Crítica | The Dark Knight III: The Master Race #3

As melhores histórias conseguem desafiar e perturbar o leitor, e ao mesmo tempo ficam com eles muito tempo depois de acabarem de as ler – e em The Dark Knight III: The Master Race #3, Frank Miller, Brian Azzarello, Andy Kubert, Klaus Janson e John Romita Jr. tentam conseguir fazer isso tudo.

A história começa a tocar em temas que se podem encontrar na novela gráfica de 2011 de Miller, Holly Terror, e – mesmo não sendo tão óbvia como esse livro anterior – é impossível negar que os criadores desta banda-desenhada não vão tomar o caminho mais fácil. Para quem conhece Miller e as suas ideologias, então não é surpreendente que ele e Azzarelo tenham revisitado o extremismo religioso dos Kryptonians de Kandor City. O par evita uma representação balançada dos Kryptonians – eles são todos seres repreensíveis que seguem o líder do seu culto cegamente, dispostos a morrer pela sua causa, o que acaba por fazer este um livro completamente desprovido de zonas cinzentas; é tudo preto ou branco, um conflito entre aqueles que são bons e aqueles que são mais. A verdade é que um pouco mais de nuance não ficava mal.

Miller e Azzarelo também transmitem um sentimento de desilusão com a política do mundo de hoje em dia – as “cabeças falantes” a reagirem às atrocidades cometidas neste fascículo são obviamente as figuras políticas atuais, mesmo que não sejam identificadas por nome.

O que The Dark Knight III: The Master Race #3 tem de excelente é a relação entre Bruce e Carrie – esta é a primeira vez nesta série que se tem um vislumbre do que vai dentro da cabeça do velho Batman, já que ele narra algumas das primeiras páginas –, e é delicioso ver Bruce a preocupar-se com a sua protegida. Ele continua a fechar a sua alma às outras pessoas, mas Carrie é capaz de escavar mais fundo do que qualquer outro antes.

A arte de Kubert e Janson mantém-se perfeita, continuando a ser uma parte muito importante da série, e momentos como uma expedição em tempo frio funcionam devido à forma como o par desenha a cena. A arte da mini-banda-desenhada no fim, com esboços de Romita Jr. e acabamentos de Miller é muito menos refinada – o que não é mau, uma vez que a história sobre o Lanterna Verde também é menos refinada. Os visuais têm o estilo de Romita, com designs finos e alongados, mas os acabamentos de Miller fazem desaparecer a maior parte dos detalhes do lápis de Romita, o resultado sendo praticamente estranhos blocos. Isto funciona no início da história, mas acaba por se tornar pouco impressionante mais para o fim.

Há definitivamente aspetos bons em The Dark Knight III: The Master Race #3. Em geral, este é um livro que tem a intenção óbvia de chocar os leitores, e é exatamente isso que faz. Mas, por outro lado, é preciso haver alguma subtileza ou a série vai acabar por se tornar numa paródia ou polémica gratuita – a imagem dos Kryptonias assemelha-se demasiado com extremistas do Médio Oriente, e não se quer que esta banda-desenha siga pelo mesmo caminho desastroso que Holly Terror, por isso as coisas vão ter que se tornar mais pragmáticas e pensadas em fascículos futuros.

Por enquanto The Dark Knight III: The Master Race #3 continua uma leitura interessante e que vale a pena seguir, mas está-se a tornar difícil ignorar estes sinais de aviso.

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