Enquanto estava a relaxar à frente da minha SNES Mini, eu ia disparando ideias para o ar de séries que estavam incluídas na consola para escrever no Histórias de Um Pixel desta quinzena. Kirby? Toda a gente gosta de um balão cor de rosa. F-Zero? Eu bem gosto de um videojogo de corridas futurista pela manhã. Olha já sei, porque não escolher algo que inclui todas elas? Mais exactamente, vou escrever sobre a franquia que começou como uma pequena festa de tudo o que faz parte da Nintendo e agora é um monstro que celebra todo um mundo dos videojogos numa valente sessão de pancadaria.
Estou a falar de Super Smash Bros., uma série de fighters com elementos de party game. Afinal não há outra franquia onde podemos por o Mega Man, Pac-Man, Sonic, Ryu, Cloud Strife e muitos mais à porrada uns com os outros. Vamos então dar uns passinhos atrás no tempo até 1999 e fazer uma visita muito breve à primeira iteração desta franquia dos diabos na Nintendo 64.
A primeira vez que soube deste videojogo foi através de um anuncio televisivo e, como outros na altura, foi algo que fez algum impacto. A sequência começava com Mario, Yoshi, Donkey Kong e Pikachu de mãos dadas. Do nada Mario faz uma rasteira ao amigo e chateados desatam todos a espancarem-se uns aos outros. Chegando até ao ponto de atirarem o rato eléctrico pelo ar como se fosse o arremesso do peso numa competição atlética. Pode não parecer nada de especial nos dias de hoje, onde já estamos bem cientes deste conceito, mas é de lembrar que a Nintendo sempre foi uma companhia com uma imagem muito familiar (pelo menos nos tempos modernos, aquilo já tem mais de uma centena de anos). Na altura era como se víssemos o Mickey, o Pateta e o Donald a baterem uns nos outros de forma violenta. Era realmente chocante!
Mas isso era a publicidade ocidental. O videojogo em si como é de esperar é mais brando na imagem que o que quer passar para fora. A abertura mostra tudo o que é preciso saber, uma luva branca vai buscar duas personagens a uma arca de brinquedos e coloca-os numa secretária. A mesa transforma-se numa arena e as personagens ganham vida. Todo o pacote é apresentado como se fosse a imaginação de uma criança, com um ambiente cómico e colorido. Facto que deve ter agradado (ler: “enganado”) vários pais e executivos de gravata.
A jogabilidade segue a mesma filosofia que é muito diferente de um fighter normal. Em vez de tentar por o adversário inconsciente, o objectivo é lançá-lo para fora da arena. No lugar de uma barra de vida, temos um número com o dano recebido, cujo valor representa o quão fácil é arremessar a personagem. Os ataques especiais não requerem grandes combinações de teclas e existem vários truques simples, como saltos, para escapar da derrota. Com vários objectos para usar espalhados pelo campo, como martelos ou bombas e tendo 2 a 4 personagens em campo, ficamos com a receita ideal para o puro caos.
Mas como é óbvio o maior detalhe que salta a vista é o elenco. Está longe da loucura que existe nas sequelas, mas o leque de opções era realmente algo inédito. Mario, Yoshi e Luigi de Super Mario Bros., Dokney Kong, Link de Legend of Zelda, Kirby, Pikachu, entre outros… Visitantes de várias franquias da Nintendo, muito diferentes um dos outros tanto em género como seriedade, mas o conceito foi tão bem planeado em termos de consistência que parece que esta malta vem mesmo toda da mesma laia. Isto é feita de maneira em que ninguém tenha perdido a sua identidade própria, usando sempre truques e habilidades que todos tinham originalmente (bem, quase todos…).
O Boss final do modo single player, também era extremamente original: a tal luva branca que falei há bocado que representa a mão do jogador. Esta tecnicamente é uma “personagem” de videojogo. O ícone de selecção que existe em vários menus por aí fora.
Um pormenor importante que pouca gente fala, é o quão fantástico o Smash é como ferramenta publicitaria e digo isto a nível pessoal. Eu que sempre fui um miúdo mais ligado aos produtos da companhia rival, a Sega, na altura pouco conhecia o universo da Nintendo. Quando tive o jogo pela primeira vez nas minhas mãos, o que toda a gente queria ver era o Pikachu e tudo o que era Pokémon.
Afinal isto tinha sido na altura em que toda a rapaziada ainda estava maluca com o anime (que era uma valente porcaria que nunca ia a lado nenhum, sejamos sinceros) e com o Red & Blue. No modo multi jogador o pessoal ia sempre à arena da Saffron City ver que monstros saiam do edifício da Silph e atirar o item da pokéball uns aos outros com o mesmo propósito. E claro, lançar os raios nós próprios estando na pele da mascote em vez de escolher comandos num ecrã monocromo.
Eu estava no mesmo barco, na altura a aventura por Kanto era realmente o jogo que mais tinha jogado no meu Gameboy Color, a única consola da Nintendo que tinha. E o facto de também ter jogado Super Mario Bros., The Legend of Zelda: Awakening e Donkey Kong Land, ajudava a reconhecer bem o Donkey Kong, Link e por ai fora. Mas o resto do pessoal começou a chamar a atenção, por exemplo Kirby que conseguia absorver as habilidades dos adversários ganhando um chapéuzinho novo a condizer, uma característica da jogabilidade original que me fez interessar imenso em pegar nesta série de plataformas em primeiro lugar.
Mas os dois casos mais extremos eram uma figura robótica chamada Samus com um canhão como braço e que se conseguia transformar numa bola e um sujeito chamado Captain Falcon que gostava muito de gritar o seu nome enquanto dava uns murros e pontapés. Quando eu era pequeno sabia lá que havia uma pessoa dentro daquele robô, muito menos uma mulher e nada naquele sujeito de capacete me indicava o que ele fazia na vida. Mais tarde joguei Metroid: Zero Mission e F-Zero, que se tornariam em dois dos meus videojogos favoritos de sempre.
Os Super Smash Bros. são realmente verdadeiros cavalos de Tróia que me fizeram a mim cada vez mais um fã da Nintendo. E a ti também, quer te tenhas apercebido ou não! Se o pessoal não tivesse conhecido aquele rapazinho misterioso com poderes psíquicos na altura, duvidaria que tivesses jogado EarthBound aqui na Europa. Ou nunca terias a sequer a oportunidade de jogar Fire Emblem em inglês! E com as sequelas, cujas personagens já não são exclusivamente da Nintendo, já vi outros casos com séries de outras companhias, como uma pessoa ou outra a interessar-se por Bayonetta. Portanto levantemos o copo e vamos agradecer ao videojogo que de uma forma ou outra fez os gamers cada vez mais gamers.