As Crónicas de Shannara
The Shannara Chronicles
Aventura, Fantasia, Ficção Científica
11 Janeiro 2016
EUA | 2015
42 min
1
A história passa-se milhares de anos no futuro, num momento em que a tecnologia já não existe e em que a prática de magia ressurgiu no mundo e posteriormente desapareceu novamente. Os Elfos conduzem a sociedade, enquanto os humanos são considerados uma sub-espécie. Após centenas de anos de paz e calmaria, um exército de demónios ameaça escapar da prisão, conhecida como Ellcrys, uma árvore da morte, e consequentemente promover uma guerra apocalíptica. Três heróis serão responsáveis por embarcar numa perigosa missão para restaurar a ordem nas Quatro Terras e conseguir apoio para vencer os demónios. São eles: Amberle, uma princesa elfa, Will, um híbrido de elfo e humano, e a humana Eretria.
Alfred Gough, Miles Millar
Austin Butler, Poppy Drayton, Ivana Baquero, Manu Bennett, John Rhys-Davies, Aaron Jakubenko
As histórias de fantasia tendem a arriscar o ridículo para atingir o sublime, e As Crónicas de Shannara caem ali mesmo no limbo dessa divisão. Embora totalmente filmada na Nova Zelândia (o país d’O Senhor dos Anéis), a série raramente aproveita os cenários exteriores pitorescos e, em vez disso, usa CGI duvidosos para exteriores, ou confina grande parte da acção a localizações interiores, nem sempre tão bem caracterizadas quanto gostaríamos. E com isto está relacionado o aspecto pós-apocalíptico da história, que fica muito mal contextualizado nesta primeira temporada. As referências, quer nos cenários, quer nos diálogos, são esporádicas e sem fundamentação, muitas vezes completamente despropositadas e quase cómicas pelo ridículo. Outras vezes, são tão desnecessárias, que nem damos por elas. A meu ver, essa componente era perfeitamente dispensável na série, apenas pela forma como (não) foi tratada.
O ritmo do desenrolar dos acontecimentos é acelerado, o que poderia tornar a visualização menos enfadonha, mas torna-se rápido demais e contribui para a falta de profundidade na adaptação da história – que nos livros obviamente se adivinha muito mais trabalhada e complexa – e despoleta uma reacção em cadeia que se alastra a tudo, desde a banda sonora às personagens.
A banda sonora consiste só em música actual, fazendo mais sentido uma vezes do que outras. O exemplo mais caricato desta falta ocasional de… atenção… na escolha das músicas está no episódio final, quando numa cena de batalha, em que o exército do inimigo marcha no nosso ecrã, surge em pano de fundo a música Run Boy Run de Woodkid, ou seja, enquanto visualmente nos tentam incutir perigo e ameaça, a música que ouvimos é alegre e divertida, e o contraste é abismal.
As personagens, por outro lado, surgem um pouco díspares, apesar de depois se terem de reunir numa única missão, de salvar o mundo dos demónios e de um segundo Apocalipse. No centro da acção temos Amberle (Poppy Drayton), o híbrido elfo-humano e não muito inteligente Will Ohmsford (Austin Butler), que tem em quase todos os episódios um momento-nudez, e a humana e ladra Eretria (Ivana Baquero), que nos vão tentando dar a conhecer ao longo dos episódios, apesar de várias atitudes contraditórias ao longo do tempo, mas que depois removem da história, completamente sem aviso, no início do episódio final.
Com este trio de actores verdadeiramente teen, não seria de esperar que as melhores prestações ao nível da interpretação viessem dos actores mais velhos. Estes três actores centrais foram provavelmente escolhidos mais pelas suas caras bonitas. Mas de qualquer forma, o guião também não lhes devia dar muita informação de como aprofundar a sua interpretação, e por isso ficamos com um grupo de adolescentes vazios de grandes emoções.
James Remar aparece em poucos episódios, como Cephalo, o “pai” da Eretria e líder da sua tribo, mas dá-nos um excelente antagonista e deixou marcas nas cenas onde entrou. Manu Bennet (dos filmes do Hobbit), o adorado druida feiticeiro tatuado que está constantemente a salvar Will e Amberle com a sua mega espada mágica – Allanon -, é resistente, carismático e dominante. Por fim, John Rhys-Davies faz uma agradável mistura de emoção e rabugice-devido-à-idade na pele do rei elfo Eventine Elessedil, avô da Amberle, e a sua saída de cena é fortemente reflectida na falta de tensão que sentimos, apesar do drama supostamente cada vez se adensar mais.
Sem me esquecer do guarda-roupa, acho que é um dos pontos-fortes da série, e onde se vê que perderam algum tempo. Os fatos dos elfos, dos soldados, e todas as armaduras em geral são todos adaptações modernizadas de armaduras medievais, em pele e com pormenores em metal que retratam bem a raça a que pertencem. As elfas têm jóias prateadas nas pontas das orelhas que são um must para quem aprecia este género de detalhes. O Will anda sempre a despir-se, por isso a roupa, quando a tem, não varia muito.
Com tudo isto dito, é preciso ter em mente que a série foi desenvolvida pela MTV, para o público da MTV (apesar de em Portugal ser transmitida pelo canal MOV). Os adolescentes telespectadores da MTV provavelmente ligam mais às caras dos actores, às roupas e à banda sonora (afinal, supostamente, acho que ainda é um canal de música), do que propriamente à construção das personagens ou profundidade com que a história é relatada. Para quem já passou a adolescência há alguns anos, confesso que a série já se estava a tornar enfadonha de ver, e não fiquei com grande vontade ou expectativa para uma segunda temporada, se for para mais do mesmo.
O que é que gostaram mais nesta série pioneira na fantasia televisiva?
Fantasia
Magia
Guarda-roupa
Ritmo acelerado dos acontecimentos
Interpretações de Manu Bennet e John Rhys-Davies
Tratamento apressado e superficial dos acontecimentos e personagens
Interpretações dos actores mais jovens
Falta de contextualização dos elementos pós-apocalípticos
Banda sonora nem sempre adequada