Aqui vamos quebrar as duas primeiras regras do Clube.
O livro original de Clube de Combate foi muitas coisas – uma sátira violenta da cultura moderna não consumerista e o mal-estar dos subúrbios, uma dissertação sobre como salvar o mundo ao deitar-lhe fogo, e foi um veículo para transformar numa estrela o escritor Chuck Palahniuk e a sua voz distinta; e até inspirou um filme que aumentou a carreira de Edward Norton e estabeleceu os abdominais de Brad Pitt como uma das Maravilhas do Mundo.
O que o livro tinha de melhor que o filme – embora este seja um dos raros casos em que muitas pessoas consideram o filme melhor do que o livro – é que apesar de este rejeitar uma vida tradicional e superficial, criticava também a comum híper-masculina rejeição de uma vida tradicional e superficial. As personagens encontravam um escape do mundano dia-a-dia através da violência, mas também eram céticos se a violência seria realmente um escape.
E isto nota-se mais no fim, uma das maiores diferenças entre o livro e o filme.
No filme, o Narrador derrota Tyler Durden e reúne-se com o seu interesse amoroso Marla, mas nada muda – a massiva destruição de Durden acontece na mesma, e até há uma implicação nas falas finais que o mundo vai ficar melhor por causa disso, que a violência realmente era a solução. O livro, por outro lado, acaba numa forma mais negra, apesar de a destruição não chegar a acontecer – é implícito que Durden ainda vive, algures no subconsciente do Narrador, e que os seus seguidores vão fazer todos os possíveis para o trazer de volta e continuar com a sua missão.
Deve ser por isso que esta nova sequela em forma de banda-desenhada, com dez fascículos, continua a história do livro em vez da do filme.
A história de Fight Club 2 leva o leitor até dez anos depois – o Narrador agora dá-se pelo nome de Sebastian, e leva uma vida confortável de casado com o interesse amoroso do livro e do filme, Marla, e juntos têm um filho de 9 anos. Mas é logo bastante óbvio que ele não está feliz – está novamente a trabalhar num emprego insatisfatório, mas agora tem que lidar também com um casamento sem paixão, e um amor oscilante pelo seu filho. Isto só faz com que agora haja uma nova dinâmica nas vidas dos protagonistas. Mesmo com os medicamentos, e uma família, Sebastian está de novo a lutar com a sua situação atual, a sua vida atual – está de novo a lutar com a sua natureza dupla.
Sem entrar em demasiados pormenores que possam arruinar a experiência para novos leitores, basta apenas dizer que tudo fica pior para Sebastian devido a uma simples verdade – Marla pensa que Sebastian é aborrecido; tem saudades de Tyler Durden e do sexo espetacular; tem saudades de quando Sebastian era instável mentalmente; tem saudades «daquele homem maluco por quem me apaixonei.»
E ela está disposta a tudo para o ter de volta – incluindo substituir a medicação do marido por aspirinas.
E sem dúvida que foi uma excelente escolha focarem Fight Club 2 em Sebastian e tornarem-no finalmente na personagem principal. A história prende-se mais em Tyler Dursden, tanto no livro como no filme – embora nesse último se perceba melhor, é difícil escapar ao carisma de mauzão de Brad Pitt – ao ponto em que Sebastian nem sequer recebe nome, conhecido apenas como o Narrador. E apesar da arte promocional para Fight Club 2 também se focar bastante no regresso de Tyler, desta vez ele tem que passar por Sebastian primeiro, e agora que este é um pai e um marido, ele não será tão facilmente derrotado – mesmo com a sua mulher a apaixonar-se pela sua contraparte subconsciente, e com um filho confuso e que acaba desaparecido, Sebastian chega-se à frente e luta para manter o controlo sobre a sua vida e a sua família.
O que esta sequela tem de melhor – além da escrita característica do autor original Chuck Palahniuk – é a arte de Cameron Stewart. O trabalho de Stewart segue numa direção particularmente porreira e metaficcional, com comprimidos – ou outras coisas, como pétalas de rosas – sobre a banda-desenhada, cobrindo por vezes partes do diálogo e partes de desenhos. Pode ser uma leitura frustrante para alguns mas é um espelho da cabeça enevoada de Sebastian que funciona muito bem. E apesar das personagens não terem qualquer parecença com as dos filmes – e isto sendo uma sequela ao livro, porque teriam? – cada uma delas é imediatamente reconhecível, e são todas muito bem definidas.
Assim, escrito por Chuck Palahniuk e desenhado por Cameron Stweart, Tyler quer mesmo voltar a viver – e é absolutamente recomendável aos fãs de Clube de Combate lerem esta banda-desenhada, para descobrirem qual exatamente é o seu novo plano, a nova visão que tem e que está pronto a soltar sobre as massas.
O sexto fascículo ficou à venda esta semana.
Fight Club 2 vale o vosso tempo e o vosso dinheiro.
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