“Todos nós jogamos videojogos fervorosamente por incontáveis anos das nossas vidas. É possível que tenhamos jogado por muito mais tempo do que pelo punhado de anos em que fomos obrigados a frequentar aquele recinto de tortura juvenil conhecido pelo nome de escola. Provavelmente já jogámos mais tempo do que passámos em frente à televisão a ver séries, telenovelas ou gritando GOLO! Por isso, caros amigos destas andanças, vamos recordar alguns episódios e momentos inesquecíveis que se passaram comigo frente aos velhos portáteis devoradores de pilhas e das boas TVs CRT (vulgarmente chamadas de ”cachamorras” pela minha Mãe), porque relembrar é viver, porque Gaming is Life!”
Gente que me conhece sabe certamente que a série Megaman ou Rockman (para os puristas) tem um lugar muito especial no meu coração, sobretudo por ter sido o primeiro jogo que joguei e completei. Posto isto, explico com maior detalhe como tudo se passou.
Na verdade, foi o meu próprio irmão quem me transportou para o universo dos videojogos. Coisa que eu, com os meus 6/7 anos de idade não ligava muito, pois passava a maior parte do tempo a desenhar (sim, o Bruno já foi artista… um mau artista). Nessa época a meta do meu irmão era comprar um cartucho, daqueles do over 9000 in 1 (nós tínhamos uma daquelas Famicom pirateadas) com o Contra incluído, a cena que estava mais in na altura.
(A foto não corresponde ao cartucho que falo no artigo)
A senhora do estabelecimento onde comprámos o cartucho garantiu-nos que um cartucho do 500 in 1 tinha o tão ansiado Contra. Ora bem, vai-se a ver e na verdade onde estava o raio do Contra?! Apesar da decepção, tínhamos lá o Battle City, um jogo de tanques de que muitos de vocês devem recordar-se até com uma certa nostalgia, e que agradou bastante ao meu irmão.
Acontece que nesse cartucho também estava um tal de Rockman. Assim que vi o menu inicial, tive uma enorme vontade de desenhá-lo. Não sei se foi pela pose ou design, sei apenas que algo me cativou bastante na altura. Assim, aos poucos, não fui só desenhando o Megaman, como também o resto dos seis Robot Masters. Como a minha única referência eram sprites de 8 bits, muitas das coisas tive de imaginar. Recorri também às imagens estáticas na seleção de níveis, mas até chegar a esse ponto tinha de jogar os níveis até à parte com o Robot Master em questão, para ver as suas animações e desenhar com mais detalhe. Com base nesta experiência, fui ficando mais cativado pelo jogo.
Aos poucos, fui deixando as minhas atividades de desenho, focando-me mais nos videojogos, e em especial no Megaman. Tanto, que tornei-me melhor no jogo, e sem aperceber-me já tinha derrotado os seis Robot Masters. Dizem que a prática leva à perfeição e, bem, pelo menos neste caso parece ter sido o caso. Infelizmente, o primeiro Megaman carece do sistema de passwords, e cada vez que jogava tinha que derrotar os Robot Masters over and over and over and over again, o que fui fazendo cada vez mais rápida e eficientemente.
Para minha grande surpresa, ao derrotar o Fireman, o último Robot Master, deparo-me com um novo inimigo, um tal cientista chamado Dr. Wily, que surgiu quando pensava ter terminado o jogo. Pois lá continuei rapidamente, e reparei que este nível seria um teste de tudo o que aprendi ao longo do jogo. No início temos uns seis Stompers que temos de congelar com o Ice Beam, depois uns blocos em que temos de usar o Super Arm, seguido novamente do Ice Beam para formar um caminho, congelando o fogo, e finalmente, perto do final do nível, usar o Magnet Beam para formar uma espécie de passagem para chegar ao cimo. Isto, meus amigos, era o nosso tutorial da época, aqui não tínhamos um press B to fire Mega Buster.
Chegado ao cimo, cheguei também ao meu primeiro medo em matéria de videojogo. Um ecrã todo negro, e pensava eu ir enfrentar esse Dr. Wily. Em vez disso, vejo uma série de blocos amarelos na minha direção, os quais tento evitar sem sucesso. Esses blocos formaram uma imponente criatura chamada de Yellow Devil, e o pior de tudo, A MÚSICA!!!, criando pânico, porque nada do que fazia parecia funcionar, e acabava sempre no mesmo, em partículas, e com o pobre do Rock derrotado. Parabéns senhora Nanami Matsumae, conseguiu instalar medo no coração desta jovem criança, tanto que chegava a ter pesadelos com esta criatura, acompanhada daquela música demoníaca.
O medo era tanto, que por vezes tinha uma certa ansiedade em jogar. Como já disse acima, o primeiro Megaman carece do sistema de passwords, pelo que tinha de deixá-la ligada (só mesmo o meu irmão sabia que a deixava na pausa ligada a noite toda), para não ter de derrotar os Robot Masters de novo e estar no dia seguinte a continuar no primeiro nível do Dr. Wily. Com o passar do tempo, fui evitando o Yellow Devil diversas vezes. Atirava e atirava os blocos, mas nada funcionava. Certo dia, deparei-me com uma pequena particularidade nesta criatura, que quando atirava, uma espécie de olho aparecia. Só aí reparei que já podia danificá-lo e… ó Elec Beam como te adoro, descobri que esse seria o seu ponto fraco… e BOOOOM, finalmente derrotei-o! O jogo até fica silencioso nessa parte uns 2 segundos, lembro-me até que fiquei meio congelado nessa altura, porque nem me apercebi que tinha conquistado o meu medo. Quando a música de vitória surge, faço uma festa que nem o maior dos réveillons estaria à altura! Longe estaria de imaginar que este acontecimento iria marcar-me e acompanhar-me para o resto da vida.
Derrotando o Yellow Devil a.k.a. ”Medo”, cheguei a mais um nível, que também parecia testar as minhas capacidades, mas de outro modo. Ou seja, feliz da vida ia avançado no nível, e BOOOM, não é que espetaram Robot Masters no meio deste nível!? Quanto querem que sofra mais?
Felizmente, ainda tinham as mesmas fraquezas, o que não era mau, porém, tinha aquela barreira de blocos que subia quando lutava com Elecman, (todos nós sabemos o OP que os raios de eletricidade neste jogo são). Esses mesmos blocos também estiveram ausentes, barrando o uso do Super Arm no confronto com Cutman, e assim que tive de pôr algumas novas estratégias em prática. Mas como vos disse, nada assim tão mau, no entanto, não me livrei de alguns Fu** enquanto jogava.
Chegando ao boss desse nível, pensei ”o que pode ser pior que o Yellow Devil?” (se bem que aquela música aterradora ainda lá estava…). Ora bem, primeiro momento OMG em videojogos que tive! Não é que enfrentava um Megaman igualzinho a mim, e que me imitava em tudo?! Saltava quando saltava, quando disparava, disparava, e quando mudava de arma também mudava. No entanto, essa é a fraqueza deste boss, e por agora vamos chamá-lo de Clone Megaman. Sempre reparei que quando usava o Fire Beam, além de disparar, ficava com uma espécie de escudo de fogo. Assim, evidentemente, a forma de derrotá-lo só seria saltar quando o Clone Megaman disparava. Como usava o Fire Beam e o Clone Megaman copiava as minhas ações, levava com o dano do escudo de fogo. Não me perguntem como eu, criança perto dos 7 anos, tive este raciocínio lógico e complexo.
Mais um nível… Mas esperem, a música que acompanha o nível mudou! Eu pensei ”ok este será MESMO o último”. Nível esse muito curto, e com um boss mais “fácil”. Uma espécie de mecanismo de defesa, que assim que vi uns 5 blocos, reparei logo qual era a fraqueza deste. Não tive grandes problemas, claro que morri umas vezes, porque não devemos usar os blocos de início. Este boss aumenta de velocidade, e perto do fim mal o vemos! Mas mais uma vez nada ao nível de dificuldade do Yellow Devil.
Bem, outro nível, e sim, este realmente este seria o último igualmente curto. Já com todo o conceito de jogo do jogo assimilado, não me livrei da surpresa que foi enfrentar os restantes 4 Robot Masters UM A SEGUIR A OUTRO! Usando as mesmas fraquezas não foi nada muito preocupante, exceto o espaço que era bem mais reduzido, especialmente quando lutava com o Fireman.
Finalmente, cheguei ao boss final, o próprio Dr. Wily, numa Giant Machine, que muito sinceramente não tive absolutamente nenhum problema em derrotar. Acho que o derrotei à terceira tentativa. Só temos de usar as armas a qual a Wily Machine tem fraquezas. Nunca, mas mesmo nunca, se pode comparar ao pânico e dificuldade do Yellow Devil. E finalmente tinha terminado o jogo, que tanto sofrimento e alegria deu-me ao mesmo tempo. Só fiquei naquela ”Megaman vais matar o Dr. Wily? Naaaah ele só pede desculpa”. O Megaman lá deixa-o ir à vidinha dele, regressando a casa como se nada tivesse acontecido…HUH!?
Com muita alegria vejo o final, um texto em inglês que na altura não percebia um cú. Fiquei mais entusiasmado com a surpresa de ver o Rock com um aspeto mais humano, com cabelo e tudo! Assim, terminei o meu primeiro jogo, com esta tenra idade, sem ter consciência de que não só os meus hobbies iam mudar, como também a minha vida.