Crítica | Guia do Escuteiro para o Apocalipse Zombie

Imagino que nos escritórios da Paramount tenha ocorrido a seguinte reunião:

Executivo 1 – Como é que vamos ganhar ainda mais dinheiro este trimestre?

Executivo 2 – Não sei. Que nicho de audiência é que não anda a ser suficientemente explorado?

Executivo 3 – Mulheres jovens?

Exec1 – Pfff… por favor, Um Ritmo Perfeito 2, Magic Mike XXL, Cinquenta Sombras de Grey… devo continuar?

Exec2 – Bem visto… hmmm… já sei, homens broncos!

Exec3 – Não, também não dá… já fizeram o Velocidade Furiosa 7.

Exec1 – Ok, já sei! Adolescentes!

Exec2 – Olha! Todos os anos aparecem adolescentes novos! Podemos usar os mesmos truques de sempre porque eles ainda não os conhecem!

Exec3 – Mas raparigas ou rapazes adolescentes?

Exec1 – As raparigas já têm o Jogos da Fome: A Revolta Parte 2. Raios que a Lionsgate está a saber esmifrar essa teta até à última gota. Porque é que nós não fizemos isso?

Exec2 – Cala-te. Portanto um filme para rapazes adolescentes. Precisamos de personagens com quem eles se possam relacionar.

Exec3 – Um deles tem de ser atraente mas tímido, para poder aprender lições de vida sobre como falar com raparigas! Até podemos ter uma cena em que uma rapariga atraente o ensina a beijar.

Exec2 – Temos de ter outra personagem que seja o adolescente pervertido! Dessa maneira podemos fazer piadas ordinárias à vontade.

Exec1 – Ah, e temos de ter um gordo. Toda a gente se ri dos gordos.

Exec2 – Também podemos meter uma data de músicas que estejam na moda, e pô-los a tirar selfies o tempo todo! É isso que os adolescentes fazem, não é?

Exec3 – Está a faltar qualquer coisa…

Exec1 – Já sei! carrega no botão do intercomunicador Menina Irene, descubra uma actriz com mamas grandes! Não tem de saber actuar, só tem de não se importar de usar uma camisa branca 3 tamanhos demasiado pequena durante o filme inteiro.

Exec2 – Que mais é que é popular actualmente?

Exec3 – Super-Heróis?

Exec1 – E ir contra a Marvel, estás parvo?

Exec2 – Zombies!

Exec3 – Sim, adolescentes e zombies! Acho que isso ainda não foi demasiado abusado!

Exec1 – Que mais é que precisamos?

Exec2 – Portanto se temos um filme de adolescentes precisamos de cenas de nudez e sexo gratuitas.

Exec3 – Bem lembrado. Se é um filme de zombies, também temos de ter cenas gore desnecessariamente exageradas.

Exec1 – carrega no intercomunicador Menina Irene, fale com os recursos humanos e descubra que empregado é que tem mais acusações de assédio sexual, e ponha-o a escrever o filme!

Exec2 – Temos de arranjar alguma coisa para ajudar a suavizar estas cenas todas de violência e sexo… hmmm… que é que poderia ser.

Exec3 – hmmm, e se eles fossem escuteiros?

Exec1 – Isso torna-os definitivamente mais gostáveis.

Exec2 – No fim aprendem todos uma lição importante sobre o poder da amizade!

Exec3 – Está feito, mandem filmar! Reunião terminada. carrega no botão do intercomunicador Menina Irene, mande entrar as prostitutas.

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Guia do Escuteiro para o Apocalipse Zombie é mau.

A história não faz sentido nenhum (nem sequer para este género de filmes) é forçada e as coisas acontecem de forma quase sempre aleatória, sem motivo nenhum para estarem a acontecer.

As personagens são todas genéricas e desinteressantes, nunca me importei que elas estivessem em perigo, apesar de o filme se esforçar por enfiar à força alguns pormenores pessoais que deviam criar empatia por elas.

As interpretações são igualmente desinteressantes, e honestamente isto tira-me algum entusiasmo ao saber que o Tye Sheridan, que faz a personagem principal, vai ser o Cyclops no X-Men: Apocalypse.

O filme nunca chega a meter medo. Os poucos jump-scares que existem não funcionam, e a tensão é quase inexistente.

O filme nunca chega a ter piada. Os momentos cómicos do filme parecem vinhetas metidas à pressão dentro da narrativa, desenquadradas e descontextualizadas e que nunca têm piada.

O gore é mal conseguido, variando entre o pouco impressionante e o cunnilingus-por-zombie.

É um filme aborrecido. Passar duas horas a tentar engolir uma pinha teria sido mais agradável do que ver este filme.

O que é uma pena, porque quem visse o poster do filme poderia pensar que ia ver um gore-fest exageradíssimo com escuteiros bad-ass a usarem armas ridículas construídas à pressão para matar quantidades irrazoáveis de zombies. Essa parece ser a premissa de um filme do Robert Rodriguez que eu veria.

O filme de facto passa por esse registo na única cena divertida do filme, mas infelizmente isso dura só cerca de 30 segundos.

Nem sequer aproveitam bem a ideia dos gatos zombies, que são definitivamente a ideia mais original do filme. Desperdiçam isso numa cena mal conseguida.

Dá a ideia que este filme queria ser uma espécie de mistura entre o Super Baldas e o Planeta Terror, mas que teve medo de se comprometer com qualquer um dos extremos, e numa tentativa de ser mais morninho falha completamente.

Mas mesmo assim acho que isso é ser mais generoso do que o filme merece.

O filme é mesmo só mal escrito, mal realizado e mal interpretado.

Como é que este filme seria se tivesse sido escrito/realizado pelo Robert Rodriguez?