Crítica | The X-Files: Ficheiros Secretos – 10ª temporada

Ficheiros Secretos marcou uma geração inteira, e faz parte da cultura televisiva do mundo inteiro. A série foi um marco nos anos 90, e o seu legado dura até hoje. Dois spin-offs, dois filmes, uma banda desenhada, jogos, e livros perpetuaram Ficheiros Secretos para além da sua série original. Foi com imensa alegria que os fãs receberam a noticia de que Ficheiros Secretos iria regressar numa mini-série de seis episódios e traria de volta todos os intervenientes da série original. Foi um sonho tornado realidade, que depressa se tornou azedo.

A 10º temporada respeita a passagem do tempo e oficializa os dois filmes. Vemos Mulder e Scully 10 anos depois da série original e 8 anos depois do último filme. Os dois juntam-se a pedido do FBI para investigar as alegações de uma personalidade da televisão que afirma estar em curso uma conspiração do governo que envolve os alienígenas. Até aqui tudo bem, e continuaria a estar tudo bem se a temporada não se desviasse do seu arco narrativo para nos presenciar com episódios deslocados e que não acrescentam nada à mini-série.

Não quero ser mal interpretado. Todos os episódios foram bons, à excepção do quinto, mas sendo esta uma temporada de apenas seis episódios, todos têm de ter uma coerência ou então perde-se em referências, e no fim ficamos com uma mini-série sobre nada. Foi isso que aconteceu com Ficheiros Secretos. A temporada começa com uma boa história, interessante e cativante, que se desintegra durante três episódios. Esses três episódios trouxeram boas histórias e bastantes referências, que seriam bem vindas se tivéssemos perante uma temporada convencional. Chris Carter dividiu-se entre contar uma história nova e refrescante, e celebrar a nostalgia, remetendo os fãs aos episódios de antigamente. Essa divisão ríspida prejudicou o balanço da mini-série, fazendo com que tivéssemos uma temporada fracturante. Por um lado tínhamos a nostalgia e as referências, por outro lado tínhamos o novo, o seguir em frente. Chris Carter falha em não saber balancear esses dois aspectos.

Todo o elenco retorna de forma irrepreensível, tal é a perfeição com que representam os seus papéis. Parece que nunca os deixaram de interpretar. David Duchovny e Gillian Anderson voltam a ser a dupla central de Ficheiros Secretos e não há nada a apontar às suas interpretações. Ao mesmo tempo que volta de forma magistral com o seu elenco original, a série apresenta um conjunto de personagens que prometem cair nas boas graças dos fãs se forem bem desenvolvidas no futuro. Mas por outro lado houve voltas de personagens que não tiveram o mesmo impacto, ou não foram aproveitadas da melhor maneira. Smoking Man é bastante subaproveitado, tal como são os The Lone Gunmen, que aparecem de forma bastante rápida servindo apenas como fan service.

A 10ª temporada volta de forma irrepreensível em vários aspectos. O elenco está perfeito, o tom está perfeito, os monstros da semana estão perfeitos e a justificação para haver uma 10º temporada também está perfeita. Mas tudo se desmorona no planeamento dos seis episódios, que deviam ter sido seis partes de uma mesma história. A palavra chave desta temporada é coerência. Neste caso, a falta da mesma. Faltou coerência, faltou algo que unisse tudo num só caminho. E mesmo tendo episódios perfeitos, cada um à sua maneira, a falta de coerência é suficiente para afundar a volta de Ficheiros Secretos e minar todas e quaisquer expectativas dos fãs. 10 anos de espera mereciam um pouco mais de consideração. Pedíamos mais de Ficheiros Secretos. Suportar todo o peso e bagagem de uma séria icónica como esta em apenas fan service, não chega.

É prematuro apontar o dedo a alguém, porque a forma como acaba o sexto episódio exige uma 11º temporada e não sabemos para onde a série irá no futuro, mas é seguro afirmar que Ficheiros Secretos padece do mesmo mal que assombrou Star Wars. O seu criador. Chris Carter, apaixonado pela sua criação, não consegue rejuvenescer Ficheiros Secretos. Em vez de apostar num novo arco narrativo que puxasse as personagens para a frente, Chris Carter opta por piscar o olho ao passado e planear a 10º temporada como uma homenagem aos tempos idos.

Ficamos assim com uma temporada que tem os elementos perfeitos, mas que se conjugam de maneira errada. No fim, em vez de termos uma mini-série com relevância para o grande universo de Ficheiros Secretos, temos um desfilar de quadros comemorativos da série original e a promessa de que grandes e grandiosas coisas virão no futuro. Mas o futuro é agora e a expectativa não se alimenta de promessas não cumpridas.

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