ser apresentada. Vá lá, que desta vez ele abandonou aquela batida tecno dos anos 80 que utilizou nos episódios anteriores “ton, ton, ton, ton ton ton!“. As músicas tornam-se muito repetitivas, não havendo grande diversidade. Só para vos dizer, no início do jogo levei com 2h da mesma música de fundo dos mapas que estava a percorrer! Passado um tempo, já é poluição sonora! Acabei por me livrar dela para… 1h depois voltar a gramá-la!
Por acaso, esse é outro ponto sobre a música dos títulos das consolas passadas (com excepção de Final Fantasy): as produtoras apostavam pouco na diversidade da banda sonora. Então se formos a pegar num dos primeiros Tomb Raider… Começando a haver uma certa evolução nos meados dos tempos da Playstation 2, em que a exigência dos jogadores começou a aumentar. Não digo que isto esteja completamente certo. Repara que, como temos sido cada vez mais exigentes, os jogos demoram cada vez mais tempo a sair, isto porque têm que estar perfeitos a nível gráfico e sonoro – fazendo com que, às vezes, os sistemas e a história do jogo sejam impactados negativamente.
Sinceramente, acho que os jogos passados não devem ser deixados de lado, afinal é graças a eles que temos o que temos hoje em dia… Se bem que antigamente notava-se mais amor pelo que era criado do que hoje. Se olharmos para os anos 90 e 2000, os RPGs eram criados para contar uma história aos jogadores – para os fazer imaginar e viver o jogo. Já hoje em dia, temos peças de uma novela mal coladas, que é atirada ao jogador para apresentar gráficos e sistemas inovadores – esquecendo-se do foco principal de um jogo RPG – Role Playing Game – no sentido em que temos que desempenhar um papel no jogo, e não só admirar os belos cenários).
Só não sei é como as produtoras não repararam ainda nisso… As críticas têm notas cada vez mais baixas, os fãs da série não páram de se queixar e já começam a ter medo do próximo jogo que vai sair “será este será bom ou igual ao outro?” – até o novo Final Fantasy, que sai no próximo dia 30 de Setembro, tem os seus fãs divididos… algo que em 2000 não acontecia tanto.
Esta rúbrica foi criada para relembrarmos os bons momentos que passámos com jogos das antigas gerações – e admito… ainda passo “grandes” momentos com Grandia, pois é uma série que sempre despertou a minha imaginação, e que não chegou a ser corrompido pelos tempos actuais. Para além de ter uma história coerente e digna de um RPG, apresenta sistemas divertidos e inovadores, que nos dão vontade explorar cada canto do seu mundo! Tendo em conta que a Square-Enix não se decidiu em lançar uma versão HD para a Playstation 4, vou guardar a minha Playstation 2 para jogar esta pequena pérola.
Se estiveres interessado em conhecer um pouco mais a série Grandia, posso convidar-te a jogar o primeiro título na Playstation 3 ou Playstation Vita e o segundo no PC, que acabou por ter um pequeno “refresh” gráfico – mas nada de muito significativo.
Cada Grandia tem uma aventura completamente diferente – e é essa a essência da série, a aventura! Tudo bem que acabamos por salvar o mundo, mas temos sempre esta grande sensação de nos estarmos a aventurar num mundo que tem muito para oferecer e cuja personagens demonstram um enorme carisma que nos cativa imediatamente!