Com a popularidade que os filmes da Marvel e da DC têm tido nos últimos anos, há cada vez mais pessoas a querer ler bandas-desenhadas, mas pode realmente ser frustrante entrar de cabeça no meio de décadas de continuidades, retcons, mortes e ressurreições, crossovers e eventos.
Por isso começar por ler algo que não venha dessas duas companhias é mesmo a melhor opção.
E a série Saga da Image Comics, criada por Fiona Staples e Brian K. Vaughan, é um perfeito ponto de partida – mesmo que nunca se tenha pegado numa BD antes na vida, Saga é excelente para alguém que está começar a sua jornada de narrativas gráficas. Esta banda-desenhada é de fácil leitura, mas ainda assim com muita experimentação na sua apresentação para que pareça original sem a tornar inacessível.
O universo de Saga é completamente novo, uma ópera espacial com raças alienígenas surreais, realeza robô, vários assassinos a soldo espaciais, gatos que falam (mais ou menos), fantasmas, magia, uma diversidade enorme de personagens, e dois alienígenas humanoides como protagonistas.
Esta é a história de dois amantes em lugares opostos de uma guerra espacial – o planeta de Alana há muito que está em guerra com o planeta em que o seu marido Marko nasceu. Ele era um soldado da infantaria até se ter rendido como “objetor de consciência” e acabado preso pelo exército inimigo, onde conheceu a guarda Alana e os fugiram juntos e casaram-se, acabando a ser caçados. Agora os dois querem matar os seus perseguidores antes que as notícias do seu casamento – e criança – se espalhem. Saga é narrada pela filha de Alana e Marko, Hazel, numa caligrafia como se fosse escrita à mão, o que dá a ilusão de se estar a ler um livro para crianças, se bem que Saga é tudo menos isso.
E apesar de ser um pouco ridículo atribuir etnicidades especificas a personagens que não têm qualquer relação com o nosso planeta Terra, tanto Alana como Marko são pessoas de cor – o que é muito agradável de ver depois de todos os homens brancos carrancudos que povoam a maior parte das bandas-desenhadas da Marvel e DC Comics.
Vale a pena comprar esta série só pela arte de Fiona Staples, pois o design das suas personagens faz com que até as pessoas no fundo sejam memoráveis. Ela desenha, passa a tinta preta, e pinta, tudo sozinha, e os fundos digitais fazem esta uma obra completamente distinta. A sua anatomia é convincente e as feições expressivas, e a palete de cores é forte e vibrante. Staples tem uma imaginação impressionante, e embora muitos artistas sejam infelizmente acusados de apenas transportarem para as folhas as ideias dos escritores como se esses últimos fossem os verdadeiros génios da operação, este aqui é um universo que pertence tanto a Staples como a Vaughan.
Mas é verdade que Brian K. Vaughan é famoso no mundo das bandas-desenhadas há já muitos anos, tendo já escrito outros títulos célebres como Fugitivos, Y: O Último Homem, e Ex Machina – já para não falar que escreveu episódios de Perdidos e Under the Dome. E nesta série não falta então a qualidade que os leitores já esperam de si, tendo criado uma galáxia muito diferente do que já se viu antes noutras obras, com personagens compreensíveis e cheias de nuances. Os seus diálogos também são naturais, passando de intensos para engraçados com um estalar de dedos.
No entanto Saga não é para todos – todas as personagens praguejam mais do que um marinheiro bêbado, e não faltam violência gráfica e nudez para ambos os sexos.
Mas Saga é uma série que não só amada pelos fãs, os críticos sabem bem ver o seu valor, sendo multipremiada com cinco Eisner Awards, um Hugo Award for Best Graphic Story e dez Harvey Awards!
E felizmente – de acordo com Brian K. Vaughan e Fiona Staples – esta obra nunca será adaptada para mais nenhum meio, sendo apenas para a comunidade das bandas-desenhadas, com Vaughan já tendo dito em entrevistas que Saga foi criada com o objetivo de «fazer absolutamente tudo que eu não podia fazer num filme ou programa de televisão. Estou muito feliz que apenas seja uma banda-desenhada.»
Os primeiros cinco volumes já estão à venda e podem ser comprados imediatamente, e são absolutamente recomendáveis, com um pouco de tudo que os leitores possam estar à procura, romance, ação, humor, diversidade – e passa-se tudo no espaço!
Saga vale o vosso tempo e o vosso dinheiro.
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