Não é surpresa nenhuma saberem que além de redator do Cubo Geek, também sou um dos organizadores do MCE (Manga and Comic Event) e sou o criador do grupo Facebook: Huenime. Estando presente em tantos mundos diferentes, tenho muita interação com pessoas, de valores e faixas etárias muito diferentes. Ao longo dos tempos tenho notado uma coisa: será que temos de gostar sempre do mesmo? Por exemplo, com o primeiro Crónicas de um Gamer, reparei um pouco isso quando falei da criação de personagens, e muito ao leve, de uma maneira indirecta, dizer que não gosto dos jogos da Bethesda. Sim, agora é oficial, muito dificilmente devo contar mais um Natal com estas afirmações.
Mais uma vez volto a referir, estes textos não são críticas ou algo do género, são apenas visões de alguém que acompanhou de perto a evolução dos videojogos, desde os tempos que suspirámos com os sprites das pernas da Chun Li em Street Fighter II (sim esta senhora foi a minha primeira gamer crush), até aos nossos dias. Acreditem, eu sei que jogos como Fallout 4 (mesmo com as suas falhas), Dishonored (venerado por uma amiga minha) e Skyrim têm imenso valor, e merecem todos os elogios, contudo eu não consigo gostar de nenhum deles, mesmo que sejam amados por toda a gente.
Eu sei que pode soar um pouco estranho, devem estar bastante incrédulos e dizerem “mas tu devias gostar de Skyrim, pelo ambiente, sonoplastia e grafismo”, isto no papel claro. Verdade seja dita, nunca senti aquele click e passar horas a fio jogando este tipo de jogos, e mais conheço gente que apenas joga Skyrim, afirmando que é sempre uma experiência nova e gratificante.
Não apreciar um jogo venerado pelas massas pode acontecer devido a vários factores. Logo à partida, penso que a visão seja o mais importante de todos, por exemplo, eu não tenho problemas em jogar jogos onde a arma de uma personagem seja um guarda-chuva ou uma frigideira, ao passo que por ser incrivelmente irrealista e estúpido, muita gente à partida nem lhes olha. No entanto, um jogo demasiado sombrio e muito sério, também contribui para que ache logo aborrecido à partida.
Outro factor que pode também ser determinante são as suas mecânicas mesmo dentro do seu género. Temos duas comparações tão iguais, mas ao mesmo tempo tão diferentes aqui, as séries Gran Turismo e Forza Motorsports, dois simuladores de condução. Enquanto Gran Turismo tenta ser incrivelmente fiel, ao ponto de até teres de tirar licenças de condução, limitou a minha experiência e divertimento. Ao passo que vejo Forza Motosports como um simulador bem diferente, incrivelmente personalizável e repleto de dezenas de opções, desde vinyls para decorarmos os nossos carros como até leilões online. Também o voltar atrás retificando o nosso erro e linhas delimitadoras de velocidade e travagem, contribuíram para uma experiência de jogo mais divertida, para alguém casual como sou em simuladores de condução.
Podem então pensar que acho que Gran Turismo é um jogo mau, enganam-se. Gran Turismo é um jogo muito bom, porém o seu público é diferente, e aqui chegamos a um ponto determinante quando falamos neste assunto: o seu público-alvo. Muito brevemente falarei aprofundadamente deste ponto num futuro Crónicas de um Gamer.
O inverso também é possível. Alguns títulos, devido a uma visão diferente, são maltratados injustamente. Nier foi um desses casos. Não é de todo uma super-produção nem nada que se pareça, mas muita gente assim que viu o seu grafismo disse “Quê isto mó jogo de Playstation 2?” Giro é agora, devido a Nier Automata, muita gente surgiu interessada e o joguinho subvalorizado que tanto desprezaram custa agora uma boa maquia. Outro caso que acho muito surpreendente é o de Dragon’s Dogma, que nem sei bem qual é o seu valor. Muitos criticam, outros adoram, e eu não consigo achar um meio-termo, porque é bom ou porque é mau.
Com os jogos da Bethesda eu simplesmente não consigo expressar-me porque não me atraem. Simplesmente acontece. O mesmo posso dizer-vos de God of War e Devil May Cry (com o Dante albino e a dizer bocas foleiras), onde não gosto nada do primeiro jogo, mas adoro bastante o segundo, e ambos são basicamente o mesmo molde. Ou Uncharted e o reboot de Tomb Raider, na mesma situação.
Não gostar da mesma coisa não significa que seja má. Claro que existem aqueles casos de jogos como o E.T., Sonic 06 ou Superman 64 (que não deve existir alma viva que goste especialmente deste último), que foram muito criticados, no entanto conheço alguém que gostou de Sonic 06, porque será? Será um caso de guilty pleasure? Talvez, e também certamente, será um tema que poderá ser falado nestes textos brevemente.
O problema é quando temos de confrontar colegas e amigos sobre os nossos gostos. Se são jogos de massas e bem-amados pela comunidade, como os jogos já referidos acima, muita gente deve achar que sou louco, e inclusivé afasta-se. Quando existe uma razão para não gostar, peço-vos para serem sempre verdadeiros convosco mesmos, e eu sei que e difícil, mas as pessoas são feitas de diferentes gostos e vivências, e essas vivências estão intimamente relacionados com os nossos gostos. Por exemplo, eu gosto de jogos como histórias bem contadas, como se fossem contos interativos. No caso de jogos em mundo aberto, sem enredo, onde não existe sequência lógica de acontecimentos, essa liberdade acaba por ser o ponto negativo para mim. O mesmo posso dizer de GTA, onde simplesmente a história é demasiado comum e corrente. No final temos simplesmente de ter apenas uma pequena afirmação bem consciente: “Videojogos são obras de arte em formato digital que devem ser apreciadas pela forma com que foram criadas”.