O filme Capitão América: Guerra Civil faz muita coisa. Explica as consequências de filmes anteriores, termina o arco narrativo do Capitão América, põe as personagens do Universo Cinemático Marvel (MCU) umas contra as outras, conta uma excelente história acerca de liberdade, controlo, amizade e vingança, consegue fazer malabarismo com uma dúzia de personagens ao mesmo tempo e estabelece o tom para a restante Fase 3.
No meio disto tudo, ainda consegue introduzir-nos um dos melhores heróis da Marvel até agora: o Pantera Negra.
O Pantera Negra estreia-se nas bandas desenhadas em 1966 como personagem secundária do Quarteto Fantástico. Pantera Negra tem a honra de ser o primeiro super-herói de raça negra da história, sendo que antes dele eram raros os heróis negros, nenhum dos quais tinha super-poderes. Contrariamente ao que se poderia pensar, o seu nome precede o surgimento do movimento político, o Partido dos Panteras Negras, um grupo activista que começou por participar na luta dos direitos civis, mas que mais tarde acabaria por recorrer à violência e ao crime. O seu nome poderá estar relacionado com um batalhão de tanques segregado da Segunda Guerra Mundial, que recebeu a alcunha dos Panteras Negras.
Tanto na banda desenhada como no MCU, o Pantera Negra é originário do Reino de Wakanda, um país africano fictício, considerado um dos países mais ricos e tecnologicamente avançados do mundo. O seu desenvolvimento deve-se sobretudo aos vastos depósitos de Vibranium, um metal raríssimo com características únicas, e ao facto de que o país nunca foi colonizado pelos ocidentais, criando assim uma poderosa mensagem acerca do colonialismo africano.
Exactamente por causa disto, Wakanda já tem andado no radar da SHIELD há vários anos, aparecendo em vários mapas espalhados nos filmes, e foi mencionada pelo nome pela primeira vez no filme Vingadores: A Idade de Ultron (2015), a propósito de Ulysses Klaue ter roubado uma grande quantidade de Vibranium.
Em Capitão América: Guerra Civil, é T’Chaka, o Rei de Wakanda, que propõe às Nações Unidas a criação dos Acordos de Sokovia após alguns wakandianos serem mortos nos danos colaterais de mais uma missão dos Vingadores.
T’Chaka faz-se acompanhar do seu filho T’Challa, interpretado por Chadwick Boseman, para ir discursar e argumentar a favor dos Acordos. Estas cenas iniciais que mostram a relação entre T’Chaka e T’Challa estão brilhantemente escritas e filmadas, sendo um fantástico exemplo da máxima do cinema show-don’t-tell. Em apenas meia dúzia de minutos, o diálogo e a interacção entre estas duas personagens são suficientes para nos demonstrar a fortíssima relação de amor e confiança que existe entre pai e filho.
As interpretações dos dois actores enquanto interagem, a maneira como se abraçam, o olhar de amor e orgulho com que T’Chaka olha para o seu filho transmitem imensa genuinidade e a força da relação entre estas duas personagens. Adorei especialmente quando falam um com o outro na sua língua nativa, e sobretudo quando dizem “Obrigado” um ao outro. A maneira como a fala é interpretada dá-nos a entender que é uma troca ritual, provavelmente típica de Wakanda. Esse momentozinho traduz imenso da cultura Wakandiana e da relação entre pai e filho. É um excelente momento de escrita.
É exactamente a força destes momentos que torna credível que, quando T’Chaka é assassinado, aparentemente pelo Bucky Barnes, T’Challa perca a cabeça e fique sedento de vingança.
“Do not bother Miss Romanoff. I will kill him myself.”
Porque o que as outras personagens não sabem até esse momento, é que o Rei de Wakanda não é apenas um monarca, é também o seu principal guerreiro e defensor, assumindo o papel quase místico do Pantera Negra.
E o Pantera Negra é tão, mas tão fixe!
Para começar o Pantera Negra tem capacidades sobre-humanas, força, velocidade, agilidade, durabilidade, que rivalizam com as do Capitão América. Vemos isso sobretudo na cena de perseguição nos túneis, em que o Pantera Negra consegue correr atrás do Bucky que vai numa mota e ainda assim apanhá-lo. Mesmo o seu estilo de luta é perfeitamente distinto de todos os outros, baseando-se mais na velocidade e agilidade, e tornando-o muito interessante de ver nas grandes lutas que acontecem várias vezes durante o filme.
Não ficamos com a certeza absoluta sobre se estas capacidades são intrínsecas a T’Challa ou ao fato que ele usa. O fato do Pantera Negra parece uma espécie de cota de malha medieval feita de Vibranium com padrões tribais desenhados. Adorei a maneira como sempre que o Pantera Negra aterra não faz um único som! Para além disso, consegue deflectir balas como se nada fosse e tem garras de Vibranium capazes de riscar o escudo do Capitão América.
Mais impressionante que isto tudo é a atitude do Pantera. Ele é um Rei, é badass e sabe disso.
Durante todo o filme a sua fixação em matar o Bucky Barnes leva-o a entrar em conflito com as outras personagens, independentemente de quem se ponha no seu caminho. A força do seu carácter e a sua determinação são perfeitamente caracterizados desta forma, sem que nunca se torne exagerado.
No entanto, no fim, quando descobre que não foi o Bucky Barnes que matou o seu pai, é capaz de perceber que estava a perseguir o homem errado e que a morte de Bucky não ganharia nada a ninguém. Quando descobre que Helmut Zemo foi o responsável por colocar a bomba que matou T’Chaka, o Pantera Negra decide não o matar.
“Vengeance has consumed you, it’s consuming them… I’m done letting it consume me.”
No fim, T’Challa oferece asilo ao Capitão América e à sua equipa, agora criminosos procurados pelo governo, em Wakanda. A tecnologia avançada do seu país é usada para voltar a congelar Bucky, com a esperança que este possa ser curado da influência da HYDRA e temos um vislumbre de uma massiva estátua de uma pantera esculpida em obsidiana negra.
Portanto, o Capitão América: Guerra Civil, com tudo o que já tem a acontecer, consegue introduzir o Pantera Negra, mostrá-lo como uma das personagens mais badass do MCU, dar-lhe essencialmente uma história de origem e um arco narrativo perfeitamente coerentes e dar-nos um vislumbre de Wakanda.
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